Elisângela Moura de Andrade
Mestranda do PPGEH/UFRN
Professora da rede estadual de ensino do RN/SEEC
À luz do preceito constitucional que concebe a educação como um direito universal, o Brasil, nas últimas três décadas, avançou no processo de universalização de matrículas na educação básica, notadamente, na etapa do Ensino Fundamental (do 1º ao 9º ano). Em decorrência disso, ocorreu a redução das elevadíssimas taxas de analfabetismo e da exclusão social por meio da inserção de milhões de indivíduos, pertencentes aos estratos sociais mais baixos, na cultura letrada e no mundo do trabalho cada vez mais dinâmico e exigente em virtude das tecnologias digitais.
Paralelamente, foram introduzidas avaliações, como as do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB e do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – PISA, respectivamente, em 1990 e 2000, para aferir a eficiência, sob a ótica neoliberal, dos sistemas educacionais quanto a parâmetros básicos de aprendizagens em língua portuguesa e matemática. A despeito das críticas que são direcionadas ao modelo daquelas avaliações, os resultados apontam que o ensino no país ainda tem muito a progredir no tocante ao pleno domínio de competências escritora e leitora.
Carências na produção textual, compreensão e interpretação de textos provocam dificuldades em todos os componentes curriculares – reprovação, distorção idade/série, sensação de insucesso e evasão escolar –, uma vez que são os meios pelos quais a capacidade de aprender é desenvolvida na escola. Isso coloca em evidência a questão do letramento entendido, para além da alfabetização, como o domínio de habilidades e competências no uso da leitura e escrita em diversas situações sociocomunicativas.
Desse modo, o letramento não é uma responsabilidade exclusiva de docentes de língua portuguesa, ele é um compromisso a ser assumido por todos os componentes curriculares na educação básica para o desenvolvimento da proficiência na escrita e na leitura e a consequente consecução da aprendizagem.
No ensino de História, a escrita é a linguagem pela qual o discurso histórico é enunciado; portanto, a construção de sentido das narrativas históricas passa pelas práticas letradas institucionalizadas na escola. Ao adotar procedimentos teórico-metodológicos inerentes à ciência histórica no intuito de resolver as questões do tempo presente, com o emprego de uma diversidade de fontes históricas (registros escritos, iconográficos, sonoros e materiais), as/os docentes de História transformam suas salas de aula em espaços de práticas de letramentos. Estas possibilitam aos estudantes o pensar historicamente e a ter um melhor entendimento da maneira como o conhecimento histórico é construído, aprendendo a observar, colher e selecionar informações.
Com isso, alunas e alunos desenvolverão competências para coleta, seleção e interpretação de informações, produzindo relatos sobre o conhecimento produzido. As novas mídias digitais são importantes ferramentas nesse processo, uma vez que disponibilizam uma infinidade de materiais que podem ser empregados como fontes históricas e de informação, além de estimularem o engajamento e a autonomia de discentes no próprio aprendizado.
Assim, a leitura consciente e crítica do mundo, objetivo da História ensinada, está associada à leitura da palavra, permitindo a formação de sujeitos críticos e capazes de manifestarem suas opiniões de maneira autônoma, clara e coerente, consequentemente, preparados para enfrentar os negacionismos de toda natureza, revisionismos históricos e a disseminação de notícias falsas (fake news) que, ancorados no potente uso de mídias digitais nestas primeiras décadas do século XXI, são mobilizados em prol de um projeto que visa destruir as bases da democracia e os limitados – mas essenciais – direitos conquistados por grupos marginalizados e minoritários da sociedade.