DPascoal – COMO DESCREVER A EDUCADORA CRIS SOUZA?
EDUCADORA CRIS SOUZA – Eu sou uma pessoa inquieta, curiosa e incomodada com minha incompletude. Tudo meu é para ontem, sou rápida, não gosto de pessoas acomodadas e molengas. Gosto de criar coisas, experimentar e semear boas ideias. Acredito que viver é um privilégio divino e que devemos aproveitar o máximo esta nossa existência. Não gosto nem de dormir, a possibilidade de deixar de vivenciar, em detrimento do sono me apavora. Não tenho necessidade de oito horas de sono. A morte é um descanso eterno e a vida é uma corrida para todos os lugares e todos os cantos. Gostaria de viver para sempre, de inventar infinitamente e estar em movimento. Mas a idade em algum momento conseguirá me parar, tolher minhas loucuras boas e aí viver não será um ato muito feliz, mas por enquanto, vamos de fazer, dançar, correr e viver a vida em toda sua plenitude.
DPascoal – O QUE LEVOU VOCÊ A SEGUIR A MISSÃO DE PROFESSORA?
EDUCADORA CRIS SOUZA – A vontade de ser útil ao outro, de ajudar e de apresentar perspectivas e possibilidades. Sempre fui uma professora, desde criança. Eu não brincava de casinha, brincava de escola, e eu não tinha bonecas e bonecos, eu tinha estudantes, alunos. Arrumava minha sala de aula e dava as lições e cobrava os deveres. Na minha escola de faz de conta, meus alunos eram invisíveis, mas a professora era uma realidade. Aí, fui crescendo e alfabetizando os vizinhos, amigos dos pais e irmãs menores. Elas aprenderam comigo a ler, escrever e contar. Quando me casei, ainda estudante de pedagógico, passei a alfabetizar meus três filhos. Eles foram para a escolinha na primeira série, do antigo primário. Por isso meu amor maior é pelo letramento e alfabetização. Fiz pós graduação nesta vertente e outras em gestão e neurociência. Minha vida é a educação e a escola é meu lar.
DPascoal – O FATO DE VOCÊ NÃO VIR DE FAMÍLIA ABASTADA, TROUXE-LHE QUAIS LIÇÕES?
EDUCADORA CRIS SOUZA – Lições valiosas como o traçar planos, ter foco e seguir adiante sem medo dos obstáculos e dificuldades, pois o Sol brilha para todos. Minha mãe dizia que “só podíamos pegar na rodilha, se pudéssemos com o pote”. Então, cuidei de me preparar para enfrentar o mundo. Eu era muito magérrima, tinha só muito cabelo e franja, mas era uma garota com uma mente adulta, focada e determinada a vencer. Estudei no Grupo Escolar Ivo do Prado, e só tirava as melhores notas. Depois fui fazer meu ginásio no Colégio Estadual 24 de Outubro, onde hoje trabalho e irei me aposentar daqui há um ano e meio. Muito orgulho desta instituição. Meu colegial foi na Escola Técnica Federal de Sergipe, onde só tirava A e fui aprovada após 3 anos, sem dever nenhuma matéria. Concluí o curso de Técnico em Telecomunicações. Retornei para fazer o pedagógico na Emef Prof. Costa Melo. Depois veio a graduação em Pedagogia e as três especializações. Então a resposta a sua pergunta é sim. Não ter dinheiro me ajudou a buscar as coisas com meus esforços e nunca quis interpretar o papel de vítima da sociedade. Meus pais me ensinaram o valor de ter e ser, então deu tudo certo.
DPascoal – COMO VOCÊ SE PREPAROU PARA SER O QUE É HOJE?
EDUCADORA CRIS SOUZA – Quem me preparou para a vida foram os meus pais, com ensinamentos pautados na verdade, respeito e amor ao próximo. como eu já expliquei nas respostas anteriores, eu corri atrás de realizar meus sonhos, porque sonhar é fácil, divagar sobre as coisas em cima de uma cama é surreal. Eu sonhei, coloquei no papel e corri atrás de todas as minhas metas. Eu escrevi no meu diário o que eu queria ter e ser. Eu queria ser professora, uma pessoa vencedora, alguém feliz e realizado. escrevi que queria ter um apartamento, carro e um bom salário para me manter bem. consegui quase tudo, menos um salário legal (pausa para sorrir). Ser professor num país que não coloca a educação em primeiro lugar, não é algo que satisfaça o profissional. Mas um dia tudo isso vai melhorar, eu acredito.
