Janaína de Oliveira Souza
Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe (DHI/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
Email: jana_oliva@outlook.com
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Andreza Santos Cruz Maynard (CODAP/ProfHistória/UFS)
Todos sabem que a leitura é uma prática universal e atemporal. Mas poucos atentam para o fato de que os livros foram e continuam a ser utilizados como recurso político. O papel dos livros pode variar, indo do entretenimento ao uso com fins didáticos e pedagógicos, bem como pode ser empregado enquanto arma ideológica. Os livros foram alvo de grande atenção de governos, tanto dos fascistas quanto dos democráticos, durante o maior conflito bélico da história, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Os regimes vigentes na época da Guerra se apropriaram de formas distintas desse recurso poderoso que é a leitura. Alguns viram os livros como aliados e outros os encararam como ameaças. O regime nazista, por exemplo, desde a sua ascensão, em 1933, manifestou uma política de proibição e queima de livros de autores como Albert Einstein e outros que representassem uma intimidação ao regime. As obras escritas por judeus, com abordagens sociais que adotassem um ponto de vista progressista e pacifista, eram proibidas de serem lidas e comercializadas. Além disso, elas eram queimadas em grandes fogueiras em praças públicas. Estima-se que 100 milhões de livros de gêneros diversos foram queimados pelos nazistas durante a Guerra.
Já os Estados Unidos, adotaram uma postura diferente. Graças à grande procura e à necessidade de oferecer entretenimento aos soldados nos campos de treinamento e nos próprios fronts, eles transformaram os livros em aliados. Molly Guptill Manning, em sua obra uando os livros foram à Guerra, publicado em 2014, conta como histórias abordadas em livros ajudaram os aliados a vencer a Segunda Guerra Mundial. Nessa obra, Guptill mostra como os Estados Unidos se utilizaram dos livros em seu esforço de guerra, usando-os como armas de combate no campo das ideias; pois os soldados deveriam saber o porquê estavam lutando, bem como deveriam estar bem psicologicamente para terem força para os combates. Dessa forma, o Conselho de Livros em Tempo de Guerra foi criado para atender a demanda desses exemplares nos fronts, pois os soldados ansiavam por leituras, uma vez que elas os ajudavam a transpor as adversidades, os informavam, divertiam e distanciavam aqueles homens do momento caótico e desumano em que estavam enfrentando.
Além da criação do Conselho, em 1942 foi criada a Armed Services Editions (ASE), uma agência responsável pela produção de livros para o esforço de guerra. As publicações da ASE eram livros de bolso, do tamanho de carteiras convencionais. Assim, os soldados poderiam facilmente transportá-los em seus uniformes e mochilas, para apreciarem a leitura quando assim desejassem e pudessem. Diversos gêneros literários eram enviados para os combatentes, mas os de ficção contemporânea, romance e suspense eram os preferidos. Os livros acalentavam seus corações e traziam lembranças dos anos anteriores à Guerra. Além de atuar durante o conflito, esses livros influenciaram positivamente no pós-guerra, pois muitas das profissões escolhidas pelos ex-combatentes baseavam-se em gostos desenvolvidos pelas leituras realizadas durante os combates. Muitos ingressaram em universidades e mantiveram-se com altas médias por levarem consigo a prática e o apreço pela leitura.
Quando os livros foram à Guerra evidencia que utilizar-se dos livros para obter um bom desempenho nos campos de batalha foi um posicionamento estratégico adotado pelos Estados Unidos. Outra obra que trabalha todo o poder da leitura e seu impacto social é Farenheit 451, uma distopia escrita por Ray Bradbury em 1953, em um contexto pós-guerra, onde a pratica de leitura foi criminalizada e obras eram queimadas por bombeiros; assim sendo, todo conhecimento era controlado pelo governo e a sociedade vivia em um estado total de alienação e sem uma postura crítica perante contextos sociais e políticos.
A partir desses exemplos, percebemos como os livros podem ser ameaçadores para regimes e líderes políticos que temem um povo que lê, do mesmo modo que podem ser aliados para os que buscam aguçar o pensamento crítico através do conhecimento. Sendo assim, devemos ficar atentos a esses posicionamentos, pois, como foi dito pelo poeta judeu Heinrich Heine, “Onde livros são queimados, no fim, pessoas também serão queimadas”.
Para saber mais:
MANNING, Molly Guptill. Quando os livros foram à Guerra – As histórias que ajudaram os aliados a vencer a Segunda Guerra Mundial. 2. Ed. Rio Janeiro, Casa da Palavra, 2015, p. 9 a 271.