ELEIÇÕES 2014 – Três Cenários Possíveis

Como muitos leitores jovens não lêem os jornais diários e ficam informados de tudo que acontece no mundo pela Internet, o blog publica hoje uma matéria do jornalista Luiz Eduardo Costa, publicada no Jornal do Dia do último domingo, 27, sobre a Eleições 2014. Vale a pena refletir:

 

Nem começou o segundo mandato de Déda e já se anda e desanda a falar na sucessão que só acontecerá em 2014. Segundo o vice-governador Jackson Barreto, “isso é coisa de quem não tem o que fazer”. Tendo ou não o que fazer, há gente interessadíssima em adiantar o relógio, dar mais velocidade ao tempo através da criação do que seriam fatos consumados. Há quem chame a isso de antecipação impositiva. Outros, dizem que tudo não passa da dinâmica política que não pode prescindir da criação de fatos, ou, quando estes não existem, de meros factóides. Dos gabinetes, usualmente impacientes ou mesmo sôfregos, saem as notícias sob a forma de informação real, ou recados bem plantados. Neles, para o observador mais atento, se desnuda a estratégia meticulosamente desenvolvida visando gerar uma clima cujos resultados se concretizarão a curto prazo, mas, confirmadas as boas expectativas, se estenderão muito além disso. No caso, o médio prazo seriam as eleições municipais do próximo ano.

 

Política e futurologia não se casam muito bem, todavia, existem aqueles, habilidosos, que revelam a rara capacidade de construir situações, encaminhando os acontecimentos para que correspondam aos objetivos futuros. Essa capacidade de manipular o hoje em função do amanhã seria a suprema arte ou a suprema esperteza de quem faz, e se compraz, com a atividade política.

 

Embora sem a entusiasmada empolgação de torcedores, há uma boa parcela da sociedade acompanhado com interesse o que acontece no palco da política. Certamente, a especulação, o exercício da futurologia, são todos temas instigantes que fazem exercitar a imaginação e assim, surgem os mais diversos cenários envolvendo candidaturas e composições políticas.

 

Movimentemos então, algumas pedras nesse tabuleiro de incertezas, tão somente como um jogo de despretensioso, a título apenas de diversão para aqueles que ainda se interessam pelo tema.

 

CENÁRIO 1

 

Déda candidato ao Senado, Amorim ao governo

Há quem tope fazer qualquer aposta garantido que Marcelo Déda deixará o governo para ser candidato ao Senado, e que o senador Eduardo Amorim seria o candidato a sucedê-lo. Orador brilhante, talvez o maior orador político do país, Déda encontraria na Câmara Alta o ambiente perfeito para lhe garantir uma projeção política nacional. Essa projeção ele conseguiu quando deputado federal. Os tempos eram outros, o PT perdera duas eleições, e Lula, caminhava para a terceira derrota enfrentando FHC que tinha tudo para reeleger-se. Hoje, o PT está no poder. A presidente, Dilma Rousseff tem todas as condições para disputar e ganhar um segundo mandato, embora, evidentemente, com dois meses na presidência seja precipitado avançar com um mínimo de segurança sobre o movediço terreno da opinião pública, no Brasil, com inusitada tendência para construir mitos e desconstruí-los, ainda com maior rapidez.

 

No Senado, Déda poderia surgir como uma opção petista à sucessão de Dilma ao final do segundo mandato da presidente. Estaria próximo dos sessenta, em 2018, ou seja, com todo o vigor para enfrentar a dura maratona, e com uma capacidade de comunicação difícil de ser igualada por outros eventuais candidatos. Mas aí á é “futurologizar” demais.

 

Com efeito, para dar o salto ao Senado numa chapa com o senador Eduardo Amorim candidato a governador, Déda teria de acomodar, primeiro, o seu partido, que demonstra interesse em espichar até aonde for possível um projeto de permanência no poder; segundo ao vice Jackson Barreto, que assumiria o governo e teria de conformar-se somente com os nove meses finais de um mandato, apesar de habilitado a disputar a reeleição. Quem conhece Jackson tem quase a certeza de que ele dificilmente se disporia ao sacrifício de uma desambiciosa renúncia, acomodando-se no modestíssimo papel de mero supridor de camarões para as empadas alheias. Jackson tem repetido, e até incisivamente, que não tem outra coisa na cabeça a não ser contribuir, ajudar, para que Déda faça um bom governo, e estará junto, do mesmo lado, no projeto que ele quiser traçar. Quem fala assim, sem dúvidas, imagina-se incluído como parte destacada nesse projeto.

 

O terceiro a ser acomodado neste cenário seria o senador Valadares. Essa seria uma tarefa também complicada. Com Amorim candidato ao governo, Déda ao Senado, restaria a Valadares a perspectiva de indicar o vice-governador, uma deferência que ele, certamente sentindo-se muito honrado, educadamente declinaria.

 

A construção da chapa Amorim Governador – Déda Senado em 2014 passaria por infindáveis testes, desafios, avanços e recuos, agrados e desagrados, entendimentos e desentendimentos, sucedendo-se ao longo desses próximos dois anos.

 

Há quem considere que a composição se tornaria inevitável após os resultados das eleições do próximo ano, quando o grupo liderado por Edvan Amorim esperar fortalecer ainda mais suas bases políticas no interior, e, paralelamente, tornando irreversível a candidatura do senador Eduardo ao governo, tanto pela amplitude das lideranças que estariam ao seu lado como pela aceitação popular do seu nome, até já aplaudido como futuro governador numa assembléia de policiais militares, exatamente, de policiais militares, e tendo Chiquinho Ferreira a operar forte na comunicação.

