The Boys, os super-heróis e uma sátira do trumpismo

Diego Leonardo Santana Silva

Pós-doutorando no PROFHISTÓRIA/UFS

Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Imagem retirada de: https://x.com/VoughtIntl/status/1543980703896858624

A série televisiva The Boys, inspirada nos quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson, produzida e exibida pelo Prime Video, terminou sua quarta temporada. Sendo mais uma produção que adentra no extenso hall de produções sobre super-heróis que se popularizaram nos últimos anos, The Boys se destacou por uma abordagem diferente da temática. E, na mais recente temporada, na forma como abordou questões políticas. 

Enquanto os heróis clássicos de produtoras como a Marvel e DC Comics possuem certo ar benigno, em The Boys a maioria dos super-heróis são maus, se acham superiores a todos e usam seus poderes para eliminar, oprimir e humilhar aqueles que são contrários a eles. Esses heróis também se tornaram um produto de uma empresa bilionária e obscura chamada Vought que gerencia suas vidas e carreiras como se eles fossem celebridades. Isso nos leva a uma reflexão sobre a real postura que as pessoas teriam se tivessem superpoderes. Será que pessoas assim seriam boas? 

Em meio a tantos personagens, dois deles demandam atenção. O Capitão Pátria, interpretado por Antony Starr, é uma mistura de Capitão América com Superman, usa como capa a bandeira dos EUA e é o ser mais poderoso deste mundo. O que ele possui de fama e força também tem de crueldade. Ao longo da trama, o personagem foi se mostrando como uma sátira do trumpismo e de ideias conservadoras embasadas em teorias conspiracionistas. O segundo é uma super-heroína que rompeu com o Capitão Pátria chamada Luz Estrela interpretada por Erin Moriarty. Ela se prontificou a denunciar as atrocidades de seus antigos parceiros e passou a ser atacada. Seus seguidores ficaram conhecidos como luz-estrelistas e começaram a ser perseguidos por conservadores.

Ao longo da quarta temporada, o Capitão Pátria e seus parceiros reproduzem ideias e falas de Donald Trump e de seus apoiadores. Defensor de costumes conservadores e de um ideal de um Estados Unidos purificado, o Capitão Pátria faz uso da Vought para difundir seus ideais e chegar ao poder. Aqui, táticas da ação política da extrema-direita tornam-se evidentes como a difusão de notícias falsas e a criação de teorias conspiratórias contra seus opositores e sobre o mundo em que estão vivendo. Seus adversários, representados aqui como luz-estrelistas, são acusados de serem pedófilos, degenerados, drogados etc. O desfecho da temporada remete a uma situação caótica planejada pelos aliados do Capitão Pátria que faz com que eles cheguem ao poder para colocar ordem e que depois resultará em um regime totalitário. 

Quadrinistas como Alan Moore, escritores e pensadores que se dedicam ao estudo da temática dos super-heróis defendem que esse culto a personagens do tipo é perigoso. Eles seriam individualistas, superiores e que, se preciso, fazem uso da violência para resolver os problemas. Tais ideias sendo difundidas fariam com que soluções políticas desse tipo se difundissem contribuindo para a normalização e aceitação de figuras desse tipo. Seguindo por essa linha, não à toa, o Capitão Pátria acabou sendo adotado por apoiadores de Donald Trump e aquilo que deveria ser uma crítica acabou se tornando uma apologia.

O que será da série nos próximos anos só o tempo dirá. Mas pelo que temos no momento, The Boys acabou se tornando uma referência de uma época na qual a democracia está ameaçada e figuras autoritárias e violentas almejam liderar cidades, estados e países. 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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