DPascoal – DURANTE O SEU APRENDIZADO EXISTIAM VOZES DISSONANTES? VOCÊ PODERIA CITAR ALGUM EXEMPLO E COMO VOCÊ REAGIU E SUPEROU?
EDUCADORA CRIS SOUZA – Minha história de vida não é um conto de fadas, muito pelo contrário, passei por vários perrengues. Recebi vários nãos, fui humilhada e excluída por ser negra e pobre. Mas passei por cima de tudo isso, porque este tipo de sentimento negativo não me pertencia, eu sempre soube que era mais que uma fala maldosa, um pensamento hostil, de alguém que não sabe o significado de empatia. Disseram-me uma vez que eu não conseguiria ser alguém, que eu nasci pobre e iria morrer pobre. Mas o pobre aqui em questão é pernicioso, malvado. Na verdade, queriam que eu desistisse de estudar e ler. Eu amava ler e lia tudo que podia. E esse meu amor por livros, incomodava as pessoas, que viviam à frente da tv ou batendo papo com os amigos sem pensar no futuro. Eu não tinha amigos, preferia a solidão do meu quarto e a companhia dos livros, revistas em quadrinhos e os romances Julia, Sabrina e Bianca. Eu era uma romântica incorrigível. Depois meu gosto ficou mais requintado e fui devorar os clássicos, de Machado de Assis, José de Alencar e tantos outros. Li quase tudo dentro da literatura clássica brasileira. Com as leituras me fiz forte e não deixei ninguém me dizer que eu não podia e não devia fazer. Tomei as rédeas de uma vez de minha vida. A leitura faz isso. Nos liberta.
DPascoal – VOCÊ PODERIA, EM POUCAS PALAVRAS TECER A SUA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL?
EDUCADORA CRIS SOUZA Eu sou pedagoga com 3 especializações. Professora concursada da rede estadual de Sergipe e da rede municipal de Aracaju. Passei no concurso de 1996, da rede estadual de educação de Sergipe, e em 2000, fui aprovada no concurso para professor, na cidade da Barra dos Coqueiros. fiquei lá até 2002, quando prestei o concurso para professor, na cidade de Aracaju e fui aprovada em uma boa colocação. eram só 50 vagas para professor e eu fiquei entre os 10 primeiros colocados. Pedi exoneração do município da Barra dos Coqueiros e comecei a trabalhar na escola do município de Aracaju, onde eu fui alfabetizada, a EMEF Otília Macedo, no bairro 18 do Forte. Para mim foi uma alegria imensa, trabalhar na escola que eu aprendi o bê-á-bá. Como eu acredito muito em Deus e nos seus sinais, achei que o Todo-Poderoso encontrou uma forma de me dizer, “Filha, você conseguiu viu? eu estou aqui e sempre estarei por perto, para te acolher e segurar sua mão”. Eu fico toda emocionada, quando eu lembro disso. Entrar na EMEF Otília Macedo, foi algo que me marcou muito. E Deus continuou me abraçando e amando. Quando eu paro para pensar, afinal comecei a dar aula, nas duas escolas que eu mesma estive como estudante, anos antes. Isso foi um milagre, bênção, e por isso encaro minha profissão com amor e paixão.
DPascoal – COMO VOCÊ SE TORNOU UMA ESCRITOR, POETA E ANTOLOGISTA?
EDUCADORA CRIS SOUZA Sempre gostei de escrever e ler, escrevi diários desde a minha adolescência e atualmente ainda escrevo. Gosto de escrever os meus sentimentos, minhas ilusões e desilusões. Faz parte de mim conviver cotidianamente com as palavras. Então sempre fui escritora e poeta. E como sempre gostei de ensinar, transformar-me em uma antologista foi fácil, porque a alegria que eu sinto quando alguém passa a escrever um texto literário, é indescritível, me liberta e deixa minha vida mais fácil. Minha missão é essa. Fazer leitor e escritor. Não importa as dificuldades, eu transformo as pedras em pontes, nunca em muros. Já encontrei pessoas que me disseram que jamais escreveria um verso e hoje, já publicaram livros. É algo encantador. Escrever é um ato de coragem e liberta o ser. É uma cartase. É terapêutico. Você começa a escrever e não quer mais parar. Cada poema, crônica, cada texto é um filho parido, que emociona. Eu estou concluindo meu primeiro livro de poemas. Durou 10 anos. É algo sublime. Uma década para publicar, mas tudo isso porque sou perfeccionista.
