ESTRANGEIROS EM ARACAJU

Loja Maçônica Cotinguiba, fundada em 10 de novembro de 1872
São Cristóvão, Estância, Laranjeiras e Maruim cresceram aos auspícios da Emancipação Política de 1820/1824, contando com a colaboração de estrangeiros, de várias procedências, oficiais e artistas, trabalhadores, comerciantes, investidores, aventurados nas terras sergipanas. Quando o presidente Inácio Joaquim Barbosa mudou a capital para Aracaju, contou com o engajamento de estrangeiros reforçando o projeto de construção da nova cidade. Um bom exemplo é o de José Narboni, que exercia atividades consulares em Sergipe, e era um empreendedor acreditado. Foi ele, juntamente com o Barão de Maruim e com José Teixeira da Cunha – dos primeiros construtores da cidade, investindo em casas para os habitantes – que procediam de várias partes.

 

Nascido na Argélia, em 4 de abril de 1806, representou, por muitos anos, o interesse do Uruguai, como vice-cônsul, acumulando, em certo período com a representação da França, como em 1860, quando da visita do Imperador Pedro II a Aracaju e alguns municípios da Província de Sergipe. Comerciante, foi com ele que a administração da Província, tendo Salvador Correia de Sá e Benevides como presidente, negociou os móveis do Palácio provisório (hoje Delegacia Fiscal), que serviu ao Governo e, como Paço Imperial, abrigou Pedro II, sua esposa Tereza Cristina.

 

José Narboni foi figura destacada no período da presença do imperador em Aracaju. Além de compor a Comissão de Recebimento, e de felicitar, com Horácio Urpia, vice-cônsul de Portugal, sua majestade, ele, tomando de suas vestes oficiais, ofereceu-se para servir de Porta Bandeira, na Guarda de Honra do Palácio e ali permaneceu no seu posto de honra, porque – segundo o redator do Relatório da visita – “era espontâneo aquele ato louvável do estrangeiro, que deu assim uma prova do seu afeto ao soberano do país em que reside, representando duas nações estrangeiras”.

 

O alemão Adolfo Beck, que era despachante geral em Aracaju em 1873
Em 1872, já viúvo, ajuda a fundar a Loja Maçônica Cotinguiba, de Aracaju, em 10 de novembro de 1872, abrindo caminho para a entrada de outros estrangeiros, como o alemão, nascido em Hamburgo em 1º de novembro de 1832, Adolfo Beck, despachante geral que viveu muitos anos e morreu na capital sergipana em 4 de maio de 1896. A Maçonaria abrigou diversos estrangeiros, muitos deles marítimos – denominação para diversos trabalhadores ligados às atividades portuárias da nova cidade. Durante o ano de 1873, no começo, portanto, do funcionamento da Loja Cotinguiba, requereram iniciação maçônica Guilherme Frederido Roberto Koski, nascido na Alemanha em 26 de janeiro de 1832, H. M. Jansen natural de Holding, na Dinamarca, nascido em 6 de março de 1831, e Hans Jans, holandês, nascido em 4 de outubro de 1847, todos marítimos, todos solteiros.

 

No ano seguinte mais cinco estrangeiros pediram ingresso na Maçonaria. Foram eles: Luigi Concenza, nascido em Gênova, na Itália, em 20 de outubro de 1851, Italo Fioravanti, também de Gênova, nascido em 2 de janeiro de 1849, Pietro Latari, italiano de Milão, onde nasceu em 11 de fevereiro de 1848, H. F. Lagmance, nascido na Alemanha em 3 de outubro de 1839 e Guilherm Frederich Christian Hanteman, da Alemanha, nascido em 16 de agosto de 1846. Eram todos eles marítimos e, exceto o último que era casado, os demais eram solteiros.

 

O mesmo ocorre nos anos seguintes de 1875, 1876, 1878, 1879 e 1881. Jovens marítimos continuavam interessados na iniciação maçônica, como Matias Guthren, dinamarquês, solteiro, nascido em 21 de setembro de 1845, João Felizola Zucarino, de Florença – Itália, nascido em 23 de novembro de 1854, solteiro, Fritz Wilheim Bernhard Forters, alemão, nascido em 22 de setembro de 1849, Jonh Brask, de Glasgow, Escócia, registrado com súdito inglês, nascido em26 de agosto de 1831,casado,  Charles Lefevre, da França, nascido em 21 de março de 1825, casado, Nicolau Pungitori, italiano nascido em 15 de janeiro de 1845, comerciante, solteiro, falecido em Aracaju em 27 de março de 1909. Nicolau Pungitori entrou para a história de Aracaju principalmente por ter fundado o Teatro Carlos Gomes, em 1903, atraindo locatários dos cinematógrafos que trouxeram para a capital sergipana os primeiros metros de filmes, da novata sétima arte.

 

O Teatro Carlos Gomes foi transformado, mais tarde, em Cine – Teatro Rio Branco -, em homenagem ao Barão do Rio Branco, chanceler do Brasil, falecido no final de 1912. Chama atenção que um grupo de trabalhadores – 16 em sete anos –, jovens em sua maioria, livres de pensamento, procurassem a Loja Maçônica para uma militância que, em certa medida, no Brasil não era bem vista, a exemplo do Recife, com a chamada Questão Religiosa, elevando a voz do capuchinho Dom Vital em condenação aos católicos simpatizantes das lojas pernambucanas, que faziam a campanha abolicionista e a propaganda republicana e que, com maior ou menor ênfase, difundiam as novas idéias científicas e filosóficas, circulantes no velho e no novo mundo. 

 

Houve um hiato entre 1881, quando foi iniciado o holandês Gan Strekie, nascido em 17 de outubro de 1849, e 1895, quando os irmãos dinamarqueses Thomaz e Evans Jones, nascidos, respectivamente, em 5 de abril de 1868 e 6 de novembro de 1869 tiveram seus nomes aprovados. A partir de 1897 recomeça o processo de ingresso na Loja Cotinguiba, predominando até o ano seguinte a profissão de marítimo, como foram os casos dos irmãos holandeses James Le Banef, nascido em 14 de abril de 1872 e Horácio Frederich Le Banef – nascido em 18 de outubro de 1874 – que declararam a profissão de artista naval, encerrando, praticamente, esse primeiro ciclo. Em seguida os comerciantes ganham visibilidade e espaço. (Continua)

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

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