Entrevista com a professora Gorete Lira

A nossa entrevistada de hoje é a professora Maria Gorete de Macedo Lira, de Picuí, na Paraíba, terra de Felipe Tiago Gomes, o criador da maior rede de escolas do Brasil, mais de 2000 unidades de ensino. Gorete é Coordenadora Pedagógica na Rede Municipal de Escolas de Picuí, Especializada em Educação de Jovens e Adultos, Escritora e Cordelista. E, muito em breve, estará coordenando a I Antologia Picuiense de Conto, Crônica, Cordel e Poesia.

DP – PROFESSORA GORETE LIRA, NOS DIGA QUEM É VOCÊ.

Eu sou Gorete Lira, tenho 58 anos, sou professora da rede municipal de ensino de Picuí-PB; quinta filha de um casal de pequenos agricultores que, com muita dificuldade financeira criou e educou seus sete filhos (um deles já falecido).

Ingressei na escola aos cinco anos e meio, já alfabetizada por meus pais e irmãos, o que me rendeu grandes embaraços junto à comunidade escolar que me enxergavam como uma “menina esquisita”.

Tive uma vida escolar marcada por muitas idas e vindas, aja vista algumas mudanças de moradia que minha família precisou fazer em busca de sobrevivência, bem como pela falta de políticas voltadas à educação, principalmente no interior do Nordeste, em pleno Regime Militar. Neste contexto, somente ingressei na segunda fase do Primeiro Grau aos quinze anos, quando alguns membros da família reconheceram o desperdício de me deixar sem oportunidade de estudos. 

Conclui o Segundo Grau, Curso Técnico em Contabilidade no ano de 1983 e, logo em seguida, fui morar na Cidade de João Pessoa. Por lá passei 13 anos, trabalhei em várias empresas do ramo da construção civil e, por último, na Gráfica Santa Marta, uma empresa maravilhosa que me fez despertar o desejo de ir em busca de algo melhor para minha vida. 

Já casada e com um filho de cinco anos, recebi uma atraente proposta de trabalho na Cidade do Recife, na área comercial de uma indústria de tintas gráficas. Com muito trabalho e longe do apoio da família, fui adiando o desejo de voltar a estudar. 

Oito anos depois, desempregada e sem muitas perspectivas de vida, eis que voltando para minha terra natal, me deparo com a oportunidade de ingressar no Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Campina Grande. De lá pra cá, nunca mais parei de sonhar.

Hoje faço parte do quadro de professores da Prefeitura Municipal de Picuí-PB, sendo que, no momento, estou atuando como Coordenadora Pedagógica. Também faço um trabalho de Tutoria junto ao Curso de Pedagogia da Universidade Paulista (UNIP) polo Picuí. Gosto de Leitura e, 

de vez em quando, me arrisco a escrever poemas, crônicas e cordéis. Coisa pequena, ou seja, algo muito simples, sem nenhuma pretensão…

DP – COMO PROFESSORA, CONSTRUTORA DE AMANHÃS, QUAL A SUA EXPECTATIVA PARA OS QUE TÊM O PRIVILÉGIO DE TÊ-LA COMO MESTRA EDUCADORA?

 Tendo como base os desafios que precisei vencer para chegar até aqui, eu me vejo como uma pessoa que deseja ardentemente a evolução da sociedade e que não consegue enxergar essa evolução, sem que seja através da educação.  Nesta perspectiva, eu busco sempre promover a motivação não somente dos alunos, mas de toda a comunidade escolar, pois acredito que a escola não se faz somente através da relação professor/aluno e sim, por um sentimento coletivo de crença na proposta de desenvolvimento para todos.

De minha parte, irei seguir buscando alternativas no sentido de contribuir com a construção de uma escola que enxergue o cidadão como sujeito de direitos, independentemente de sua cor, raça, crença, ideologia e, porque não dizer, de sua idade cronológica, aja vista, sabemos todos nós que, do nascimento até a morte, o ser humano estará em constante formação.

DP – COMO VOCÊ SE PREPAROU PARA SER UMA LIDER JUNTO AO SEU ALUNADO?

Eu acredito que o professor é um profissional que nunca deverá se sentir pronto, portanto, prefiro acreditar que estarei sempre em construção. Como minha experiência é quase toda voltada para a Educação de Jovens e Adultos e que, nesta modalidade de ensino, nós sempre nos deparamos com um público que tem melhor compreensão do papel do professor, eu uso sempre a estratégia de conhecer cada um dos alunos, de perto, buscando compreender, sem se tornar invasiva, os seus anseios em relação à escola.

