Guerra até a vitória

Maria Luiza Pérola Dantas Barros

Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

E-mail: perola@getempo.org

Aviões japoneses atacando Pearl Harbor, por Ted Kautzky. Imagem publicada na Revista Life, em 22/12/1941.

 

Era uma manhã de domingo, 07 de dezembro de 1941. Alguns cidadãos norte-americanos ouviam a costumeira programação em seus rádios, outros cochilavam no sofá, outros ainda estavam em filas para irem ao cinema quando chegou a notícia que aviões japoneses tinham atacado, sem aviso prévio, a base norte-americana de Pearl Habor, no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Aquele momento marcaria o ponto de virada da nação, que até então discutia sobre se manter ou não isolada em relação aos acontecimentos daquele conflito.

A autora Lynne Oslon, na obra Roosevelt & Lindbergh: aqueles dias raivosos (1939-1941) (2022), nos apresenta como, nos anos do conflito que antecederam a declaração de guerra por parte dos EUA, havia internamente uma batalha, feroz e sem quartel pela alma da nação, entre intervencionistas e isolacionistas, personificados pelo presidente Franklin Roosevelt e Lindberg, respectivamente. Em jogo, para os intervencionistas estava a pouca chance de sobrevivência dos EUA como nação livre e democrática, caso Hitler conseguisse controlar toda a Europa e partisse em direção à África e à América do Sul.

Visto como um autêntico exercício de democracia por parte dos estadunidenses, esse debate seria deixado de lado com as notícias do ataque à Pearl Habor. A revista Time divulgou, na edição de 15/12/1941, a matéria intitulada The U.S. At War: What the People Said, que focava na reação da população ante aquele ataque, a partir de manifestações que se referiam aos japoneses como “bastardos amarelos”, que seriam vencidos com as “próprias mãos” e teriam os “dentes da frente” carimbados pelos americanos.

No mesmo dia, a Revista Life traria a matéria intitulada War: Japan launches reckless attack on U.S.. In desperate gamble on Victory or suicide it strikes first blow at Hawaii, abordando aspectos gerais de como ocorreu o ataque japonês e de seu poderio naval em relação aos EUA. Apresentava-se o país agressor como aquele que tomou a iniciativa, a partir de uma atitude ousada e imprudente, de atacar naquele contexto, tendo em vista se encontrar em uma situação em que não poderia recuar sem perdas, tão pouco avançar sem guerra. Destacava-se, na conjunção de texto e fotografias, como a frota dos EUA entrou em ação a partir daquele momento e como estava bem-preparada, porém também se apontava como o excesso de autoconfiança poderia ser prejudicial naquele contexto, em que se precisaria de persistência e coragem para alcançar a vitória final.

Essa matéria nos ajuda a perceber como os EUA eram representados naquele contexto: estavam preparados para o conflito, porém não subestimavam o agressor. Isso fica evidente na fala do presidente Roosevelt, divulgada pela Time na semana seguinte, em na matéria intitulada The U.S. At War, Full Blast. Destacava-se que os EUA não precisavam mudar bruscamente de rota para enfrentar o que se aproximava, mas acelerar aspectos do que já vinham fazendo, o que mobilizaria o povo para uma longa guerra que seria vencida, porém que iria requerer esforços em 7 dias por semana/ 24 horas por dia. Apontava-se que o que vinha pela frente seria uma longa e dura guerra contra “bandidos astutos e poderosos”, em que precisava-se abandonar de “uma vez por todas a ilusão de que podemos nos isolar novamente do resto da humanidade”.

Mesmo que o debate interno entre intervencionistas e isolacionistas tivesse cessado em virtude da união nacional em pró da vitória final, aspectos desses embates ainda seriam perceptíveis nas falas tanto do presidente, quanto de Lindberg, na já mencionada edição da Time de 15/12/1941, quando afirmava: “Nossas próprias defesas e nossa própria posição militar já foram negligenciadas por muito tempo. Devemos agora voltar todos os esforços para construir o maior e mais eficiente Exército, Marinha e força aérea do mundo”.

Assim, é possível perceber como aquele ataque representava uma mudança de postura dos EUA em relação ao conflito que, a partir daquele momento, passou a se relacionar diretamente com o país e a mobilizar seus cidadãos, a partir do ideal de nação unida, que abriria mão de seu estilo de vida em vista da vitória final. Para muitos, como o deputado Hamilton Fish, só existia a partir de então uma resposta para o ataque do Japão: a guerra até a vitória.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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