Lisboa, 18 de fevereiro de 2005
Caros amigos de Sergipe
Folguem pecadores, a boa nova finalmente se anuncia. Após milênios de espera, o filho do Criador em pessoa estará de volta à casa do Pai para nos redimir de todos os pecados.
Pelo menos é o que garante um grupo religioso que anuncia o tão esperado milagre para o dia 11 de março do corrente ano.
Para quem imaginava o retorno num cenário compatível com a antiga Jerusalém ou coisa que o valha, uma grata surpresa. O Messias surgirá aí mesmo na Barbosópolis e – pasmem os senhores – em pleno Espaço Emes.
Como? Não acredita? Pois é só olhar nos panfletinhos que estão grassando por todo o torrão natal do Adilson Maguila. Não há a menor dúvida. Neles se lê claramente: o Redentor surgirá justo naquela casa de shows que todo mundo costumava pichar por causa da acústica e do calor horroroso.
Pois acho bom a humanidade rever logo os velhos conceitos termo-acústicos, pois se Ele que Ele escolheu o tão calorento lugar, quem somos nós para reclamar de alguma coisa? Saudemos pois as altas temperaturas e o milionário som de Ricardo.
Claro que boa parte da humanidade está exultante. Porém – é inevitável – outra parte pergunta ‘por que logo em Sergipe’? Por que não em Roma que é a terra do Papa? Ou talvez em Bagdá, onde a sua aparição poderia dar um fim ao domínio americano sobre aquele povo tão sofrido? Ou até mesmo aí mais perto na pequena Nova Jerusalém que tanta bufunfa fatura com o turismo religioso?
Não seria uma injustiça histórica o Senhor descer justo nas terras de João Muamba e Almeidinha? No fundo eu também concordo, mas são os desígnios de Deus meus amigos. Não nos cabe questioná-los.
O que é certo é o seguinte: se a história dos doze apóstolos se repetir, o Gilmar Carvalho certamente será candidato a Judas, Candelária à Maria Madalena e Luiz Mendonça, ao cargo de Pôncio Pilatos.
Bem, é claro que o Venâncio Fonseca tentará levar o Homem para uma sessão extraordinária na Assembléia Legislativa. O perigo é que ele possa dar lá um daqueles ataques e acabe expulsando os vendilhões daquele verdadeiro templo da democracia.
O fato é que a suposta volta do Filho do Criador já está se tornando motivo de uma acirrada disputa política nas altas rodas da terrinha. O big boss anda espalhando que a visita do Messias deve-se à inabalável fé dos sergipanos que oraram fervorosamente nas últimas semanas pelo pleno restabelecimento da sua saúde. As caravanas do interior já estão sendo organizadas pelo pessoal da secretaria da pobreza de Maria do Carmo.
Já o prefeito Déda atribui o fato a uma razão –digamos- mais festiva. Argumenta que sendo este ano, o ano do Sesquicentenário da capital sergipana e animado com a extensa programação que a Prefeitura da cidade pretende realizar para marcar a efeméride, Ele teria escolhido as ruas de Ará para Sua volta triunfal.
Comenta-se até que o alcaide já estaria tentando com a produção do evento, uma participação especial do Cristo em pessoa na noite do grande show de comemoração do Sesquicentenário da cidade, onde Ele apareceria em plena Praça dos Mercados em meio a um apoteótico foguetório ao lado do prefeito e o sempre animado mestre de cerimônias Sidney, que gritaria ‘É Deda, É Deda, É Cristo, É Déda’ a plenos pulmões sob o delírio da platéia ensandecida.
Não sei se tudo isso é verdade, ou não passa de mera jogada de marketing para promover um evento gospel, mas, por via das dúvidas estarei aí para ver se as previsões se confirmam, afinal vê-lo de perto é tudo que queremos e, como diz o filósofo ‘tudo em tudo é tudo o que somos’.
Ate semana que vem
Um abraço do
Apolônio Lisboa