Carnaval: identidades e considerações

Ailton Silva dos Santos

Mestre em História (PROHIS/UFS)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

E-mail: ailton@getempo.org

 

Fonte da imagem: https://rdmarketing.com.br/o-carnaval-e-o-marketing-uma-pequena-reflexao/

 

O carnaval é uma das festas mais populares e aguardadas do Brasil. Fincou raízes profundas na história do país, sendo uma celebração colorida e vibrante. De desfiles pomposos a blocos de rua animados, o carnaval é uma explosão de energia, música, dança e fantasia que reúne milhões de pessoas todos os anos.

Entrementes, a história do carnaval remonta há séculos, remetendo às festividades pagãs da Roma Antiga. A festa, durante o período pré-cristão, precedia a Quaresma e as pessoas se entregavam aos excessos e prazeres antes de um período de sacrifício e penitência. Originada da expressão latina Carnis Levare (afastar-se da carne), a palavra carnaval possui relação com o jejum, e remissão dos pecados, que deveria ser realizado durante a Quaresma. Contudo, posteriormente, foi assumindo cada vez mais o mote de subversão da ordem. Temporariamente, as coisas deixariam de ser como são e assumiriam uma outra forma; em geral, o seu inverso. Parte daí a utilização de fantasias que têm por ideia essa transformação do homem em uma outra coisa.

Em nosso país, recebendo influência da miscigenação social, o carnaval ganhou uma identidade característica. Contudo, durante o período colonial, era celebrado principalmente pela elite branca. Os pobres, muito menos os negros ou índios, não participavam dos bailes elegantes e requintados portando máscaras finas. No entanto, com o passar do tempo, a festividade se popularizou e incorporou elementos das culturas afro-brasileira e indígena, dando origem ao que conhecemos hoje.

Com o advento das escolas de samba, início do século XX, houve uma divisão de águas, pois essas agremiações se tornaram a principal representação da festa e, com o tempo, evoluíram para uma competição de desfiles grandiosos. Em seu início, e posteriormente, as escolas de samba eram compostas por comunidades locais, que desenvolviam enredos, fantasias, carros alegóricos e coreografias elaboradas. Contudo, é possível que o avanço de conglomerados empresariais e a construção de marcas tenham se apropriado do imaginário popular e a festa passou a ser encarada como mais um produto amplamente comercializado em fevereiro.

Não que deva ser negligenciado o potencial criador, e impulsionador, da economia que possui. Entretanto, é necessário pensar sobre por que os desfiles se afastaram das comunidades de forma social e geográfica; pois, enquanto cultura manifesta, o carnaval é uma arma para o desenvolvimento de características locais que impulsionam o desenrolar da aprendizagem e a identidade cultural.

Entretanto, os blocos de rua são uma força de representação importante. Esses grupos informais reúnem amigos, vizinhos e foliões para desfilarem e dançarem pelas ruas das cidades; em alguns casos, relembrando e mantendo características culturais do seu entorno.

Enraizado profundamente na história e na cultura do Brasil, o carnaval atrai milhões de pessoas e movimenta o turismo local e internacional de maneira ampla. Sua tradição é encarada de diferentes formas, entre os cristãos e não cristãos. Contudo, seu legado é rico e contagioso; e pensar o carnaval é concebê-lo como uma oportunidade de união em prol da criatividade expressa. Mas não podemos deixar de problematizar a sua formação, apropriação e, sobretudo, contradições socialmente observáveis.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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