De vez em quando eu escuto ou leio algumas críticas aos chamados “livros de auto-ajuda” e aos seus incentivadores: palestrantes, professores, mestres, gurus, etc. DA DISCRIMINAÇÃO: Embora não concorde com nenhuma forma de discriminação, sobretudo quando o assunto é uma ideia, mormente, uma ideia tornada pública por qualquer meio do conhecimento, acedo, no entanto, ao direito da pessoa gostar ou não. Todavia, fica difícil anuir com ideia “adolescente” do não gostar, por não gostar, sem o devido conhecimento. Sou, inclusive, favorável a que uma idéia, somente com outra idéia, deverá ser combatida, o que implicará àquele, insatisfeito, tornar a sua opinião/ideia, também conhecida, expondo os seus pontos de vistas comprovando e mostrando os alvos de suas discórdias em forma de tese ou, se for o caso, antítese. Aí sim, teríamos uma forma justa de dizer “eu não gosto, não acredito e não quero”. Para isto, estou colocando no papel o meu descontentamento. Leiam os dois e tirem as suas conclusões. Porque, na verdade, é mais ou menos assim que acontece com quem, sem uma melhor avaliação e às vezes sem avaliação nenhuma, faz o seu juízo de valor: – Você leu o livro tal? – Não. Eu soube que é de auto-ajuda e você sabe que eu não acredito nem gosto. – Tudo bem não gostar, não acreditar, é um direito. – Mas, você já leu? – Não. Não li e não gosto. – Ah! DA DENOMINAÇÃO: Outra coisa que não entendo é a denominação: livro de auto-ajuda. A meu ver, auto-ajuda é a ação exercida por uma pessoa. É a disposição de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Ler um livro, por exemplo. Auto-ajuda não é, portanto, o livro em si. É o ato de se dispor a lê-lo. Aquele que se dispõe a ler um livro qualquer que seja ele: psicologia, história ou um romance estará, todos sabemos, se auto-ajudando, pois está adquirindo conhecimento. Então, aquele que acredita que lendo tal livro se auto-ajudará e o lê, estará se auto-ajudando. O fato é que um livro recheado de fábulas, contos, axiomas, parábolas, histórias, conselhos e exemplos é, apenas, o fruto de experiências próprias ou de outrem, ou de uma ou mais pessoas que acreditam naquilo e, desse modo, querem dividir com outras pessoas, às vezes repetindo coisas até, talvez, por demais conhecidas, porém com enfoques diferentes, na esperança de informar e despertar, nos outros, fórmulas e meios mais fáceis de conseguir vencer certas limitações, mostrando que é possível, com um pouco de esforço e boa-vontade, ser ou transformar-se numa pessoa melhor, de mais sucesso e mais realizada. Isso é mau? MAS, NESSES LIVROS TUDO É MUITO ÓBVIO: Os que não gostam, argumentam que são muitas fórmulas, muitas repetições, muitas quaisquer coisas, enfim as “lições” são muito óbvias. Quem assim argumenta está certo. Não há como negar isso. É verdade, tudo o que se propõe a servir de receita para a prosperidade, para o sucesso, são coisas simples. Não se dificultam as lições de matemática para ensinar a fazer cálculos. Como também, para tornarmos mais fácil uma lição de gramática temos que facilitar o seu entendimento e não dificultá-lo. Isto também é muito óbvio. É muito bom que entendamos, também, que tudo no nosso mundo é constituído por fórmulas, muitas repetições e, sobretudo, tudo é muito simples, muito óbvio. E que é exatamente nessas obviedades que constatamos, o quanto, às vezes, estamos perdendo tempo e oportunidades por fazer ou por não fazer certas coisas. Não é demasiado lembrar que o nosso cérebro trabalha por associação, visualização e semelhanças entre padrões. Fazendo, a todo instante, comparações binárias entre certo e errado para daí surgir a melhor ideia que auxiliará na caminhada do pensante, que somos nós mesmos. A partir do momento em que um autor tem a coragem de colocar no papel suas ideias para que outros possam beneficiar-se delas, merece que seja respeitado, senão pelas ideias em si, mas, até mesmo pela coragem de se expor e, pelo menos, tentar. Auto-ajudar-se é tudo o que praticamos para que fiquemos sempre melhores. A minha sogra e a minha mãe já passaram dos setenta anos, porém ainda ficam encantadas quando se adornam com uma pulseira, um par de brincos ou um relógio novo. Invariavelmente vêm todo garbosas mostrar e afirmar com inexcedível e justo orgulho “olha fulano, como ficou bem!” O que seria isso? Elas acreditam, e de fato ficam muito melhores, as suas auto-estimas sobem e isso lhes faz um tremendo bem. Ao se adornarem, estão se auto-ajudando. Quando eu leio a Bíblia para entender a palavra de Deus, estou também me auto-ajudando, inclusive pedindo isso ao Altíssimo “Senhor ajuda-me a acreditar mais, a ter mais fé, a ser mais e até a ter mais”. Repito. Tudo o que fazemos durante a nossa vida é para nos ajudar. Desde a simples ação de escovar os dentes até o sublime ato de orar/rezar, o fazemos tentando nos auto-ajudar. Resumindo, toda atividade humana, inclusive ler um livro que pode contribuir com o nosso crescimento: espiritual, social ou financeiro, é auto-ajuda e deve ser incentivado. Sabemos que a resistência, por vezes gratuita, a certos tipos de literatura, reside ainda nos ranços, já ultrapassados, da intolerância, do “eu acho”, da xenofobia e de alguns preceitos sectários de determinada seita religiosa onde ainda é pregado que ser um vencedor na vida, ter sucesso, ser rico é pecado. Os livros, equivocadamente chamados de “livros de auto-ajuda” pregam a moral, a ética, a disciplina, a honestidade, a necessidade de se trabalhar e economizar, de se estudar e treinar, de planejar e ser persistente, de fazer sempre mais do que aquilo para o que se é pago, de ser bom pai, bom filho, bom amigo, bom cidadão etc. Por favor, apontem-me onde está o erro? Será porque estas lições são mostradas por histórias, metáforas, axiomas ou parábolas? O maior livro da humanidade, a palavra de Deus, não nos é transmitida exatamente por metáforas, parábolas, histórias e axiomas? É mais do que conhecido que o ser humano é fruto daquilo com que se relaciona. Diz, inclusive, um antigo axioma bíblico: “dize-me com quem andas e te direis quem és”, ou “quem com os porcos vive farelos come”. Ora, somente percebendo, através dos sentidos, é que temos a possibilidade e, até mesmo a liberdade, de escolher. Nenhum tipo de literatura deverá ser evitado e sim, estimulado. Aliás, o nível de desenvolvimento de um povo é determinado pela sua cultura de ler ou não ler. De aprender ou não aprender. De fazer ou não fazer. Portanto, cuidemos para que se leia mais, que seja cordel ou Machado, que sejam romances ou a Bíblia, que seja Marx, Grhan Grim, Paulo Coelho, Victor Hugo, Jácome Góis, Luiz Antônio Barreto, Thétis Nunes, Camões, Eça ou Alencar O que é bom mesmo é que leiamos mais e, se com esta leitura ainda conseguirmos, como sempre acontece, nos auto-ajudarmos, melhor ainda.
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