Deux Généreaux VIII.

A pacificação da nação francesa se dera mediante um processo de ampla aprovação popular, afinal o povo se cansara das promessas vazias e da insegurança de aventuras inconseqüentes. De Gaulle conduzia agora uma política externa tentando resgatar a velha grandeza francesa no contexto mundial, seriamente abalada com o revés da 2ª Grande Guerra e da conseqüente perda de seu vasto império colonial.

 

Se no plano interno a execução, por fuzilamento, dos responsáveis pelo atentado de Petit-Clamar, revela uma política intolerante com a divergência, no plano externo o general procura se distanciar dos dois pólos, URSS e EUA, que se antagonizavam ensejando a chamada guerra fria.

 

A França, palmilhando uma posição mais independente, passa a liderar no contexto europeu uma série de acordos, iniciados com a República Federal da Alemanha e seu Chanceler Adenauer, em demanda do que seria o Mercado Comum Europeu, base da união comercial e política de uma Europa forte e competitiva.

 

Caricatura mostrando a importância francesa após a bomba tômica. “Antes me ignoravam, agora…”diz De Gaulle entre os dois gigantes, o presidente russo e seu colega americano, que se tornam reduzidos no tamanho.

 

À parte isso, e a exemplo dos EUA, da URSS, e da Grã-Bretanha, a França se empenhava no desenvolvimento de sua indústria bélica, fabricando aviões e foguetes, e ingressando no seleto grupo de nações detentoras de armas nucleares com a explosão de sua primeira bomba atômica, em 13 de fevereiro de 1960, em Reggane no Saara argeliano.

 

 

Sobre esta bomba atômica francesa, muitas críticas foram realizadas pelos eternos pacifistas e pelos políticos da oposição.

 

 

A estes, De Gaulle respondeu, segundo a perspectiva vigente que pressentia uma futura guerra do ocidente contra a URSS: Em dez anos, dizem que teremos que matar 80 milhões de russos. Bem, eu creio que não podemos atacar convencionalmente para matar 80 milhões de russos, a menos que possamos perder 800 milhões de franceses, supondo que tivéssemos 800 milhões de franceses”.

 

O caricaturista alemão Fritz Behrendt ilustra o novo status da França na cena mundial com a explosão nuclear de 13 de fevereiro de 1960 no Saara argelino.

Entre os maiores críticos internos do programa nuclear francês estava o líder dos Socialistas, François Miterrand. O futuro presidente Miterrand era então um dos mais irônicos, virulentos e sarcásticos oponentes ao programa nuclear, menosprezando tal esforço como um sonho infantil de possuir uma “bombinette”, uma bombinha, um brinquedinho de soldados.

 

Em resposta De Gaulle não se recusou ao prazer, irônico também, de confiar a supervisão do projeto atômico-nuclear a um irmão do Deputado Miterrand, o engenheiro Jacques Mitterrand. Assim, dizia o general « o que um critica, o outro assegurará ».

 

Desnecessário dizer que o papel dos americanos diante do programa nuclear francês foi bastante estranho, primeiro porque fortemente hostis, como era esperado, mas depois o menosprezou, concluindo que a França não seria páreo para tal desafio tecnológico.

 

Quando, porém, novos experimentos aconteceram em 1963, e a França apoiou os Estados Unidos nas crises do muro de Berlim e dos mísseis em Cuba, a postura americana mudou, tendo inclusive o presidente John Kennedy prometido dar à França mísseis polaris como o fizera à Inglaterra.

 

Mas, De Gaulle recusa a oferta. Prefere que a França construa, ela própria, as suas armas; deseja ter independência material e tecnológica em termos de armamentos defensivos.

 

Tal reação surpreendeu os americanos e a Inglaterra de MacMillan. Seria um novo reacender do secular e rotineiro antagonismo anglo-francês? Estaria a França tentando retornar aos limites do Império de Carlos Magno e ocupar a ilha que fora sua desde a invasão normanda de Guilherme o conquistador, nos idos distantes do século XI?

 

De Gaulle não teve convivência pacífica com os presidentes americanos Roosevelt, Truman, Eisenhower e Kennedy, sobretudo o primeiro que resistiu ao máximo sua liderança à frente da França combatente.

A questão nuclear francesa, o veto gaulista ao ingresso da Grã Bretanha no nascente Mercado Comum Europeu envenenaram as relações anglo-franco-americanas durante os anos 60, só vindo a melhorar quando da assunção de Richard Nixon, o primeiro presidente americano simpático a De Gaulle.

 

Na verdade esta convivência com os presidentes americanos nunca fora fácil; com nenhum deles, a começar por Franklin Roosevelt, que relutou ao máximo reconhecê-lo líder da França combatente, oscilando inclusive em simpatias com o regime de Pétain, e tentando no final da guerra dividir a própria França em dois países, ensejando a criação de duas Franças, uma com nome de Walônia englobando a Bélgica e parte da Holanda.

 

Seu sucessor, Harry Truman, fora também indiferente ao general, inclusive quando de sua renúncia ao Palácio do Elizeu em 1948.

 

Quanto a Dwight Eisenhower, enquanto comandante-em-chefe dos aliados tentara conter De Gaulle no solo francês impedindo-o de participar das forças ofensivas para a derrubada da Alemanha. E depois, como presidente americano, fora indiferente ao seu retorno ao governo francês; todos querendo cortar os sonhos franceses de glória.

 

E até John Kennedy, o mais aberto à alma parisiense, também via com desconfiança a perspectiva da França ocupar um maior espaço no contexto mundial.

 

Chegara mesmo a tentar torpedear o esforço nuclear francês com sanções administrativas e políticas contra a proliferação de armas atômicas.

 

E assim, todos eles tiveram que engolir e aceitar a política agressiva de De Gaulle, sobretudo quando o grosso do trabalho já tinha sido realizado com as « bombinettes » já bastante eficazes, inclusive com a utilização dos caças Mirage IV, sucesso contra os migs russos na guerra israelense e um reforço eventual á OTAN, na eventualidade de seu uso contra as potências da cortina de ferro, pela sua capacidade de vôo, e por melhor despercebido em baixa altura.

 

Mas, por esse tempo já se aproximava o fim das alturas de De Gaulle e de seu período à frente da França. Aproximava-se 1968 e com ele vinha a débâcle dos americanos no Vietnam, e também as rebeliões estudantis que agitariam o mundo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais