João Melo e a música (sergipana e brasileira)

João Melo (Foto: Álbum de família)
Ao que parece, a gravação do disco da Casa Edson, na voz do popular Baiano (Manoel Pedro dos Santos, 1887-1944) intitulado LUNDU DO NORTE, foi o primeiro registro da musicalidade sergipana. Na verdade versos e melodia do Lundu do Norte eram da Taieira de Lagarto, cujo estribilho ainda hoje ecoa em Sergipe: Inderé, ré, ré, Jesus de Nazaré, certamente retirados de Festas e Tradições Populares do Brasil, de Melo Morais Filho, livro publicado em 1901, e que contou com a grande colaboração de Silvio Romero, pesquisador das festas de Santos Reis e de Nossa Senhora do Rosário de sua terra natal. Silvio Romero registrou muitos cantos populares de Sergipe e do Brasil, que ainda hoje sõ cantados pelo povo em Laranjeiras, Japaratuba, Itabaiana, São Cristóvão, Pirambu, e outros lugares.

O poeta Francisco Leite BITENCOURT SAMPAIO (1834-1895), nascido em Laranjeiras, advogado formado em São Paulo, com banca bem freqüentada,  fundador da Federação Espírita Brasileira, é o autor da letra da clássica modinha QUEM SABE , música do maestro Carlos Gomes, em 1859. A composição não envelhece, tem sido regravada, mantendo-se como a mais bela página do cancioneiro popular do Brasil: (Tão longe/ de mim distante/onde irá/onde irá/ meu pensamento).

HERMES- FONTES, o poeta da Fonte da Mata, nascido em Boquim, em 1888, viveu no Rio de Janeiro até 1930, militando em revistas e jornais e deixando vários livros de versos e pelo menos duas composições, em parceria com Freire Júnior, aplaudidas e imortalizadas: LUAR DE PAQUETÁ e A BEIRA MAR, gravadas por cantores contemporâneos como Orlando Silva e Carlos Galhardo, e ainda hoje circulando no mercado fonográfico.

Em 1931, o jornalista e poeta Orestes Barbosa (1893-1966), célebre autor de páginas imortais da seresta brasileira, esteve em Aracaju, publicou artigo, no jornal A TRIBUNA,edição do dia 28 de abril, sobre o livro O BRASIL NA HISTÓRIA, do sergipano Manoel Bonfim. Em 1932, em parceria com Eduardo Souto, lançou SERGIPANA, Fox-canção, gravado por Francisco Alves, louvando a cidade de Aracaju, como o fado faz com Lisboa, tornando-a mulher nas letras e melodias imortalizadas.

O sergipano de Aracaju LUIZ AMERICANO Rego (1900-1960), filho do mestre de banda Jorge Americano, serviu ao Exército como músico, em Maceió, antes de mudar-se para o Rio de Janeiro onde tornou-se um dos mais importantes instrumentista – clarineta e saxofone -, integrante de grandes e históricos grupos cariocas, autor de vários sucessos do disco, como LÁGRIMAS DE VIRGEM.

CARVALHINHO, cujo nome de batismo era José Prudente de Carvalho, nasceu em Aracaju em 1913, morrendo no Rio de Janeiro, em 1970. Autor dos clássicos carnavalescos MADUREIRA CHOROU (1957), em parceria com Júlio Moreira, e QUEM SABE, SABE (1956), com Joel de Almeida, campeões de vendagens, que ainda hoje são lembrados pelos brasileiros.

Muitos outros nomes, desde o Frei de Santa Cecília, de São Cristóvão, passando por Manoel Bahiense, de Laranjeiras, Joaquim Honório e o cônego Vitorino Fontes, de Estância, o pianista Carlos Dantas, a pianista Helena Abud, o maestro Ubirajara Quaranta, os cantores Pedrinho Rodigues, José Bitencourt, Baltazar, Edildecio Andrade, que era a voz e  o violão do Trio Iraquitã, o maestro PINDUCA – Luiz da Anunciação, nascido em Propriá, figuram entre os sergipanos que tiveram participação destacada no cenário da música brasileira.

Foi, sem dúvida, JOÃO MELLO, baiano sergipanizado em Boquim e em Aracaju, o nome de maior relevo que Sergipe apresentou ao Brasil, como instrumentista (violonista), compositor e cantor, que assinou grandes e repetidos sucessos na discografia da MPB. Além das qualidades de profissional da música, JOÃO MELLO exerceu, por muitos anos, a produção musical da gravadora PHILIPS n Brasil, com os seus selos competitivos. Isto criou para JOÃO MELLO a oportunidade de enriquecer o cenário musical brasileiro, através do lançamento de artistas que alcançaram destaque nacional.

É difícil distinguir qual a face do artista que ganhou mais brilho, se o cantor afinado, chamado de O CANTOR MÁXIMO DE SERGIPE, se o violonista de batida nova, que precedeu a João Gilberto, o compositor dos rtimos brasileiros, o produtor musical, ou, ainda, o correto apresentador do VIDEOTECA APERIPÊ MEMÓRIA, NA TV Pública de Sergipe, ou, ainda, as apresentações, no Teatro Ateneu, abrindo portas para os novos que na própria terra se mostram sensíveis aos movimentos teatrais e musicais brasileiros.

JOÃO MELLO morreu há um ano, em Aracaju, cercado da admiração dos amigos e da veneração de uma família que foi, sempre, a sua torcida, os seus críticos e também os seus admiradores. JOÃO MELLO deu a Sergipe um lugar na MPB, e deixou um nome que precisa, pelo menos uma vez por ano, ser revisitado, homenageado, na preservação do mérito justo da sua  biografia. JOÃO MELLO é uma síntese da arte musical sergipana, embaixador junto ao País, artista de muitos talentos, que se renova nas gravações recentes de suas composições. 

Legenda: Sergipinho, composição de João Mello, um canto de amor e de saudade.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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