A partir desse momento baseada na teoria do grande educador Paulo Freire de que o aluno da EJA é uma pessoa que já possui uma bagagem enorme de conhecimentos, eu dou início ao trabalho de autovalorização de cada um. Ou seja, a tentativa de levar o aluno a valorizar tudo aquilo que ele possui e a reconhecer a escola como um lugar onde a aprendizagem se dará através da troca de experiências, na qual todos aprendem e todos ensinam tendo eu, como professora, o simples papel de mediadora do conhecimento produzido. 

 DP – O QUE LHE DÁ MAIS PRAZER NA SUA PROFISSÃO?

Sem sombra de dúvidas, quando constato que, através da escola, o aluno tornou-se protagonista de sua própria história. 

DP – VOCÊ PODERIA FALAR SOBRE O MOMENTO ATUAL COM AS ESCOLAS FECHADAS E AULAS VIRTUAIS, POR CAUSA PANDEMIA?

Nossas escolas fecharam suas portas no dia 18 de março de 2020 e, de lá para cá, todos nós profissionais da educação temos tentado nos reinventar diuturnamente, na busca por um melhor atendimento aos nossos alunos. No entanto, muitos são os desafios com os quais nos deparamos, mas que, nem por isso, nos têm feito desistir de nosso propósito. 

Precisamos todos, de uma hora para outra aprendermos a conviver com o ensino remoto. Neste contexto, as tecnologias passaram a ser gênero de primeira necessidade, não somente para nós educadores, mas, também, para os alunos e seus familiares, fator determinante para o insucesso de uma boa parte do alunado, uma vez que poucas as famílias possuem ferramentas suficientes para atender todas suas crianças em idade escolar.

Visando não deixar nenhum aluno sem atendimento educacional, a escola oferece atividades impressas aos familiares que, semanal ou quinzenalmente, dependendo da modalidade de ensino, vão buscar e devolver aquelas que já foram realizadas. Contudo, considerando a relação professor/aluno/escola como um dos fatores principais para que a aprendizagem se desenvolva de forma satisfatória, acreditamos que em muitos casos ficarão lacunas que poderão perdurar ao longo da vida acadêmica desse aluno que apenas realiza essas atividades sem o direcionamento do professor.

Outro fator que tem contribuído significativamente para o insucesso do ensino remoto, no Brasi, como um todo, é o descrédito aplicado por boa parte das famílias dos alunos que, desconsiderando o esforço da escola no sentido de continuar promovendo a educação, preferem acreditar que as crianças estão sem escola porque os professores continuam recebendo seus salários sem trabalhar, enquanto eles, os pais e mães, precisam ficar o dia inteiro tomando conta de suas próprias crianças. 

DP – A CIDADE DE PICUÍ, NA PARAÍBA, É A TERRA DO MAIOR EDUCADOR DO BRASIL, FELIPE TIAGO GOMES, QUE CRIOU MAIS DE 2.000 ESCOLAS, ATÉ O ANO 1996, QUANDO FALECEU. COMO É QUE ESTÁ SENDO TRATADO ESTE PATRIMONIO PICUIENSE?

– Felipe Tiago Gomes é considerado por todos como o picuiense que mais fez por sua terra natal. Entre os muitos benefícios trazidos por esse grande benfeitor que recebeu o título de Comendador da Educação, estão a Escola Cinco de Agosto (hoje Ana Maria Gomes); o Ginásio Felipe Tiago Gomes; o Estádio Amauri Sales de Melo e a Rádio Cenecista de Picuí. Todos estes, com exceção da Rádio cenecista, no ano 2005, foram incorporados pela Prefeitura Municipal de Picuí.

Felipe Tiago Gomes é considerado por todos como o picuiense que mais fez por sua terra natal. Entre os muitos benefícios trazidos por esse grande benfeitor que recebeu o título de Comendador da Educação, estão a Escola Cinco de Agosto (hoje Ana Maria Gomes); o Ginásio Felipe Tiago Gomes; o Estádio Amauri Sales de Melo e a Rádio Cenecista de Picuí. Todo esse patrimônio, com exceção da Rádio cenecista, foi incorporado pela Prefeitura Municipal de Picuí, após a morte do seu idealizador.

No que diz respeito à preservação da história de Felipe Tiago Gomes, temos o Memorial que foi idealizado por seu sobrinho Valdomiro Severiano (in memoriam), que fica na antiga casa da Família Gomes e é mantido pela Prefeitura Municipal de Picuí. Temos também o Monumento a Felipe Tiago Gomes que fica no topo de um morro, em frente à Escola Ana Maria Gomes.

DP – DEIXE UMA MENSAGEM AOS JOVENS E A SEUS PAIS?

Precisamos continuar acreditando na educação. Sem ela, fica difícil acontecer a transformação necessária a cada um de nós, para que possamos nos constituir como sujeitos.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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