DPascoal – VOCÊ PODERIA ELEGER E FALAR UM POUCO SOBRE MUDANÇAS QUE VOCÊ TEVE QUE FAZER PARA CHEGAR AONDE VOCÊ ESTÁ?
EDUCADORA CRIS SOUZA – A gente muda, se transforma, é a lei da vida. Na troca com o outro, você aprenda e ensina. Eu mudei com certeza, hoje estou mais calma, mais tolerante e paciente. Mas para isso precisei fazer terapia, pois eu era um ser ansioso e muito acelerado. Graças a Deus eu aprendi a valorizar mais as coisas que não podemos comprar, ou seja, a amizade, estar mais com as pessoas que eu amo, a apreciar um pôr do Sol e o cair da chuva. A ouvir uma boa música. Antes eu achava perda de tempo. Após dois anos de terapia, enfim o diagnóstico: tenho TDAH, ou seja, tenho Transtorno de Déficit de Atenção. Muitas coisas foram compreendidas a partir deste diagnóstico. Fiquei em paz comigo mesma. Agora entendo minha pressa e minha vida acelerada. Minhas insônias e minha mente que nunca para. Entendo a minha necessidade de fazer rápido e prestar contas e ver resultados. A terapia é algo necessário nesta vida turbulenta nossa de cada dia. Agora eu me forço a parar, meditar e controlar minha corrida diária. Sei que vou chegar lá, então não precisa de pressa, estou querendo ficar igual a tartaruga, apesar que ainda estou mais para o coelho. Quem conhece a história da tartaruga e do coelho, sabe bem do que estou falando
DPascoal – FALE UM POUCO SOBRE AS SUAS REALIZAÇÕES COMO LÍDER E COMO CRIADORA DE TANTOS MOVIMENTOS ENVOLVENDO AS IDEIAS POÉTICAS/EDUCACIONAIS E
LITERÁRIAS.
EDUCADORA CRIS SOUZA – Como eu disse, descobrir que sofro de TDAH, foi crucial para mim, para manter a minha sanidade mental. Meu cérebro não para. Esta é a questão. E somado a isso, eu tenho um lado muito criativo, tenho ideias em demasia. O problema é frear, dar um stop vez em quando. Eu acordo de madrugada para escrever algo que me foi dado por Deus. É assim que eu vejo, sou instrumento de Deus. Nada é meu, o que eu crio, já foi criado por Ele. A criação é soprada para mim, como um sinal divino. E desta forma idealizei o Café Poético Sergipano em 2013, Sarau Sergipano de Mulheres em 2015, ALES-Academia de Letras Estudantil de Sergipe em 2016, ALCS – Academia Literocultural de Sergipe em 2020 e a AMS – Academia Municipalista de Sergipe em 2021. Na Educação também desenvolvi diversos projetos, nestes 23 anos de Magistério. Minha história com a Educação é uma história de amor, bem sucedida. Em relação as antologias, eu ajudei a muitas pessoas a publicarem, centenas, quiçá milhares. Publiquei 6 livros coletivos e um livro infanto-juvenil Carolina e sua boneca Lindinha, lançado em 2012, no museu da Gente Sergipana. Pois é, tenho muitas histórias para contar.
DPascoal – MANDE UMA MENSAGEM AOS JOVENS QUE QUEREM VENCER NA VIDA.
EDUCADORA CRIS SOUZA – Não sou muito de dar conselhos, mas sempre que posso digo para meus alunos e amigos: Vocês conseguem, acreditem. Não esmoreçam e sigam adiante, recolham as pedras no caminho e construam seus castelos. A vida é um presente divinal. Aproveitem bem, por favor.