Entrevista/José Eduardo Dutra

 

“A eleição não é para secretária de Estado, é para o Senado”

 

O ex-senador José Eduardo Dutra deve anunciar oficialmente esta semana sua candidatura ao Senado Federal, com o apoio dos partidos que integram o bloco de oposição ao governo estadual. Dutra avisa que pretende disputar a vaga com a senadora Maria do Carmo, comparando o trabalho realizado pelos dois no Senado Federal. Ele lembra também, que em 1994 começou a campanha para senador com apenas 3% e depois foi eleito. Dutra também defende a vinda para a coligação do PMDB e o apoio do PSDB. O ex-senador alerta para o clima acirrado antes mesmo do início do processo eleitoral e que a coligação vai procurar todos os meios legais e jurídicos para garantir seus direitos. A seguir a entrevista:

 

 

Cláudio Nunes – Como o ex-senador analisa a decisão do TSE em determinar o cumprimento da verticalização de uma forma mais dura e logo depois recuou por conta da repercussão negativa?

José Eduardo Dutra – Primeiro é preciso lembrar que isto está acontecendo porque a Câmara dos Deputados não fez o dever de casa. Essa Emenda Constitucional que acabava com a verticalização e foi votada na Câmara este ano e o Supremo deliberou pela não valia nas eleições, este ano eu votei nela quando era senador em 2002. Naquela ocasião quando o TSE deu a interpretação de que deveria se cumprir a verticalização rapidamente os integrantes do Senado fizeram uma emenda para acabar com ela e foi aprovada rapidamente ainda no primeiro semestre de 2002. Ou seja, a emenda passou três anos na Câmara e não foi votada. Não existe espaço vazio na política, se o Congresso Nacional não faz o seu papel de legislar alguém vai fazê-lo e o Tribunal Superior Eleitoral acabou legislando. Neste caso especifico de agora alguns estão criticando o TSE por voltar atrás, mas ele agiu com bom senso. Porque não tem sentido você radicalizar um procedimento que ele já está com data marcada para se encerrar, porque a Emenda Constitucional que acabou com a verticalização foi aprovada e não está em vigor para esta eleição porque o Supremo entendeu que ela não respeitou o principio da anterioridade, com um ano de antecedência. Acho que o TSE agiu com bom senso e realmente se prevalecesse àquela decisão anterior teríamos uma insegurança jurídica muito grande nas vésperas das eleições e por isso vai valer as regras em 2006 iguais à de 2002.

CN –Já está definida a candidatura de José Eduardo ao Senado Federal?

JED – Nós tínhamos à vontade de marcar uma coletiva na última sexta-feira para anunciar a minha pré-candidatura. Só que em função da decisão do TSE nós adiamos a entrevista, porque o assunto principal que era nossa candidatura, certamente seria desviado por conta daquela decisão. Como já foi revogado essa decisão do TSE, vamos marcar uma nova data para anunciar esta pré-candidatura. Sou candidato a senador, meu nome já havia sido lançado como pré-candidato pelo PT para ser submetido aos partidos da coligação e eles entenderam que o meu nome é o melhor para disputar o Senado e agora é um fato consumado essa disputa.

CN – Não preocupa José Eduardo Dutra o alto percentual que as pesquisas vêm mostrando para Maria do Carmo, que disputará à reeleição ao Senado Federal, ou serve de estimulo para sua candidatura?

JED – É um estimulo. Em 1994 comecei a campanha com 3%. Faltando 10 dias para a eleição o Ibope mim colocava em quarto lugar, acabei sendo eleito. Em 2002 comecei a campanha com 8% contra 60% de João Alves, terminei o 1° turno com 28% e cheguei ao 2° turno com 46%. Sei que é uma campanha difícil nunca subestimei a senhora Maria do Carmo como candidata. É uma candidata forte não pelo que ela faz no Senado, o nome dela é forte como secretária de Estado. Objetivamente há um setor do governo estadual que é comandado por ela, toda a parte assistencial, mas a eleição não é para secretária de Estado e sim para o Senado. Vou procurar fazer uma campanha comparando o trabalho no Senado Federal já que os dois candidatos têm um mandato de senador. Vou mostrar o que fiz nestes oito anos que fui senador e espero que ela mostre o que ela fez como senadora durante oito anos. É uma eleição difícil, mas todo mundo sabe que pesquisa é o resultado do momento. Hoje ela está na frente, mas vamos ver o que vai acontecer no dia primeiro de outubro.

CN – Além da comparação do mandato de senador, José Eduardo Dutra também vai dar ênfase ao trabalho realizado à frente da presidência da Petrobrás?

