Mentiras antigas ou embustes repetidos.

Estamos a presenciar um novo escândalo. A Polícia Federal, na chamada “Operação Porto Seguro”, denunciou 23 pessoas, incluindo a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, que está indiciada por corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica, e já pensam em inseri-la no crime de quadrilha.

Nomeada pelo ex-presidente Lula e mantida no cargo pela presidente Dilma Rousseff, Rosemary acabou demitida após as revelações da citada operação, em meio a escutas telefônicas e outras provas que aguardam o pronunciamento do Ministério Público Federal para as providências judiciais.

Tudo restaria menor, restrito às páginas policiais, não fosse o contexto da notícia, a revelar um poder de megatons destrutivos, por seu caráter político partidário, afinal descobriu-se que a Senhora Noronha, por deliciosa ronha, ou desvergonha sediciosa, compartia a própria fronha em carícia pecaminosa com o Lula, presidente.

Dito assim em guiso de pouca vergonha, eis Dona Noronha falseando Dona Marisa Letícia, logo esta tão digna quão silenciosa, agora enredada por curiosos e maldosos à procura de detalhes.

Detalhes de baixa valia, por entralhes de rebotalhos, não fora assim não merecia tanta talha sediciosa para remunerar o vício e o bulício de um noticiar tão vil, em impostura de tonsura, vilania pouco viril.

Assim eis o noticiário tentando abalar os alicerces da nação, afinal descobriu-se no escritório presidencial de São Paulo (por que só São Paulo?) uma secretária para extraordinários ofícios, ligados ao lazer e ao prazer da afadigada presidência, leal servidora pública, sem relapso ou ineficiência, tanto que ficara por longo tempo, teúda e manteúda, aos cofres da nação. Descoberta que só se refez cabeluda, no proveito do leito tornado eito, para bom aproveito dos amigos, em benfazeja promiscuidade.

E bote benfeitoria e promiscuidade, porque bastava-lhe um pedido para surgir a nomeação, como se fora uma repartição com aliados, em denúncia da oposição, que nunca vira o conchavo sair do tálamo, por sequência de efervescência de sentimentos e lassidão muscular.

Ah, o velho descanso do guerreiro, cansado e recolhido, quase humilhado e pendido! Nada o remunera tanto nem retribui o quanto, a ceder promessas tamanhas, como a própria cabeça de João, o Batista, exposto em terrina de prata!

Não fora assim, existiriam os mimos de amante em afagos de diamante?!

Mas o noticiário está a revelar que existem outros mimos e diamantes a faiscar em desafio de futricas.

Enquanto isso o país continua a carecer de seriedade. Porque no cerne da busca da verdade, não se visa o recolho da sobriedade, por absoluta ausência de leitores.

Interessante sempre será o escamotear das ideias, porque o nojento sempre existe. Ele constitui a essência predominante daquele que nos opõe, e só por ser assim, nos desagrada.

Quantas safadezas, repito, não estarão sendo cometidas na presente hora, no desvão noticiário desta perdida e já remida orgia, de caráter presidencial?

Não! “É sempre bom que seja Lula a bola da vez! Ele é um perigo! Venceu até o câncer! Pode voltar à presidência, imbatível! Como ousar remetê-lo à História, se nossas leis assim o permitem? Quem sabe, se não irá surgir um novo mar de lamas, e o exemplo de Vargas lhe sirva para o próprio haraquiri?”

Porque Lula, como sempre, irá dizer que nada viu, nem fez. Não irá jurar que é vero animal doméstico, aquele que só mata a fome em casa, porque melhor lhe posa uma hagiografia, até com uma decaída no encosto, para melhor ruborizar Anchieta, o poeta cantor à Virgem, e a Frei Galvão, o frade taumaturgo com suas pílulas curativas de papel.

Porque melhor louvor para Lula não é o sueco Prêmio Nobel da Paz, nem uma chancelaria da ONU. Melhor lhe cabe a santidade, como primeira canonização genuinamente brasileira.

“Santo súbito!” Digamos em coro! E em nome da desnecessidade de decoro, sejam-lhe erguidos andores e altares, com o santarrão cercado por uma legião de decaídos em seu cenário, sem lhe faltar muitos anjos descaídos no pé, com um carequinha destacado no sopé, alguns barbudos e barbeados, ao seu lado, por legião de julgados, condenados e jamais safados, porque o seu cânon abençoa e resgata o erro, não lhe cabendo recaídas adulterinas para desterro ou punição.

Eis então o vero santo brasileiro, que não erra nem comete falta; nada vê, mas o ser sorrir consente e não desmente. Tudo o que a alma nacional almeja, como fruto das três raças tristes, de sem-vergonhice tão nata, quão inata a todos os partidos.

Questionando seriamente agora, sem santificar nem partidarizar tantos erros; se o problema é fruto da sobrevivência política, em que aquele que já foi nunca se satisfaz em ter sido, e daí o Deus e o Diabo campeando nesta terra de muito Sol e pouca Luz, por que não alterar nossas leis, não por Lula, ou por temê-lo, mas para limitar o número de mandatos simplesmente?

Não seria tão benéfico implantar uma inelegibilidade para inviabilizar a eternização do poder? Por acaso isso acontece nos Estados Unidos, que restou exemplar, contra abusos nunca ocorridos, mas acontecidos como o de Franklin Roosevelt, eleito por quatro mandatos sucessivos, em contraexemplo de Washington e os “pais fundadores” daquela nação?

Se fosse assim, nossos ex-presidentes já estariam com sua ação concluída, falando pouco, por exclusivo dever cumprido.

Ah! E outra coisa! Não seria bom se tal inelegibilidade se estendesse a todos os cargos eletivos forçando a renovação, com os jovens sucedendo os velhos? 

Enquanto isso não vem, continuemos a desfrutar e lamentar estas mentiras antigas em embustes repetidos, com direito até por gozo, de pensar na canonização de todos os nossos defeitos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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