Por ser motivo de muita discussão na América Latina, a Carta desta Semana traz um artigo de autoria do Senador pelo Amazonas, Jéferson Peres, que faleceu no dia 23, publicado no Jornal do Brasil, de 15/06/1995: “Creio que foi uma grande tragédia na História do Ocidente o desencontro de duas correntes de pensamento predominantes em seu processo evolutivo nos últimos duzentos anos. Refiro-me ao liberalismo e ao socialismo, galhos do mesmo tronco, porque oriundos ambos do iluminismo europeu, nacionalista e humanista, nascido no século XVIII. Um desencontro surpreendente, que levou duas idéias-força harmônicas e complementares a se tornarem, tragicamente, antagônicas e excludentes. Os liberais clássicos defendiam uma “democracia de elites” em nome da liberdade, sem perceber que a injustiça da exclusão social implicava, de fato, ausência de liberdade real para a maioria. Os socialistas, por seu turno, principalmente os de formação marxista, defendiam a “ditadura do proletariado”, ou sua variante, a “democracia popular”, em nome da justiça, incapazes de perceber que o sacrifício da liberdade implicava uma profunda injustiça para muitos, senão para todos. No plano econômico, o desencontro ocorrido entre liberais e socialistas se deveu ao equívoco que ambos cometeram a respeito das duas mais antigas e importantes instituições criadas, de forma natural e espontânea, pelo processo histórico. Falo do Mercado e do Estado. Os liberais clássicos defenderam, equivocadamente, que o Estado se limitasse às funções legiferantes e repressoras, deixando a economia às forças de mercado e as demais funções sociais à iniciativa privada. A experiência histórica demonstrou, cabalmente, que tal sistema, se por um lado conduz a uma grande geração de riqueza, por outro leva à sua indesejável concentração, com muita desigualdade e marginalização social. Os socialistas marxistas, por sua vez, erraram gravemente ao pretender que o Estado substituísse o Mercado como condutor da economia. Também a experiência histórica mostrou, de forma incontestável, que tal sistema, embora capaz de distribuir melhor a riqueza, por outro lado revelou-se ineficiente na sua geração, ineficiência que se torna crescente à medida que a economia adquire maior complexidade. Parece evidente, hoje, que os países mais prósperos e mais equilibrados, com estabilidade política, dinamismo econômico e equidade social são exatamente aqueles que souberam fazer uma sintonia fina entre a ação das forças de mercado e a atuação dos entes governamentais. Em outras palavras, deram certos os países que perseguiram os ideais de Liberdade e Justiça, usando como instrumentos, adequadamente, o Mercado e o Estado. Chame-se a isto de socialdemocracia, ou que outro rótulo se prefira, a nomenclatura é irrelevante. Importa que conseguiram, pragmaticamente, nas condições do mundo real, harmonizar os valores e as propostas do Liberalismo e do Socialismo”.
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