Filhos? Não, obrigada (só os de quatro patas)

   Não se passa semana sem que alguém me pergunte: Você tem filhos? Não vai ter?

   Essa pergunta me persegue, desde quando eu tinha uns 23 anos e  já estava casada pois, a maternidade é encarada como sinônimo de vida adulta e uma sequência natural da vida. Afortunadamente fiz 46 anos e as perguntas começaram a diminuir de uns anos para cá.

Não lembro em que momento percebi que não queria ser mãe.  Mas compreendi, num lampejo:  a maternidade não estava nos meus planos de vida. Nunca me vi grávida, eu nunca quis.

   Não é com euforia que digo isto, é apenas a minha escolha. Acredito que dentro das minhas limitações pessoais, e de minha condição individual, eu faço escolhas. Mulheres assim como eu, que optam por não ter filhos, somos alvos de muito preconceito e não somos vistas como muita simpatia.Eu sempre assumi publicamente minha opção por não ter filhos e existe uma pressão social muito grande ao mencionar isso. As pessoas ficam chocadas.

   É comum eu ser interrogada em todos os lugares quando o assunto vem à tona, escuto que estou errada, que vou me arrepender, que eu não sei o quão maravilhoso é ser mãe, se não penso na velhice e muitas são às vezes que sou acusada de egoísta ou no mínimo ,estranha. Percebo no olhar das pessoas um ar de surpresa e indignação. Mas o que esperar de uma sociedade obcecada com a maternidade?

   Sim, porque eu vejo a maternidade como uma construção social e não um desejo de todos. E por hábito,questiono o que me é imposto com muita sensatez.

   O dogma da santidade materna, o mito da mãe santa e da miragem dos filhos mais que perfeitos, enfim toda essa entidade inventada, ( porque somos humanos e cheios de defeitos)nunca me tocou.  O instinto materno pode e deve ser maravilhoso para quem os têm verdadeiramente. Não é o meu caso.

   Por quê tenho que viver nos moldes?

   Ser diferente na nossa sociedade, sobretudo original é defeito.  A vida e os costumes devem ser banalizados e devemos tornar tudo homogênio. Todo mundo igual, a mesma cartilha e receitas de felicidade cabem a todos os seres mortais. Assim se aprende!

   Porém, eu ouso extravassar as complexidades da vida e me permito optar pelos caminhos do meu sentir. Não preciso de um filho para me sentir plena. Jamais delegaria essa responsabilidade a outra pessoa.  Obviamente não posso e nem pretendo falar das turbulências boas e não boas de se criar um filho.  Não tenho essa experiência, mas posso falar em vivênciar sem elas.Esse artigo não pretende discutir qual a melhor maneira de viver, o que discuto aqui é que existem outros caminhos da realização, além da maternidade.

   Falo sobretudo dos julgamentos que impomos às pessoas e as maneiras como elas vivênciam . Falo nas singularidades e nos modos de ser diferente.Falo de vida…

   Afinal a felicidade não tem receita, é algo que depende do ponto de vista de cada um, e pode se encontrar em nossas vidas de várias formas. Aquele brilho no olhar, só acontece pela vida que escolhemos ter.
    Enfim, nessa tona das águas da vida sou um espírito que pensa, olha, medita e contempla o viver como uma experiência ímpar e ambígua. Enfrento a minha alma no espelho com serenidade e busco constantemente fugir desse espírito de manada, que tenta a todo tempo se enquadrar, seja lá no que for.

    Espero não ser mal compreendida com esse tema, não tenho nada contra mulheres que amam ser mães e estão felizes com suas escolhas e crias. Tenho muitas amigas vivendo esse papel e fico comovida ao vê-las tão bem . Também tenho um relacionamento maravilhoso com a minha mãe.

Foto: Cláudia Regina

   Sei que o Bruce (meu cachorro)me entende. Olho para ele e nosso silêncio mágico e olhar de cumplicidade, valem mais do que mil palavras ditas e  reditas. O Bruce sabe, ah ele sabe, o que vai no meu coração.

    A vida, a gente é que decide. E ela flui inevitavelmente….

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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