Dilma ganhou, o PT perdeu

Se a eleição do último domingo se realizasse somente nos nove estados do Nordeste, nos três do Sul e mais São Paulo ainda assim Dilma venceria. E, proporcionalmente, até com mais vantagem do que o resultado que a consagrou. Nessa hipotética eleição entre as regiões onde os candidatos obtiveram maior vantagem, ela conseguiu 35.424.869 votos, contra 31.594.409 votos de Aécio. É que o desempenho dele foi pífio no Nordeste, enquanto a presidenta reeleita não chegou a ser massacrada de São Paulo para baixo, na parte mais azul do mapa.

Outra forma de analisar o resultado da acirrada disputa eleitoral, que os maus perdedores e inconformados tucanos insistem em querer contestar, é observando que Dilma conseguiu numericamente mais votos nas regiões onde Aécio saiu-se vencedor: ela obteve 26,6 milhões de votos no Sul/Sudeste e 24,5 milhões no Norte/Nordeste. Inclua-se nessa conta a vitória da petista nos importantes colégios de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Que país dividido é este?

Dilma, com o apoio decisivo de Lula, foi a grande vencedora da eleição. Ela enfrentou vaias e insultos, respondeu com firmeza às acusações e insinuações de Aécio, comprometeu-se com a manutenção de conquistas do seu governo, como a valorização dos salários e dos empregos, apontou para mudanças de rumo e provou que lhe cabe o figurino de mandatária da nação.
Mas o Partido dos Trabalhadores perdeu.

Perdeu cadeiras no Parlamento, mas não só. O PT perdeu nas eleições deste ano o posto de partido com maior voto na legenda para a Câmara dos Deputados. Desde a eleição de 1990, a sigla concentrava o maior número de eleitores que preferem depositar o voto no partido e não em um candidato específico. Mas o quadro mudou em 2014. A queda do total de votos dados ao partido foi de quase 25%. Com isso, é a primeira vez na história recente que o partido ficou atrás do PSDB no total de votos em legenda recebidos.

Na eleição deste ano, os petistas receberam 1,75 milhão de votos de legenda para a Câmara dos Deputados (o que representa 21,6% do total de votos válidos). Foram ultrapassados pelos tucanos, que amealharam 1,92 milhão de votos (23,8%). A título de comparação, em 1990, o PT conquistou 1,79 milhão de votos (24,1%) e o PSDB apenas 340 mil votos (4,6%). Nesse período, os votos válidos para deputados federais pularam de 40,5 milhões para 96,8 milhões de eleitores, um aumento de 139%.

Em termos absolutos, o partido alcançou o recorde de votações na legenda para deputado federal na primeira eleição de Lula, em 2002. Naquela ocasião, o PT conquistou 2,35 milhões de votos (27,13% dos votos válidos), ajudando o partido a eleger 91 deputados, conquistar a maior bancada da Câmara e, de quebra, eleger o presidente da Casa. Em termos proporcionais, o maior desempenho do partido foi em 1994, quando ficou com 50,63% dos votos válidos (mais de 2 milhões de votos na legenda).

Observe-se que os votos nos partidos políticos para a Câmara tiveram uma diminuição entre a eleição passada e a atual, de 9 milhões para 8,1 milhões. PSDB e PMDB também reduziram esse tipo de votação de 2010 a 2014, mas somente o PT foi responsável por uma queda de 60% dos “votos sem cabeça” em todo o País.

Com isso, de 88 deputados federais, o PT passará a ter 70 na próxima legislatura. Ainda será a maior bancada da Casa, já que o PMDB, que tem 71, elegeu 66 deputados. Já o PSDB cresce na Câmara: aumentará de 44 para 54 sua bancada de deputados. No Senado, PMDB e PT perdem uma cadeira, passam de 19 para 18 e de 13 para 12. Mas o PSDB perdeu mais na câmara alta: cai de 12 para 10 senadores.

Na eleição de governadores, o PT permanece com cinco estados, mantendo a Bahia e conquistando Minas Gerais. O PMDB conquista mais dois estados, saltando de 5 para 7 governos, incluindo Sergipe, mantendo o Rio de Janeiro e levando o Rio Grande do Sul. Os tucanos perdem três estados, caindo de 8 para 5 governos, mas mantêm São Paulo e Paraná.

E o partido de Lula e Dilma ainda sai da eleição carregando o peso da raiva antipetista como nunca antes vista. Manchetes de corrupção pipocaram com uma assiduidade desproporcional contra o partido. Provavelmente pela força da mídia e pela indolência do Judiciário, muitos brasileiros não compreendem a corrupção praticada por outras siglas. Mas, certamente, se sentem traídos quando ela está associada ao PT: um partido que surgiu inflamado pelo combate à corrupção e defesa da ética pública. Nesta eleição, o PT assistiu a quase metade da população brasileira votar contra ele. E a culpa disso também é do Partido dos Trabalhadores.

Dilma precisa realizar as reformas necessárias, a começar pela reforma política, e combater com mais rigor a corrupção. O PT precisa se reciclar e retomar a ideia de um projeto de futuro mais amplo, que não se resuma a um projeto de poder.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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