ESTRANGEIROS EM ARACAJU (III)

A Maçonaria em Sergipe exerceu um papel aglutinador, atraindo para os seus quadros jovens estrangeiros que chegavam a Aracaju em busca da sobrevivência. Alguns vinham com trabalho certo, como os trabalhadores ligados ao porto, aos trapiches, as companhias de navegação e outros serviços marítimos, outros eram aventureiros que tentavam várias atividades antes de fixarem residência, constituírem família, entrarem no processo de sergipanização. Alguns, com habilitação técnica, eram chamados como mão-de-obra especializada, necessária tanto na capital, quanto na Província, continuando no Estado.

 

O ingresso na Maçonaria significava aderir a uma sociedade, com seus ritos internos, seu código moral, e principalmente seu engajamento em causas e campanhas que queriam corresponder a uma atitude singular, de inspiração européia, bafejada pelo Iluminismo. Havia uma fama clara de que a Maçonaria tinha participado, no Brasil, do processo da Independência e continuava com seus propósitos políticos, integrada na campanha abolicionista e na propaganda republicana. A Loja Cotinguiba, de Aracaju, não fugia à regra maçônica e abria as suas portas para uma representação social eclética, abrigando estrangeiros e brasileiros, desde que todos assumissem o compromisso constante na ficha individual de pedido de inscrição, que passava por um exame e pela aprovação, até o ato iniciático que marcava, finalmente, a entrada do candidato na Maçonaria.

 

Isaac Uderman
Certamente pesava, além das franquias da loja aracajuana, as circunstâncias de que muitos dos estrangeiros abandonaram os seus países – por questões políticas ou até mesmo por intolerância religiosa. A partir de 1920 a Maçonaria recebe pequenas colônias de comerciantes, procedentes da Rússia, como Isaac Udermann, da Síria, como Rachid Abud e continuava a receber alemães, alguns dos quais engenheiros, como o austríaco Carlos Frederico Sattler, nascido em Graz, em 9 de setembro de 1891, iniciado na Maçonaria em 10 de junho de 1922, que, na qualidade de engenheiro Eletro-Técnico, foi diretor da Rede Telefônica Sergipana, constituindo família, (seu filho Carlos Sattler é maçom e foi Venerável da Loja Cotinguiba) falecendo em Aracaju em 3 de abril de 1973, mecânico como Paulo Roggs, nascido em Bielefeld, Alemanha, em 4 de março de 1889, falecido em Belmonte, na Bahia, em 16 de março de 1930, ou ainda o comerciante Antonio Henrique Carlos Stadler, nascido em 15 de abril de 1881, casado, iniciado em 25 de fevereiro de 1930.

 

Isaac Udermann, nascido em Kalins, na Ucrania (Rússia), em 10 de janeiro de 1890, era judeu e veio para Sergipe com Isaac Shuster, também russo, também judeu, que exerceu, informalmente, um papel de chefe da colônia judaica, e que teve uma casa comercial – Casa Oriental – na rua de Laranjeiras, 318. Udermann foi iniciado na Loja Cotinguiba em 8 de outubro de 1921, casou-se em Aracaju, em 16 de junho de 1925, estabelecendo-se como comerciante de móveis, na rua de João Pessoa. Integrou o corpo de sócios e de dirigente da Associação Comercial de Sergipe, vice-presidente do Cotinguiba Esporte Clube, integrado na vida aracajuana. Nos anos de 1940 era proprietário da loja “A Bela Aurora”, situada na avenida Sete de Setembro, 77, em Salvador na Bahia, especializada em tecidos – brins e casemiras. Isaac Udermann viveu até a década de 1960.

 

Rachid Abud, filho de Abraão Abud e de Helena Abud, nasceu em Safita, na Síria, em 3 de outubro de 1898. Era solteiro, comerciante, proprietário da Casa Abud, na rua de Laranjeiras, 77. Em 3 de fevereiro de 1923 iniciou-se na Maçonaria. Casou-se com Maria Augusta Cerqueira Abud, em 9 de setembro de 1943. Rachid precedeu a Sami Abud Ezarini, a Jorge Abud e a Miguel Housi Abud, e também a Kalil Abud, do Armarinho Abud, da rua de Laranjeiras, 97, nascidos, todos eles, em Alep, na Síria, no comércio de miudezas, armarinhos, na capital sergipana. A família Abud sobrevive com novas gerações integradas na vida sergipana em múltiplas atividades, inclusive comerciais.

 

Em 1918 o presidente Pereira Lobo facilitou a vinda para Sergipe de diversas pessoas, italianas, ligadas à construção civil. Bellando Bellandi, encarregado do revestimento das fachadas, Oresti Gatti, o pintor, Oreste Sercelli, decorador, Hugo Bozzi, construtor, com quem o Governo do Estado contratou várias obras, e outros, reforçados por construtores, marceneiros, carpinas locais, sob a coordenação geral de Firmino Barreto, empreiteiro da reforma do Palácio do Governo, que mudou a fachada, recebeu pintura interna de motivos europeus e foi finamente decorado e mobiliado.

Frederico Gentil
O construtor Frederico Gentil, nascido em Paola, Itália, em 7 de fevereiro de 1888, estava no grupo ou na denominada Missão Artística Italiana. Aqui fixou residência, entrou para a Maçonaria em 27 de julho de 1929 e aqui casou-se duas vezes, a primeira com Maria Santos Francisca Gentil, a segunda, em 18 de abril de 1964, com Jair Dantas de Brito Gentil. Frederico Gentil morreu em Aracaju, em 22 de julho de 1970, deixando família. Gentil era construtor licenciado, com escritório na rua de Geru, 163, vizinho da Fábrica Aliança, de Atíllio Gentil, que fabricava ladrilhos e artefatos de cimento em geral e vendia material de construção. Outra firma – A Construtora, de Gentil, Irmãos & Cia Ltda, na rua José do Prado Franco, 463, vendia material de construção, mosaicos, azulejos, material sanitário, cimento, canos de ferro e de chumbo. (Continua)

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

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