Janaína de Oliveira Souza
Email: jana_oliva@outlook.com
Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)
Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe (DHI/UFS)
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Andreza Santos Cruz Maynard (CODAP/ProfHistória/UFS)
Em relatos historiográficos, algumas figuras e suas atuações são expostas, enquanto outras são subjugadas ou deixadas no anonimato pensar em guerras, os relatos, fontes, e demais representações apresentam uma visão masculinizada da composição e desenrolar destes momentos, e a figura e participação feminina nestes, ainda é pouco explorada.
Apesar da invisibilidade feminina ser bastante disseminada no contexto de guerras, sabe-se que as mulheres foram e são sujeitos históricos influentes no desenrolar desses eventos. Podemos tomar como exemplo, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), momento este, em que o sexo feminino atuou não apenas na substituição da mão de obra masculina nas indústrias bélicas, mas, foram também enfermeiras, pilotos, espiãs e grandes atiradoras. Porém, mesmo com essa gama de atuações, poucas são as produções literárias e cinematográficas que retratam o protagonismo feminino nestas esferas.
Várias foram as películas produzidas no desenrolar da Segunda Guerra Mundial, que mostram as mulheres como coadjuvantes nesse contexto, como exemplo destas produções, podem ser citados os filmes Casablanca (1942) e Uma Aventura em Paris (1942), ambos produzidos em Hollywood e classificados como antinazistas, ou seja, películas que caracterizam-se pelo alto teor ideológico contrário ao regime nazista. Nestas produções, as mulheres se encontravam presentes nas películas, até entre os personagens principais destas, mas, seus papéis em relação a atuação no conflito e posicionamento político eram dificilmente expostos, as mesmas apareciam nestas produções com o objetivo de atrair público pela exposição de belas mulheres, e para o desenvolvimento dos famosos romances cinematográficos.
No geral, as produções cinematográficas com alto teor político tendem a exaltação dos personagens masculinos. Porém, devido as modificações políticas e sociais, e a força crescente dos movimentos feministas a partir de 1960-70 novas formas de abordagens históricas e representações de personagens foram adotadas, principalmente pela indústria cinematográfica, que acompanha as exigências de mercado. Sendo assim, passaram a ser produzidas películas onde as mulheres tinham atuações mais políticas e não tão romantizadas. Como meio exemplificador, temos o filme ucraniano Batalha por Sevastopol, lançado em 2015, e dirigido por Sergey Mokritskiy. Neste, é desenvolvida a trajétoria de Lyudmilla Pavlichenko, a franco-atiradora soviética responsável pela morte de 309 oficiais nazistas. Este fato rendeu-lhe o apelido de dama da morte e tornou-a a franco-atiradora mais renomada da história.
Na película a história de Lyudmilla é desenvolvida com a exposição da sua vida privada e pública, são expostos seus amigos, a esfera familiar e a faculdade na qual, até então, ela cursava História. Seu interesse inicial e informal pelas armas também é exemplificado, bem como, todo o teor repressivo e machista que ela enfrentou dos amigos e família por apresentar gostos e planos que não se encaixavam nos padrões socialmente aceitos para as mulheres da época. O filme traz a caracterização de uma personagem forte, determinada nos seus objetivos e que não se deixava ater pelos comentários e tentativas negativas perante a suas escolhas, traz a imagem de uma personagem real, que foi amiga, filha, soldada e mulher. E desempenhou com êxito as atividades nos campos de batalha.
O filme expõe e caracteriza o treinamento igualitário que era realizado com os futuros soldados e os franco-atiradores, e o dia-a-dia dos mesmos nos fronts, expondo que a atuação feminina era tão relevante quanto a masculina, e que ambos se esforçavam na realização de suas atividades. A retratação de Pavlichenko como uma figura histórica relevante é perceptível no filme, através das enas que expõem o destaque que ela desenvolve nas batalhas, e pela repercussão que as mesmas detiveram. Uma mulher que atuou na guerra entre os anos de 1941-42, que foi responsável por um alto número de mortes de soldados inimigos, que aterrorizou nazistas, e tornou-se orgulho e heroína da URSS, com apenas 25 anos de idade. Além disso, foi a primeira representante soviética a ser recebida por um presidente norte-americano, sendo recepcionada por Franklin Roosevelt e Eleanor Roosevelt na Casa Branca.
Mesmo com a exposição dessas produções e de pontos levantados a partir delas, não se faz possível afirmações que abarquem toda a temática, mas, através destas, pode-se visualizar, como as mulheres são personagens relevantes no curso da história, e quão abrangente pode ser a gama de acontecimentos e períodos que as mesmas foram de extrema relevância para o desenvolvimento. Além disso, nos faz questionar sobre demais personagens e suas atuações que ainda se encontrampagadas e anônimas nos relatos históricos, nas produções literárias e cinematográficas. Porém, nesta última esfera citada, houve uma crescente inclusão e investimento em produções que abarquem as mulheres na linha de frente, como protagonistas.
Exemplos atuais são os filmes baseados em histórias em quadrinhos, que trazem para as telas grandes heroínas, como por exemplo, os filmes Mulher Maravilha (2017) e o ainda em desenvolvimento Capitã Marvel, sendo uma grande promessa para 2019. Com tais explanações pode ser considerado que as mulheres são sim sujeitos históricos, por estarem inclusas e desenvolverem papéis fundamentais em muitos dos acontecimentos relevantes da história. O que há nesse âmbito, é ainda um anonimato de muitas destas personagens, pois, a figura masculina continua a ser a mais visualizada neste âmbito historiográfico. Além disso, a partir das informações expostas, a ideia de uma história feita apenas por homens passa a ser questionada, e ao se pensar em guerra, a visualização de figuras femininas se fazem presentes, e a construção de uma guerra com domínio masculino aos poucos vai sendo dissolvida.
Para saber mais:
VALKIRIAS. Batalha por Sevastopol: Lyudmila Pavlichenko e a participação feminina na guerra. Disponível em < http://valkirias.com.br/batalha-por-sevastopol-lyudmila-pavlichenko-e-participacao-feminina-na-guerra/>. Acesso em: 23 de Maio de 2018.
REZENDE, Ana Cláudia. As mulheres e as relações de gênero na Segunda Guerra Mundial. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Multifoco. Rio de Janeiro, 2010. p. 855- 879.
Filmografia:
BATALHA POR SEVASTOPOL. Ucrânia, Sergey Mokritskiy, 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dZEsWbv-E1U>. Acesso em: 22 de Maio de 2018.