A data 8 de julho, que simboliza a emancipação política de Sergipe, é uma referência cívica dos sergipanos, mas não esgota o que foi a luta, de quase quatro anos, para fazer prevalecer os interesses locais, subordinados pela Capitania da Bahia. Os aspectos que devem ser considerados, para melhor compreensão daquele movimento, ampliam em muito o episódio, dilatando de 1820 para 1824, a vigência dos fatos, criando um sentimento ainda maior de liberdade, que coincide com a Carta Régia de Dom João VI, assinada em 8 de julho de 1820
proclamação da Independência do Brasil.
A Carta Régia de Dom João VI, assinada em 8 de julho de 1820, decorreu de manifestações em favor da quebra da dependência da Capitania de Sergipe para com a Capitania da Bahia. A população de Sergipe queria liberdade de Governo, liberdade de ter sua própria economia, e de construir seu futuro, sem as amarras da exploração e da espoliação que caracterizavam, até então, as relações Bahia-Sergipe. Formaram-se os partidos discordantes, um querendo manter, a todo custo, a dependência, outro lutando, com todas as forças de persuasão, para conquistar a liberdade.
A Bahia apoiava a Revolução Constitucionalista do Porto e por isso não referendava e nem cumpria a Carta Régia que libertava Sergipe da sujeição. Em Sergipe, ao contrário, crescia o apoio à Independência do Brasil. O Governo de Dom João VI nomeou Governador de Sergipe o brigadeiro Carlos César Burlamaqui, que tomou posse, mas foi deposto e levado de volta. Com a corda esticada, Sergipe iria depender do processo de Independência do Brasil, que estava em curso desde abril de 1821, quando o Príncipe Dom Pedro substituiu Dom João VI na regência do Brasil. É ele quem, em 1823, revalida a Carta Régia de 8 de julho de 1820 e eleva São Cristóvão, novamente, à condição de cidade. Com a Assembléia Constituinte e com a Constituição de 1824
Sergipe passa a figurar, livre, como uma das Províncias do Império do Brasil.
Sergipe festeja, então, a data de 24 de outubro, como novo e definitivo símbolo de sua independência. A data passou a ser a maior referência da liberdade, cultuada com festas anuais. Proclamada a República, em 1889, Sergipe mantém o dia 24 de outubro para a posse dos presidentes do Estado. Há controvérsia quanto ao 24 de outubro.
Para uns, foi o dia em que chegou a São Cristóvão a notícia da emancipação, para outros a data está ligada a manifestações das Câmaras sergipanas, em apoio à Independência do Brasil. O senador Cândido Mendes, que escreveu o texto historio do Atlas do Brasil, do Barão Homem de Melo, em 1860, afirma que o 24 de outubro de 1824 é a data da divisão territorial do Brasil, quando Sergipe aparece como Província. O certo, no entanto, é que o 24 de outubro foi, durante
mais de um século, a data sergipana por excelência, associada ao processo emancipador iniciado em 8 de julho de 1820. Todo o progresso, econômico, social e cultural teve com estandarte simbólico o 24 de outubro, que hoje é lembrado palidamente, com o Dia da Sergipanidade.
Sergipe emancipado tomou o caminho livre da organização social. Sua economia teve uma explosão produtiva, com centenas de engenhos de açúcar, fazendas de gado, riquezas que alimentaram o desenvolvimento sergipano. Os ciclos que se seguiram – sal, algodão, arroz – desembocaram no petróleo, descoberto em 1963, e revelaram as imensas jazidas de minérios, que alimentaram o imaginário dos sergipanos e provocaram a confecção de um modelo de riqueza, capaz de atender aos interesses do Estado. Os frutos da emancipação correspondem, francamente, as expectativas, de modo a permitir a compreensão de que o processo de emancipação, que continua em andamento, é responsável por todas as conquistas e avanços que estão anotados nos capítulos da história.
Para muito além das atividades econômicas e da organização social, Sergipe emancipado viu nascer e florescer gerações de homens ilustres, que ajudaram a fincar os fundamentos da cultura brasileira. Enquanto a riqueza econômica permaneceu nas mãos de herdeiros e continuadores, a
cultura serviu, como um bem comum, a que todos os sergipanos fossem representados pelos médicos, bacharéis, militares, engenheiros, escritores, artistas e demais intelectuais que deram glórias a Sergipe e aos lugares que lhes serviram de berço. Com a militância cultural
foram aparecendo os traços da sergipanidade, que reúne cultura e liberdade, liberdade e riqueza, riqueza e partilha, tendo a história com testemunho da luta tenaz e indormida, travada pelos antecedentes que acenderam as tochas da ousadia e da consciência política, para abrir caminho para o futuro, esta utopia que acompanha a trajetória dos povos.
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