Cartas do Apolônio Cascais, 24 de março de 2005 Caros amigos de Sergipe: Ah, nada como tirar a mãe preta do cerrado e botar o rei congo no congado, seja lá o que isso queira dizer. O fato é que é ótimo estar de volta a este “Brasil varonil”. Vim para passear de tototó no aniversário da cidade, mas acabei dando com os costados no Saco do Rio Real. O país continua abençoado por Deus e bonito por natureza, mas inegavelmente, o mau cheiro da 13 de julho piorou sobremaneira. Fui recebido com pompa e circunstância pelos velhos amigos em pleno Aeroporto.Aliás, ao descer do avião, constatei o espantoso progresso das técnicas de dedetização no Brasil. Não fora isto, o Aeroporto Santa Maria já estaria definitivamente entregue às baratas. Para fugir do assédio carinhoso de antigos credores e da turma do doutor Grampollinha que me ameaçava com uma saraivada de tomates, entrei rapidamente no possante Honda cor de ébano do boa prosa Gélio Albuquerque e zarpamos a todo vapor rumo à bucólica Praia do Saco do Rio Real, não sem antes dar um rápido passeio por Aracaju, que está a cada dia mais linda. Já na praia, encontrei o amigo Jorge Carvalho. Nos cumprimentamos e ele me confidenciou que estava ali para descansar um pouco de suas estafantes aulas na Universidade. Lorota pura! Descobri mais tarde que na verdade, o nobre docente estava era fugindo de um aluno rebelde que tinha lhe jurado de morte por umas notas baixas que recebera. Bem feito! Quem manda reprovar o filho do Galindo? Assim que acordei no outro dia, fui à varanda tomar champanhe com caviar, apenas no intuito de humilhar a vizinhança. Deu certo, o Albano, vizinho da direita, fez cara de muxoxo e fechou a porta da sua bela casa à beira mar, construída irregularmente sobre as dunas. Como amante da boa música portuguesa que sou, coloquei o novo CD do Madredeus bem baixinho no som da sala. Os outros vizinhos me responderam ligando o mini trio que estava estacionado na garagem deles. Puseram um disco de uma dessas bandas de forró, do qual Sergipe quer ser o país. Eram os netos do Cabo Zé. Resolvi então que o melhor mesmo a fazer era caminhar na praia. De fato, o dia estava bem propício. Logo nos primeiros passos à beira mar, encontrei um conhecido. Minutos depois, cruzei com o mesmo sujeito na volta e ele me cumprimentou de novo. Fiz aquele sorrisinho sem graça, mas logo percebi que todos fazem assim por aqui. Comecei a ficar incomodado. Quando encontrava alguém pela segunda ou terceira vez, me abaixava para apanhar uns búzios ou desviava para um mergulho no mar. Foi do oceano que avistei o disposto Samarone com a sua vistosa bermuda azul e o ator Gilmar Carvalho com um lindo bermudão de seda com sapato e meias pretas. Te cuida, Glorinha Kalil! O fato é que caminhando à beira mar, admirando toda a exuberância do Atlântico e a magia dos trópicos, senti uma imensa alegria e agradeci a Deus por ter tido o privilégio de estar tão ligado a esta gente e a este belo país. Foi justamente quando uma importante questão filosófica que me acompanha há anos, voltou à tona: Se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, tinha que falhar logo na hora de fazer o Nivaldo Fernandes? Até semana que vem. Um abraço do Apolônio Lisboa.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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