Uma vida de dificuldades. Era uma mulher corajosa para ajudar o marido, criar os filhos, trabalhar no que aparecesse. O mais velho, ainda criança era danado, ajudava em tudo, faltava à escola para vender doces e sempre procurava alguma coisa para ganhar um dinheirinho. Rapazote, dissera aos pais: ainda vou ajudar vocês a sair desse miserê! Depois passara a dar à sua mãe, vez em quando, quantias em dinheiro, dizia que era de serviços que fazia pelas ruas. A mãe se orgulhava do filho e tinha o maior amor do mundo por ele, mesmo quando soube que ele estava trabalhando para o pessoal do tráfico da favela. Tome cuidado, meu filho, tanto perigo… Ele respondia: pode deixar, mãe e dava-lhe um beijo. Os outros dois filhos foram morar lá embaixo, no asfalto. No seu casamento, fez doces; ele fora para outro morro. Agora era essa agonia: os tiroteios com a polícia. O coração disparado. Hoje mesmo, o noticiário informava da morte de alguns bandidos. Meu Deus, protegei o meu filho! À noite, quando a confusão parou, nem procurou saber quem havia morrido. Uma sombra invadiu a sua face magra, marcada por rugas. Tarde da noite alguém bateu na porta. Assustou-se: vieram dar a notícia! Quando abriram a porta, um corpo arqueado foi entrando e seu rosto amargurado se contraiu, mas da sua boca miúda aflorou um sorriso que iluminou todo o ambiente.
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