Mãe

Era uma senhora idosa, corpo e face abatidos, parecia mais velha, carregava sofrimentos de uma vida difícil. Você se preocupa demais, repetia o seu marido. Os filhos: a essência da sua vida, mesmo quando maiores. Agonia pior: José, soldado da PM. Quando ele fora aprovado nos exames da corporação, fizera bolo e reunira familiares e amigos, mas agora, neste Rio de Janeiro violento…

 

Fico com o coração sangrando, dizia, quando ouvia a notícia de um tiroteio entre polícia e bandidos e seu filho estava de plantão. Como agora, a rua comentava a troca de tiros e um telefonema avisara que José fora na tropa que escalara um morro. Meu Deus, protegei o meu filho! Poucas notícias, mas sabia-se que havia feridos. Não adiantava telefonar, ninguém informava nada. Já era noite, quando o carro da PM parou na porta.  

 

O primeiro a sair do carro, foi um soldado, amigo do seu filho. Já sei, gritou, ele foi ferido ou morreu! Saindo do outro lado do carro, um vulto não definido e o soldado disse: pronto, dona Alzira, seu filho está aí, inteiro! Quando viu o filho, seu rosto mapeado pelas rugas, emaranhados de rios e afluentes na face branca e magra, um sorriso aflorou na boca miúda, mas um sorriso brilhante, iluminando todo o ambiente.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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