JED – Sem dúvida. Até porque esta é uma oportunidade de desmentir algumas afirmações feitas pelo governador, na época em que eu estava à frente da Petrobrás de que a empresa não fez nada por Sergipe neste período. Isso é uma inverdade e é lógico que vou mostrar a verdade. Já fizemos isso no programa institucional do PT. Mas vou dar ênfase à questão do Senado, a eleição não é nem para presidência da Petrobrás, nem para secretário de Combate a Pobreza de Sergipe, a eleição é para senador.

CN – Como estão às composições para a coligação de Marcelo Deda? Existe mesmo essa possibilidade do PMDB se unir ao bloco da oposição em Sergipe?

JED – Se depender de mim isso é o que vai acontecer. Só que não depende de mim. O companheiro Deda já conversou com os dirigentes do partido. Agora está claro que o PMDB não terá candidato em nível nacional. Com esta decisão do TSE o partido estará liberado para alianças nos estados e não terá nenhum impedimento jurídico para uma aliança entre o PT e o PMDB, a questão é política. Se o PMDB se dispuser a marchar em torno da candidatura de Deda, que é para mudar o estado de Sergipe, será bem-vindo, mas quem vai decidir isso naturalmente são os membros do partido.

CN – A imprensa coloca que existe uma divergência por conta da indicação do candidato a vice-governador de Deda. Os partidos aliados já estão fechados com o nome do deputado Belivaldo Chagas, mas o PMDB pode indicar este nome. Qual sua opinião?

JED –  O companheiro Marcelo Deda num almoço que fez com a imprensa em dezembro do ano passado, quando confirmou a candidatura dele, disse que eram bem-vindos outros partidos para ampliar a aliança, mas esta vinda não poderia ser em detrimento dos partidos que já estavam consolidados no bloco da oposição. Existe objetivamente uma reivindicação do PSB em indicar o candidato a vice-governador que seria o deputado estadual Belivaldo Chagas. É um bom nome para vice, um parlamentar experiente e um nome com densidade eleitoral. Não teve nenhuma colocação do PMDB, que para sua vinda reivindica o Senado ou a vice. Até porque o PMDB ainda não deliberou se virar para o nosso bloco ou não. Na medida que isso aconteça e o partido colocar na mesa que deseja a vice, nós vamos discutir coletivamente com todos os partidos que fazem parte desta aliança. Acho que o PMDB, da mesma forma que o PSB, que o PL, que o PTB, que o PCdoB tem nomes qualificados para preencher o perfil para ocupar o cargo de vice-governador.

CN – Ainda existe alguma possibilidade de mesmo informalmente o PSDB em Sergipe apoiar a candidatura de Marcelo Deda?

JED – Sergipe acompanhou todo este processo. Em janeiro deste ano, logo depois do Pré-Caju, foi convidado com Edvaldo Nogueira para um almoço na casa do ex-governador Albano Franco onde coloquei claramente que a minha vontade era disputar o Senado, mas que não seria empecilho para uma ampliação de aliança e poderia perfeitamente disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Tempos depois voltamos a nos reunir, coloquei novamente esta avaliação, só que o prazo está se esgotando. Objetivamente existem resistências por parte do PSDB nacional e do PT nacional para uma aliança mesmo informal entre os dois partidos, principalmente que envolva cargos na chapa majoritária. Porque é diferente de em uma eleição um deputado do PSDB ou liderança subir no palanque do PT. À medida que você tem um candidato a governador e o outro partido um candidato a senador isso se caracteriza uma aliança política que já foi vetada pela direção do PSDB. O PSDB ainda não definiu seu caminho. Na minha opinião o caminho natural do PSDB era estar conosco, porque este caminho se iniciou no 2° turno da eleição 2002 onde a grande maioria das lideranças e parlamentares me apoiaram. Desde 2003 que o PSDB faz parte de um bloco de oposição na Assembléia Legislativa junto com o PT. Disse ao ex-governador Albano Franco e digo publicamente que vejo como natural uma aliança do PSDB com o PT, mas agora a palavra está com o PSDB.

CN – O ex-senador participou de uma campanha para o governador em 2002, principalmente no 2° turno. Como o senhor analisa esse clima pré-eleitoral já acirrado com problemas sérios como, por exemplo, o que envolveu os oficiais da Polícia Militar à disposição da Prefeitura de Aracaju?

JED – Realmente estou muito preocupado. Porque nós estamos vendo agora, quando ainda não tem nem candidato formalizado, o clima que nós vimos no 2° turno da eleição de 2002. Este episódio envolvendo os oficiais é um absurdo, nunca vi isso na minha vida. Fico muito preocupado. Nós pretendemos fazer uma campanha de alto nível e vamos fazê-la. O povo de Sergipe merece uma campanha em torno de propostas, mas não vamos ficar calados se continuar esta escalada de arbitrariedade que estamos vendo. Nós vamos buscar todos os caminhos legais e jurídicos para proteger os direitos da nossa coligação, os direitos de numa democracia nos apresentar com uma candidatura de oposição.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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