Jackson incorpora o sonho de uma geração

Guardadas as proporções e a intensidade das sevícias, Jackson Barreto lembra Dilma Rousseff, aquela que sofreu na pele as consequências de ter combatido a ditadura e chegou à Presidência da República. Ele é o primeiro governador de Sergipe que chegou lá depois de ter sido preso político durante a Ditadura Militar. E por duas vezes, em 1972 e 1976.

Na luta pela democracia, além de corajoso deputado estadual e deputado federal, foi membro da coordenação da Campanha Nacional pela Anistia, em 1979, e um dos líderes em Sergipe da Campanha pelas Eleições Diretas, em 1984. Salvo algumas idas e vindas, quase sempre militou no MDB/PMDB, onde está há cerca de 30 anos.

"Jackson Barreto, na minha recordação, estará sempre ligado à construção da democracia no Brasil. Estará sempre ligado à luta que nós todos brasileiros travamos para que esse país se transformasse no que ele é hoje: uma das maiores democracias do mundo", disse a presidenta em janeiro de 2013, durante a inauguração da ponte Gilberto Amado, quando assistida pelo próprio Jackson e por Déda.

Nunca é demais lembrar que fatos dessa importância forjam uma personalidade. É por isso também que a biografia de Jackson manteve-se praticamente preservada, apesar da cassação da Prefeitura de Aracaju em 1988 e dos vários processos que respondeu.

Campeão de votos de muitas eleições, fenômeno eleitoral nos anos 80 e 90, ele quase realizou o sonho de governar Sergipe em 1994, quando foi derrotado no segundo turno pelo senador Albano Franco. A derrota ficou entalada na garganta por 20 anos.

Mas Jackson Barreto operou para finalmente chegar a governador de Sergipe em abril de 2014, quando Marcelo Déda deixaria o cargo para tentar o mandato de senador. Isso foi combinado em 2010, ano em que Déda disputou a reeleição ao governo e ele, um político experiente, aceitou ser candidato a vice-governador na chapa do jovem e talentoso aliado e ex-adversário.

Quis o destino que a posse tenha ocorrido quatro meses mais cedo, após a morte prematura do titular, que ele já substituía interinamente sete meses antes por causa do seu estado de saúde.

O então deputado federal Jackson Barreto aceitou ser candidato a vice-governador de Marcelo Déda porque esse seria o degrau definitivo para finalmente galgar a soleira do governo do Estado. Dos quatro da sua geração, incluindo João Alves, Albano Franco e Antonio Carlos Valadares, ele ainda sonhava em chegar lá. Chegou.

“Cumprindo um dever constitucional, compareci ao Poder Legislativo do meu Estado para investidura no cargo de governador de Sergipe ainda com o coração consternado pelo prematuro desaparecimento de um amigo leal e, acima de tudo, um homem público que nos dizeres da presidenta da República, Dilma Rousseff, exerceu a política com P maiúsculo. Doravante assumo a tarefa de sucedê-lo na gestão do Poder Executivo sergipano, mantendo a unidade da nossa aliança e do nosso projeto, consciente da minha responsabilidade e dos meus compromissos para com todos os cidadãos sergipanos que, desde 2007, apostaram no projeto que coletivamente construímos”, afirmou, confrangido, diante de uma Assembleia Legislativa repleta, após assinar o termo de posse na terça-feira, 10 de dezembro de 2013.

Durante praticamente dois anos, desde que assumiu a vice-governadoria, em janeiro de 2011, Jackson se comportou como auxiliar de luxo de Marcelo Déda, ajudando a fazer a articulação política do governo, buscando dar ânimo à máquina e exercendo com certa timidez, para os padrões jackseanos, o direito de ser mesmo ungido candidato do grupo.

A partir do episódio Proinveste e da confirmação da enfermidade de Marcelo Déda, a voz rouca de Jackson voltou a ganhar força. Até a aprovação do financiamento federal, que só aconteceu em maio, após um longo e doloroso período de gestação, Jackson fez diversos apelos ao bom senso dos deputados da oposição, incluindo reunião com a presidenta da Assembleia, Angélica Guimarães. Com a aprovação, ele soltou o verbo.

“Não vejo motivos para festa. Lamento muito que o senador Eduardo Amorim tenha comandado o grupo dele para, através desse projeto, maltratar e humilhar os interesses do povo de Sergipe. Ao invés de levar em conta os benefícios para Sergipe e sergipanos, Eduardo Amorim e seu grupo pensaram só nos votos de 2014”, disse às vésperas da sanção do projeto, ato ao qual não compareceu.

Quando Déda se afastou em maio, ele encarou a interinidade com a disposição de quem agarra o último coco na praia deserta, mas com lealdade. Mexeu-se bastante, inaugurou muitas obras, e manteve a casa exatamente como o titular deixou. Cumpriu o compromisso de não mexer na estrutura administrativa do Estado. Mas começou 2014 disposto a fazer do seu jeito, recuperando o tempo perdido e ganhando terreno. O mundo deu mais uma volta e o idealista que sonhou ser governador trabalhou incansavelmente pela reeleição, até consegui-la no dia 5 de outubro.

O homem que incorpora a chegada ao poder daquela geração que sofreu na luta pela democratização do Brasil foi reeleito governador de Sergipe com os votos de 537.793 sergipanos, o que corresponde a 53,52% dos votos válidos, contra 41,37% de Eduardo Amorim (PSC). Ao seu lado, Belivaldo Chagas (PSB) elegeu-se vice-governador. Ambos foram empossados no primeiro dia deste ano com festa em praça pública. Agora terão que arregaçar as mangas para resolver os problema do Estado, que não são poucos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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