 

Restaria a consolidação nos próximos dois anos de um arco político ainda mais abrangente, a combinar com Déda, e com os demais, se eles aceitariam a fórmula proposta.

 

Nos restaurantes franceses, até mesmo naqueles mais chics e dispendiosos, sempre existe a “formule” apresentada ao cliente como alternativa mais barata, quase sempre abaixo dos vinte euros. Consta de uma francesamente indispensável entrada, do prato principal, da sobremesa, e de um copo de vinho. No cardápio que o garçom oferece existem, invariavelmente três “formules” , sugestões, que dão maior liberdade de escolha a quem, se presume, seja sempre um “gourmet”, comensal de bom gosto, nunca um “gourmand”, aquele que engole tudo, com a ânsia de mastigar e deglutir anulando a sensibilidade do paladar.

 

O senador Amorim e seu irmão estrategista político Edvan, terão de se esforçar muito para como chefes qualificados, oferecerem uma requintada “formule” capaz de atender a paladares sempre exigentes, requintados, tudo porém com a elegância de gourmets, ou seja, disfarçando a fome como manda a etiqueta.

 

CENÁRIO 2

 

Déda candidato ao Senado, Jackson à reeleição

Tendo Déda, candidato ao Senado ao seu lado como companheiro de chapa Jackson estaria no governo, e sendo candidato à reeleição, se eleito, em 2014 não poderia mais ser candidato. Essa circunstância facilitaria um entendimento com o grupo Amorim. O senador Eduardo estará concluindo seu mandato em 2018, e poderia aguardar desde que houvesse um compromisso de ser ele o candidato do esquema no poder. O obstáculo seria então o fato de que o grupo Amorim estaria a essa altura convicto de que o seu atual poderio político-eleitoral só tende a crescer, e assim, tem plenas condições de dar as cartas ao invés de recebê-las. Nessa chapa Jackson governador, Déda senador, haveria a vaga de vice a ser preenchida pelo grupo dos Amorim, ou pelo senador Valadares. Tanto Jackson como Déda não estariam dispostos a correr riscos, se, eventualmente, os senadores Valadares e Amorim viessem a ficar insatisfeitos.

 

Caso o senador Amorim transferisse para 2018 as suas pretensões de disputar o governo, ele, certamente, no começo do ano eleitoral se licenciaria do Senado para dedicar-se inteiramente à campanha e assim, também satisfaria ao seu suplente o empresário Laurinho Menezes, que pisaria nos tapetes do Senado durante todo o ano.

 

Jackson poderia também em última hipótese, topar o desafio de assumir o governo, candidatar-se à reeleição, apoiar Déda para o Senado, mesmo tendo de enfrentar uma oposição poderosamente organizada. Disposição para enfrentamentos desse porte nunca lhe faltou. Mas, nessa hipótese, a participação do senador Valadares, tanto para ele como para Déda seria absolutamente necessária. Para juntar toda a esquerda, Jackson ao teria maiores dificuldades. Nesse esquema, a depender das circunstâncias nacionais, poderia também entrar Albano Franco, mas a participação de João Alves seria impensável.

 

 

CENÁRIO – 3

 

Valadares governador  – Déda no governo

Se vier a sentir-se emparedado o governador Marcelo Déda poderia entender que a sua permanência no governo seria essencial, e aí, deixaria para mais longe a possibilidade de tornar-se senador da república. Ficaria no governo e lançaria o senador Valadares como seu candidato ao governo. Sendo eleito, Valadares daria ao suplente José Eduardo Dutra um mandato de quatro anos de Senador, algo que não é desprezível, e não deixa de ser, exatamente agora, imaginado com muita simpatia pelo presidente nacional do PT. Nessa hipótese, Jackson disputaria o Senado, ou; não havendo rompimento com o grupo Amorim, Jackson poderia tentar retornar à Câmara Federal e a indicação do candidato ao Senado e do vice seria dos Amorim. Então, muito provavelmente para os deputados federais e estaduais do grupo surgirão boas perspectivas.

 

Não havendo acordo, aí Valadares e Déda tratariam de ampliar alianças, preparando-se para a duríssima refrega. Os ex-governadores João Alves e Albano Franco não seriam indiferentes a uma aproximação com um esquema que poderia levar Valadares ao Olímpio Campos. E aí seria interessante ver João Alves votando mo mesmo candidato com o qual também certamente estaria toda a esquerda, inclusive o MST, liderado pelo deputado estadual João Daniel. No caso de ruptura, ficariam disponíveis as vagas de senador e vice. O PMDB, hoje ainda mais fortalecido com Jorge Alberto na Casa Civil e Jackson vice-governador, além de Almeida Lima deputado federal, teria de entrar necessariamente na composição, onde também não poderia faltar boa parte das igrejas evangélicas com o deputado Heleno Silva.

 

No caso de ir para um quase sacrifício, Déda não estaria porém, submetido a uma espécie de imolação política. Em 2014, Dilma Rousseff certamente estará disputando à reeleição. Déda, no governo, trataria de fortalecer mais aquela candidatura em Sergipe, e, seguramente, não ficaria distante de Brasília com a reeleição da presidente. Esses são apenas três dos infindáveis cenários possíveis, e que, com o correr do tempo, poderão ser traçados com maior ou menor precisão e objetividade, se é que precisão e objetividade entram nessas imaginosas composições.

 

Política, a mais humana das ciências, passa, por isso mesmo, bem distante de qualquer componente cartesiano.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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