Entre Armandinho e Capiba

 

Cartas do Apolônio

 

Cascais, 10 de fevereiro de 2006

 

Caros amigos de Sergipe

 

O carnaval brasileiro é deveras contagiante. Aqueles bicheiros à frente das escolas de samba, a modelo da revista de sacanagem sendo entrevistada pelo Pedro Miau, políticos enfiando o pé na jaca nos camarotes das estatais, todo este bucólico cenário nos remete a uma só reflexão: onde arrumar tanta grana pra cair nessa esbórnia? O pessoal do Congresso ainda tem o mensalão, mas e nós, pobres mortais? Como terminaremos a noite com a loura da Revista Caras? O programa, meus amigos, não sai por menos de mil reais, pasmem os senhores!
  

Envolto em todos esses questionamentos filosóficos, me encontro no maior dilema. Vou para Salvador ou me aboleto em Olinda? Acarajé com pimenta ou Bacalhau do Batata? Bandana ou sombrinha? Não é uma decisão fácil.

Se a Bahia tem a Nara Costa, Pernambuco tem o Reginaldo Rossi. Se Salvador tem todas aquelas galinhas do Circuito Barra-Ondina, Recife tem nada mais nada menos que o Galo da Madrugada, um cocoricó coletivo de mais de um milhão de viventes. Se a terra do axé tem ex-maconheiros notáveis como o ministro Gil e ativistas como o Edson Gomes, Olinda tem o ‘Segura a Coisa’, uma fumegante agremiação que reúne verdadeiros ícones do movimento fumiculturista, como o filósofo Zé Morrão e a lendária Maria Fumaça, a viajandona da Leste.

Se me decidir pela Bahia, encontrarei o amigo Cleomar Brandi com um litro de Remi Martin à direita e as maluquetes Lu e Dai à esquerda. Se optar por Olinda, esbarrarei com Gilton Lobo fantasiado de presidente da ABS – Associação das Batedores de Sogra entidade que propõe uma espécie de catarse dos genros em relação às mães das suas venerandas esposas. Para tanto seus membros carregam à tiracolo, a boneca Mirabel que representa as sogras brasileiras. Detalhe: os passantes podem esmurrar a citada boneca ao preço módico de dez centavos cada cruzado de direita. Uma pechincha, sem a menor dúvida!

Para onde quer que eu vá, acabarei levando Zenóbia, a minha impagável ex-patroa sexagenária que desde a semana passada está morando na biblioteca e diz que não sai daqui nem por um decreto. Rebocando-a para o Brasil, tenho esperanças de fazê-la perder a passagem de volta.  

Em Olinda, Zenóbia certamente seria confundida com ‘A Mulher do Meio Dia’. Em compensação na Bahia, a tomariam por uma irmã gorducha da Zélia Gattai.

Ó dúvida cruel! Rei do Congo opinai, tambores d’Africa dize-me o caminho! Mas dizei-me logo, filho, pois a consulta em Olga de Araketu é paga por hora.

O Maracatu me chama, mas as coxas de Ivete me arrastam para a concuspicência da carne Se o ‘Bloco das Flores’ me inspiram a beleza divinal, os negões da Timbalada são a própria imagem do ‘cão chupando manga’. É Pernambuco falando para o mundo e a Bahia que não me sai do pensamento. Ó idílio homérico que certamente alcançará o meu limite no American Express Card. Às favas com as dívidas. Eu quero é rosetar enquanto a brisa do Brasil beija e balança!

  

Até semana que vem. 

 

Um abraço do

 

Apolônio Lisboa.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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