A mudança de um ano não tem apenas o significado de alterar o calendário ou a grafia no momento em que preenchemos algum documento. A mudança é tão profunda que teima a desafiar a imaginação humana. Mesmo quando alguns, mais pessimistas ou céticos, insistam em afirmar que tudo não passa de uma monótona e repetida alteração do tempo físico, a simples perspectiva da chegada de um novo ano causa um reboliço na alma e uma agitação frenética no corpo.
E não se está falando apenas no ritual da passagem, quando todos os seres humanos do planeta, independentemente das cores dos corpos e dos enfeites das roupas, fazem da confraternização uma regra universal. Tampouco está a se referir ao gesto mágico de fazer colorir o céu da noite com fogos de artifícios, fazendo-nos sentir a mesma emoção do criador das estrelas. Menos ainda ao inebriar das mentes em cio, solvidas pelas alegres taças de champanhe e generosos goles do néctar alcoólico da vida.
A grande mudança provocada pela chegada de um ano novo é mais duradoura do que o passar da noite, o fazer brilhar o céu e o liberar o coração para o agito. É que durante o aproximar e o seguir dos dias do ano nascido a esperança se finca no coração da gente com jeito de eternidade. É como se tudo que ocorrera de desgosto e tristeza no ano envelhecido escorreram nos escaninhos da memória, ficando definitivamente abandonados no porão da vida. Tudo assume da condição de novo, no campo do ser ou na área do olhar.
Assim acontece em todos os cantos e recantos do planeta, em todas as casas e em todos os corações. É difícil imaginar que o clima de não tenha ou venha a contagiar as pessoas, fazendo-as heróis de si mesmas, capazes, portanto, de voar na certeza de que somos responsáveis pelas soluções de todos os problemas. E de posse desta convicção, vestirem as capas e os uniformes que os fazem superar os obstáculos, barreiras, kriptonitas ou portas lacradas pela desesperança, desilusão ou a perda de uma pessoa amada.
A advocacia, por exemplo, que em Sergipe perdera a convivência física com o advogado Daniel Barros Júnior, sabe que o seu espírito, antes cansado da monotonia do seu corpo, agora terá mais autonomia de ação, talvez plugando os dois mundos em que habita. Sabe, também, que o professor José Silvério Fontes, com o espírito livre do corpo já exausto pelo tempo, agora corre solto nos vários tribunais e salas do saber, ensinar, construir e defender. Sabe que a vida é assim mesmo, um ir e vir de advogados e amigos, todos fazendo da mudança uma forma correta de encarar as coisas do mundo.
O terceiro setor, que já faz da mudança uma atitude diária, sabe que o ano de 2006 ampliará o rol de amantes e construtores de um mando mais justo, livre e solidário. A Sociedade Semear, que já se solidificou na cidade de Propriá, já começa a plantar em outras áreas, sabendo que logo germinará novos e frondosos frutos. Como já fez ao colher o seguinte depoimento de Maria Geane, quando do encerramento do Projeto Avanço Digital, promovido conjuntamente pela Instituto Telemar, Cases, Infonet e Dataprev, “a turma que em pouco tempo já demonstrava cumplicidade e satisfação com o projeto que agora já fazia parte das nossas vidas, pois, por mais difícil que fosse a vida de cada um lá fora, ao chegarmos na Sociedade Semear, tudo ficava em segundo plano e só a alegria tomava conta de nossos corações e mentes. Porquanto diariamente fomos nos tornando mais otimistas, acreditando mais em nós mesmos, tendo a certeza de que poderemos vencer barreiras e conquistar nosso espaço. Por isto que a semente aqui plantada brotou em nós a auto-estima, o respeito, a amizade e a certeza de um futuro melhor.”
Eis porque o desejo de mudança, nascente nestes últimos dias de 2005, se torna o grande diferencial na virada do ano. Eis porque desejo que a mudança atinja a todos, independentemente de sexo, cor, estado civil, profissão, opção religiosa ou política. E não uma mudança efêmera, diluída no clarear das primeiras horas do dia, mas uma mudança em eterna evolução, conquistada diariamente durante todo o ano de 2006.