Unir a diversidade do bioma de caatinga com um refrescante banho no rio são Francisco é uma aventura que cada vez mais atrai turistas, ávidos por trilharem a Rota do Cangaço no sertão de Sergipe. O Monumento Natural do Angico pode ser o ponto de partida para a ecoaventura, localizado entre os municípios de Canindé do São Francisco e Poço Redondo, no Alto Sertão de Sergipe. São mais de 2.400 hectares de bioma protegido, compreendendo cactáceos, pequenos arbustos, flor de mandacaru, répteis e muita história para contar. E de presente, a natureza foi generosa refrescando o final da trilha com o caudaloso banho de rio no São Francisco.
O roteiro inicia partindo de Aracaju (SE) logo no amanhecer do dia. Poço Redondo fica a cerca de 200km da capital sergipana, numa região denominada de Alto Sertão. O ponto de partida é o Centro de Convivência da Unidade de Conservação da Grota do Angico, mantido pelo Governo de Sergipe na zona rural do município. Não é difícil chegar lá, mas o turista deverá estar com o sentimento de aventureiro, posto que, chegar até lá exige trilhar por uma estrada de mais de 12km de piçarra.
No Centro de Convivência há infraestrutura para começar bem a trilha. Conta-se que ali era a antiga sede da fazenda Angico, visitada frequentemente por Lampião e seu bando. Por conta disso, um dos cômodos foi reformado e a casa antes de taipa foi mantida para resguardar a memória. A unidade também ganhou um mirante de onde se pode ver a magnitude da região de caatinga, a perder de vista.
A trilha é considerada de fácil grau de dificuldade, guiada por um agente florestal e de turismo, que mostra os tipos principais de cactos, bromélias e árvores nativas da caatinga.
O Plano de Manejo do Mona Angico, em sua caracterização florística, registrou a ocorrência de mais de 157 espécies nos limites da Unidade de Conservação, distribuídas em 108 gêneros e 45 famílias, ou seja, uma rica biodiversidade que alguma delas podem ser apreciadas na trilha.
Na caracterização da fauna, identificou-se a presença de 24 espécies de mamíferos; 124 de aves, sendo 14 espécies consideradas como endêmicas do Brasil e duas presentes na lista de espécies ameaçada do Ibama (2003), vulneráveis à extinção: o jaó-do-sul (Crypturellus noctivagu) e o chorozinho-de-papo-preto (Herpsilochmus pectoralis); 25 espécies de répteis e 18 de anfíbios.
Atmosfera nordestina – O visitante percorre cerca de 1km de trilha partindo do Centro de Convivência, quando se depara com uma parte mais íngreme.
Chega-se a Grota do Angico propriamente dita, cenário da morte do maior ícone do movimento do Cangaço, Virgulino Ferreira, o Lampião, além de sua companheira, Maria Bonita, com nove cangaceiros. Há uma cruz em cima de uma pedra datando o fato, ocorrido em 28 de julho de 1938, ou seja, 80 anos atrás.
Há muitas histórias sobre o caso, mas é sabido que o local é místico e envolto de uma atmosfera bem nordestina e quase que sagrada. Todos os anos, em julho, pesquisadores, familiares, nordestinos viajam até o local, para celebrarem uma missa em homenagem ao Pai do Cangaço. A celebração é intensa e cheia de ritos.
O passeio só está começando. Relaxe um pouco mais com as histórias contadas pelos guias e deixe a atmosfera contagiar, pois mais uma caminhada está por vir.
A trilha de mais 1km, ora sobe, ora desce, passando por percursos de riachos secos e muita história que vai desde Padre Cícero, Lampião, primeiras estradas de ferro, ao cangaceirismo, entre outros.
Percebe-se que além da preservação ambiental há todo o contexto sociocultural da região, protegendo o sítio histórico e ambiental da Grota do Angico, além de ser uma região de desenvolvimento de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública, associada ao desenvolvimento de assentamentos e ramos econômicos que envolvem a caatinga, a exemplo do mel de abelha, dos doces caseiros, dos produtos derivados do leite.
O turista observa que a trilha possui lixeiras e cordas em alguns trechos mais íngremes, além de sinalização, transmitindo mais segurança para quem a percorre.
Ao longe, ver-se o caudaloso Velho Chico, já na divisa com Alagoas.O Eco Parque do Cangaço, um investimento privado à beira do rio São Francisco, está por vir e é uma boa pedida para se refrescar, alimentar o corpo e relaxar bem ao estilo nordestino: em uma das redes à beira do rio e na sombra das mangueiras, com a brisa do São Francisco batendo no rosto, depois de muito uma caminhada ao sabor do calor sertanejo.
Dicas de Viagem
Consulte uma agência de viagem para fazer a trilha. Caso queira realizá-la também poderá agendar a partir do Monumento Natural da Grota do Angico através dos telefones dos técnicos da área ambiental.
Leve bastante protetor solar e use roupas leves. Na alta temporada, faz muito calor e não chove. Caso prefira conhecer a região quando há menos enxurrada de turistas, prefira ir nos meses de junho, julho e agosto.
Nas imediações de Canindé do São Francisco há restaurantes com bom custo/benefício, que servem desde comida nordestina à caseira. Pesquisar antes de ir é sempre uma boa dica. Também há boas instalações e hospedagens. A localidade cada vez mais atrai os olhares da infraestrutura hoteleira e empreendimentos turísticos.
Há também bons motivos para se hospedar na cidade alagoana de Piranhas (AL), de onde o turista poderá partir em embarcações pelo rio São Francisco até o Eco Parque e de lá realizar a trilha.
Caso vá até o Eco Parque do Cangaço por conta própria, paga-se um valor pela entrada no estabelecimento. Também poderá ser agendada a visita através do telefone (79) 9 9869-6428.
Como chegar
Partindo de Aracaju (SE) há diversos percursos, mas todos eles recorrem à BR 101. Pode-se ir pela BR 235, sentido Itabaiana/ Nossa Senhora da Glória/ Canindé (Rota do Sertão). Depois de Itabaiana, segue-se pela SE 414, SE 212, e por último SE 208. A estrada está totalmente recuperada. Chegando na cidade de Poço Redondo, percorre-se um pouco mais no sentido Canindé do São Francisco e verá do lado direito placas indicando a estrada de piçarra que levará ao Centro de Convivência do Monumento Natural da Grota do Angico ou ao Eco Parque do Cangaço.
Gastroterapia
Os doces da Dona Nena são os sabores do Sertão de Sergipe em compotas. Umbu, mangaba, jaca, mamão, goiaba, doce de queijo, de leite batido, em bolas, com ameixa, doce de carambola. Ufa! E as cocadas? O ponto é parada obrigatória na rodovia SE 206, entre os municípios de Nossa Senhora da Glória e Monte Alegre de Sergipe. Dona Nena ganhou fama na região graças aos seus mais de 25 tipos de doces caseiros fabricados, artesanalmente, vendidos todos os dias, das 7 às 18h. A procura é tão grande que são vendidos mais de 10kg de cocada por dia. Os preços variam de R$ 2 a R$ 10 (doces) e de R$ 3 a R$ 6 (biscoitos).