O Diabetes e o olho: considerações gerais

O homem sábio não é o que sabe distinguir o bem do mal, mas aquele que sabe distinguir dos males o menor (Omar Bin el-Khattab ).

O diabetes melittus acomete quase 15% da população brasileira, e de maneira mais frequente os que se encontram entre os 30 e os 69 anos de idade. Sendo que cerca de 50% dos pacientes desconhecem o diagnóstico e 24% dos que reconhecidamente são portadores da doença não fazem qualquer tipo de tratamento. A Retinopatia Diabética acomete cerca de 40% dos pacientes diabéticos e é a principal causa de cegueira em pacientes entre 25 e 74 anos. A maioria dos casos de cegueira (90%) é relacionada à retinopatia diabética e pode ser evitada através de medidas adequadas, que incluem, além do controle da glicemia e da pressão arterial, a realização do diagnóstico em uma fase inicial e passível de intervenção. Essas medidas diminuem a progressão das alterações retinianas, mas na grande maioria dos casos não consegue reverter os danos já estabelecidos.

Portanto, torna-se imperativo que o diagnóstico da retinopatia diabética seja feito em suas fases iniciais, ou seja, antes que lesões que comprometem a visão tenham se desenvolvido. Os procedimentos para realizar uma detecção precoce da retinopatia diabética ganharam recentemente um grande e forte aliado: o OCT (aparelho que faz a tomografia do olho e permite consolidar o diagnóstico precoce de edema retiniano). Na última década, com o surgimento do OCT (sigla inglesa que significa Tomografia de Coerência Ótica), o estudo da retina teve uma evolução tão marcante que deu origem a uma nova era: a retina antes do OCT e a retina depois do OCT. Antes do advento do OCT só percebíamos edema quando vinha acompanhado do cortejo: micro aneurisma, hemorragia e/ou exsudato.

Devemos recordar que as complicações crônicas do diabetes melittus são as principais responsáveis pela morbidade e mortalidade dos pacientes diabéticos mal controlados. As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte (52%) em pacientes diabéticos do tipo 2 que não fazem o tratamento correto; Convém referir deque diversos fatores de risco, passíveis de intervenção, estão associados ao maior comprometimento cardiovascular observado em pacientes diabéticos que não se cuidam com responsabilidade. Entre eles estão a presença da Nefropatia Diabética e da Hipertensão Arterial Sistêmica. O diabetes sempre foi temido pelo homem, pois no passado, nas suas formas mais graves, o paciente caminhava rapidamente para a morte. Graças a Banting e Best que descobriram a insulina, desde 1921 milhões de vidas foram salvas. Com os progressos nos conhecimentos da doença, novas orientações para a dieta, os antibióticos e a educação, os diabéticos não só estão vivendo mais, mas estão tendo vida normal e feliz. Mesmo assim, de acordo com seu potencial genético, muitos diabéticos apresentam complicação no cérebro, nos olhos, nos rins, nos pés, além de predisposição para atero e arterioesclerose, com incidência maior de enfarte do miocárdio e de AVC ou acidentes vasculares cerebrais, mas que podem ser evitadas ou retardadas, quando se tratam adequadamente e respeitam as  orientações do médico e de sua equipe.

O que devem fazer os diabéticos susceptíveis a estas complicações: – cuidar do seu diabetes, obedecendo às orientações do médico e da sua equipe (nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, enfermeira etc.) quanto à medicação e aos hábitos de vida; certamente é preciso ter força de vontade e não esquecer o sábio conselho “abrir os olhos e fechar a boca”.

Ocorrem dois tipos de diabetes: o tipo 1, que, invariavelmente, usa diariamente insulina, e que tem seu predomínio nas crianças e nos jovens; e o tipo 2, em que os diabéticos, quase sempre, não necessitam de insulina; esse último ocorre geralmente em indivíduos com mais de 40 anos e em sua grande maioria obesos. O diabetes provoca fragilidade nos vasos sanguíneos e o olho é o local ideal para o médico perceber estas alterações maléficas. Os vasos sanguíneos fragilizados inicialmente deixam passar líquido para o tecido retiniano (como se fosse um gotejamento) e com o passar do tempo a retina vai ficando encharcada, inchada (edema de retina),infelizmente isto ocorre lenta e silenciosamente, ou seja sem provocar nenhum sinal de alerta: sem dor, sem diminuição da qualidade de enxergar, ou seja, totalmente assintomático. Quando examinamos o fundo do olho vemos uma imagem normal e podemos errar o diagnóstico se não tivermos o auxílio da tomografia ocular que é o único exame que permite detectar o edema precoce da retina. O “velho e tradicional exame de fundo de olho” é subjetivo e perde aqui sua importância, até que se instale a fase seguinte quando os vasos vão ficando mais fragilizados, formando aneurismas e micro hemorragias retinianas. Nesta fase o paciente já apresenta sintomas, como: sensação de estar vendo moscas, turvação de visão e, dependendo da gravidade, perda brusca da visão.

