Diego Leonardo Santana Silva
Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mestre em Educação e Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: diego@getempo.org
O ano era 1500; o dia 22 de abril, a expedição de Pedro Álvares Cabral (1467-1520) chegava aonde atualmente é a cidade de Porto Seguro, na Bahia. Naquele momento, a história do império português e dos indígenas que habitavam o que hoje chamamos de Brasil mudou para sempre. Construiu-se uma relação colonial entre os europeus e os povos que aqui habitavam e o choque entre duas visões de mundo completamente distintas.
Por um lado, estavam os portugueses e seu ideal expansionista. As grandes navegações, fruto de um interesse comercial aliado a um espírito aventureiro, levaram portugueses, espanhóis e outros povos a descobrir novos territórios. Lendas sobre ilhas paradisíacas repletas de riquezas existiam e o que hoje chamamos por América tinha regiões que se enquadravam nisso e ajudavam a ilustrar esse imaginário. A relação do colonizador com os territórios descobertos foi de conquista e dominação representando morte, doenças, exploração e uma total mudança na vida dessas pessoas. A floresta passou a ser explorada e desmatada em prol do interesse comercial com o dito “progresso” nos levando para uma relação distante com a natureza e de exploração com o outro.
No outro extremo, temos a relação que os povos originários tinham com Pindorama (nome dado pelos povos tupi-guarani para o território habitado por eles), que era diferente da que os portugueses tiveram. Estima-se que eles eram em torno de 2 a 5 milhões de habitantes divididos em mais de 1000 povos diferentes. Tinham seus hábitos, sua religião, suas línguas, sua cultura e viviam em harmonia com a floresta. Porém, todo esse modo de vida foi durante séculos representado como “selvagem”, “ultrapassado”, “bárbaro”, que deveria ser superado pelo “progresso da civilização”.
Após séculos sendo assassinada e escravizada, a população indígena diminuiu e, lamentavelmente, isso continua se reproduzindo atualmente com esses povos continuando a sofrer com a vulnerabilidade. O caso do Yanomami é o mais recente incidente no qual a população indígena foi abandonada. Entre 2019 e 2022, os casos de mortes por desnutrição aumentaram em 331% se comparado aos governos anteriores, o que serve de alerta para a necessidade de levar ajuda humanitária a esses povos. Isso, aliado ao aumento no desmatamento nos últimos anos, faz com que o Brasil tenha que repensar sua relação com os povos originários e com a floresta. Para isso, ouvir e aprender com uma visão de mundo diferente da que hoje predomina se faz necessário.
Lembrar dos povos originários é necessário e a preservação das florestas é um compromisso humanitário e o legado que o Brasil pode deixar para o mundo neste século. Nessa missão, os ensinamentos desses povos podem nos ajudar a repensar nossa relação com a natureza e estabelecer um compromisso de preservação das florestas e de respeito aos povos indígenas. No momento em que a humanidade caminha para um século no qual as mudanças climáticas começam cada vez mais a cobrar o preço da exploração indiscriminada do meio ambiente, ouvir aqueles que enxergam a relação com o planeta de maneira harmoniosa se faz necessário. Os povos originários têm muito a nos ensinar.
Saiba mais:
HUMANIDADES. Índios no Brasil. Revista Pesquisa Fapesp, 29 de mar. de 1998. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/indios-do-brasil/. Acesso em 10 de mar. de 2023.
G1 Pa. Desmatamento na Amazônia cresce quase 57% no governo Bolsonaro, diz Ipam. G1, 04 de fev. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2022/02/04/desmatamento-na-amazonia-cresce-56percent-no-governo-bolsonaro-diz-ipam.ghtml. Acesso em 10 de mar. de 2023.
FELLET, João; PRAZERES, Leandro. Sob Bolsonaro, mortes de yanomami por desnutrição cresceram 331%. BBC Brasil, 17 de fev. de 2023. Disponível em : https://www.bbc.com/portuguese/articles/cw011x9rpldo. Acesso em 10 de mar. de 2023.