O Serviço de Luz e Força de Aracaju e as noites de blackouts

Maria Luiza Pérola Dantas Barros

Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo (GE/UFS/CNPq)

E-mail: perola@getempo.org

Instalações do Serviço de Luz e Força de Aracaju, em 1949. Fonte: Acervo do Arquivo Público Estadual de Sergipe.

 

Muitos talvez ainda não tenham ouvido falar no Serviço de Luz e Força de Aracaju (SLFA), criado pelo estado de Sergipe na década de 1940 para funcionar no lugar da Empresa Tração Elétrica de Aracaju, empreendimento privado dos anos de 1930, cujo maquinário e os muitos operários eram responsáveis pelo abastecimento de energia elétrica em Aracaju.

Em 1942, nos anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o SLFA estava sob comando de Hormindo Menezes, comerciante que, de acordo com o Processo Crime contra Nelson de Rubina, dirigia-se com frequência à praia de Atalaia com uma caminhonete para ajudar a recolher os corpos dos náufragos, vítimas dos torpedeamentos de navios na costa brasileira pelo U-507.

Esses torpedeamentos ocorreram no litoral entre Sergipe e Bahia, em agosto de 1942, gerando grande medo e revolta em parte da população. As autoridades locais temiam novos ataques e, com a inclusão do Estado, em 1943, no Plano Nacional de Blackout, passaram a realizar os blackouts programados, sempre anunciados pelo som das sirenes.

O memorialista Raymundo Mello, no artigo Histórias do tempo do Serviço de Luz e Força de Aracaju, nos relata que o blackout ocorria a partir de determinada hora da noite, e durava até a manhã do dia seguinte, com o objetivo de nenhuma claridade ser avistada por aviões ou embarcações em trânsito, ficando sob responsabilidade do esquadrão da cavalaria da Polícia Militar, em vários grupos, a fiscalização externa das residências aracajuanas para garantir o cumprimento de tal medida.

Já o memorialista Murilo Melins, em Aracaju romântica que vi e vivi: anos 40 e 50, escreve que, em virtude do toque de recolher, poucas pessoas saíam às ruas durante a noite, mas isso não impedia que os boêmios frequentassem as “zonas”, nem que os seresteiros fizessem suas serenatas. Tanto os músicos dos cabarés quanto os artistas da Rádio Difusora possuíam “passes livres”, fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública, para andarem pelas escuras ruas de Aracaju sem sofrer severas punições.

Vale mencionar que esses blackouts programados resultaram em grandes lucros para o SLFA, pois as máquinas geradoras paravam durante algumas horas, sofrendo assim menos desgastes e economizando combustível.

O tempo passou e o crescimento econômico e social de Sergipe levou à criação de uma nova empresa, capaz de atender não só a capital como também a todo o interior do Estado. Assim, surgiu a Energipe – Empresa Energética de Sergipe S.A, atualmente Energisa Sergipe – Distribuidora de Energia S/A, criada pela Lei Estadual, nº 943, de 03/06/59, desaparecendo assim o SLFA.

 

Para saber mais:

BARRETO, Luiz Antônio. Dicionário de nomes e denominações de Aracaju. Aracaju: Banese, 2002.

MAYNARD, Andreza Santos Cruz. “Blitzkreig de Muriçocas” e outros problemas no cotidiano de Aracaju. Revista Cadernos do Tempo Presente, nº 10, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/tempo/article/view/2647/2280, último acesso: 01/05/24, às 12:10.

MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi: anos 40 e 50. Aracaju: UNIT, 2010.

MELLO, Raymundo. Histórias do tempo do Serviço de Luz e Força de Aracaju. Isto é Sergipe, 18 de janeiro de 2017. Disponível em: https://istoesergipe.blogspot.com/2017/01/historias-do-tempo-do-servico-de-luz-e.html, último acesso: 01/05/24, às 12:13.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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