As complicações tendem a evoluir, se não tratadas, podendo levar à cegueira, este conjunto de alterações retinianas provocada pelo diabetes se chama Retinopatia Diabética. Devemos salientar de que os diabéticos mal controlados têm 25 vezes mais chances de se tornarem cegos do que os não diabéticos. Nas pessoas mais sensíveis e que se cuidam menos, a retinopatia diabética pode surgir rapidamente e evoluir de forma dramática nos primeiros cinco anos de doença. A doença evolui do aparecimento inicial do edema de retina para os micro-aneurismas, seguidos de pequenas hemorragias. Sucessivamente surgirão hemorragias maiores, cicatrizações (manchas em flocos de algodão) ou manchas duras, e serão tanto mais graves quando ocorrem na região da mácula ( ponto de maior acuidade visual), geralmente elas ocorrem em ambos os olhos e se chamam retinopatias não proliferativas. Neste momento o exame de fundo de olho é excelente método diagnóstico; evolutivamente com o crescimento de vasos anormais na superfície da retina (que é uma fina membrana que está no fundo do olho e é responsável pela formação da imagem) estes vasos podem sangrar de maneira intensa ou podem causar descolamento da retina. Ambos provocam a grave redução da visão e, até mesmo, a cegueira total. É a retinopatia proliferativa. Portanto, a retinopatia diabética está classificada em retinopatia não proliferativa (quando não há proliferação de vasos anormais) e retinopatia proliferativa (que constitui um estágio mais severo).

Para facilitar a compreensão, podemos dividir a retinopatia em três estágios:

-Retinopatia leve, onde o paciente não sente nada e “o velho e tradicional exame de fundo de olho” é insuficiente para detectar o edema de retina;

– Retinopatia moderada – o paciente já tem algum sintoma e o fundo de olho já revela micro aneurisma, pequenas hemorragias e ou exsudatos;

– Retinopatia severa – podendo ter grandes hemorragias, até o descolamento de retina.

Estudos recentes mostram que todos os diabéticos mal cuidados podem com o passar dos anos ter algum tipo de retinopatia, geralmente a maior parte das estatísticas mostram que nesses diabéticos mal cuidados e com mais de 20 anos de doença, cerca de 75% podem apresentar retinopatia e, destes, após 30 anos, aproximadamente metade podem ficar cegos.

Prevenção:

1)      Cuidar da doença com acompanhamento e obediência ao endocrinologista e à sua equipe, lembrando que o alto nível da glicemia e da hemoglobina glicosilada irão desencadear todas as complicações possíveis quando não controlados adequadamente.

2)      Ir ao oftalmologista no mínimo uma vez por ano – quando fazemos uma consulta rotineira com objetivo de trocar os óculos, é muito diferente de quando queremos saber se o olho está afetado pelo diabetes. O intervalo de tempo entre uma consulta e outra no caso de óculos às vezes ultrapassa 10 anos porque o paciente acha que somente deverá retornar ao médico quando os óculos não prestarem mais, o que é um grande e temerário atraso absurdo de vigilância oftalmológico.

No caso do Diabético ele deverá realizar sua avaliação retiniana pelo menos uma vez por ano, mas é extremamente importante que o cliente diga ao oftalmologista o motivo de sua consulta. Conhecendo o objetivo da Sua visita  o médico vai usar seu conhecimento e o auxílio da tecnologia para o diagnóstico e se necessário o tratamento e acompanhamento. O edema precoce só é diagnosticado com a tomografia ocular. Repetimos: o exame deve ser feito anualmente, pois o diabetes é traiçoeiro e quando for se manifestar, o indivíduo, ao perceber, já estará com prejuízo ocular. Portanto, o diagnóstico e tratamento precoce evitarão complicações no futuro.

3)      Corrigir seu hábito alimentar, com a orientação adequada de um Nutricionista experiente em Diabetes

4)       Evitar o sedentarismo

5)       Não fumar e não beber

Tratamento da Retinopatia Diabética

O tratamento pode ser cirúrgico ou medicamentoso, vai depender do grau de comprometimento ocular,podemos citar dois tipos de tratamento cirúrgico: laserterapia, também chamado fotocoagulação e, em casos mais graves, vitrectomia. No tratamento medicamentoso ainda é usado um corticoide, a triancinolona. Recentemente, foi reforçado o arsenal terapêutico com o advento do bevacizumabe (comercialmente chamado AVASTIN) e do ranibizumabe (comercialmente chamado LUCENTIS), ambos antiangiogênicos (que são substâncias que agem impedindo a proliferação vascular). Todas estas substâncias são usadas em injeção intraocular.

Portanto, prezados leitores, “a prevenção é a melhor forma de tratamento dos problemas oculares do diabético”.

Uma Boa Semana com Excelente Visão, muita Luz e muita Paz.

MAKTUB!!!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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