Dois microcontos de pessoas que vivem neste Sergipe, terra acolhedora de paixões vividas com o jeito da gente. (Alguns nomes são fictícios).
Cláudia tirou esta foto para presentear Eduardo (nomes fictícios) |
(nome fictício)
Cláudia e Eduardo
Vou começar com a história de uma mulher que viveu sua juventude nos anos 40 na cidade de Laranjeiras-SE. Cláudia é uma morena de cabelos longos finos e cacheados pela moda do permanente da época. Ela estudava na escola de D. Zizinha e era sempre chamada para cantar na igreja matriz. Sua voz aveludada encantava a todos que a ouviam principalmente quando cantava Ave Maria de Gounod. Na igreja sentia a emoção nos olhares das pessoas que ficavam anestesiadas com sua melodia.
Menina tímida e organizada temia a Deus e vivia nos preceitos da moral e dos bons costumes. Participava das procissões, ajudava ao pai promotor a revisar os processos, ia mensalmente às festas de D. Lourdes e do Dr. Valdemar Fortuna de Castro, o juiz da época, representava no teatro da escola e passeava junto com as amigas adolescentes.
Cláudia namorava há dois anos um rapaz de beleza inigualável, ele tinha lindos olhos azuis e um talento para pintura. Eles eram muito apaixonados até que um dia o mundo dela desabou. Foi numa sala de aula da escola de D. Zizinha Guimarães, com os móveis e carteiras removidos e transformados num grande salão de baile que tudo aconteceu.
Morena de traços finos e maneira elegante de se portar arrumou-se com esmero para poder encontrar o amor da vida dela. Trajava naquele dia uma saia rodada quadriculada, blusa branca de mangas e por dentro uma camisa engomada com esmero. Estava entusiasmada em poder encontrar mais uma vez o amor de sua vida para conversar e dançar.
Claudia chegou ao baile acompanhada de sua irmã Joana e ficou extasiada quando viu o inesperado. Seu namorado Eduardo estava com as mãos na cintura de uma moça robusta e alegremente dançava sem parar. Cláudia ficou paralisada, seus pés pareciam de chumbo, seus olhos espantados ficaram mais ainda quando ele a viu e ainda assim continuou a dançar mais outra música. Por quê? Pensava Cláudia compulsivamente para encontrar a resposta de tanto desprezo.
A acompanhante de Eduardo se chamava Zelí P. Era uma moça vivaz da cidade de Aracaju, estava em férias à procura de novas emoções. Eduardo não manifestou sequer um cumprimento à Cláudia, continuou a dançar como se o passado não existisse, esquecera as juras de amor e as cantigas apaixonadas no portão da casa dela. Finalmente conseguira se locomover e num rompante saiu chorando e ficou reclusa num quarto das imagens dos santos por um bom tempo na escola. Depois desceu as escadas que ficava longe do salão e foi abatida para casa.
Ainda hoje ela não sabe o motivo desse término, pois Eduardo nunca a procurou para se desculpar ou explicar essa tamanha falta de consideração. Ele começou a namorar Zeli por algum tempo e depois terminou. Cláudia ainda relembra o desprezo sentido e fica admirada como hoje essa história se repete na figura de outros jovens. Eduardo foi morar no exterior se tornando um pintor de fama internacional e nunca mais a procurou.
Hamilton e Moema
Hamilton é um homem de quarenta anos, inteligente e humanitário que lida com mulheres de maneira indecisa mas entusiasmado em achar a sua realização pessoal. Apesar de ser casado, sete anos atrás se sentiu atraído por outra mulher. Ele sempre se sentiu carente, reclamava para obter mais carinho da esposa que muitas vezes não o atendia. Ele diz que apesar de viver bem não havia sintonia no seu relacionamento, pois muitas vezes estava junto da amada, mas não curtiam o mesmo momento, era como se estivessem distantes mesmo com a proximidade física.
Certo dia ele notou o juízo embaçar quando desejou Moema, mulher esguia de cabelos finos e negros com um sorriso de deixá-lo ofegante a ponto de não resistir e beijar. A boca carnuda o fez viajar em pensamentos de desejo querendo se relacionar em busca de carinhos e afagos que o deixasse feliz.
Hamilton deu um jeito nas horas, tentando sair mais cedo do trabalho para encontrá-la num Motel. Depois de um mês de cortejos, ele finalmente a teria em seus braços, não aguentava mais de excitação, sua vida se tornara obsessiva para amá-la. Na tarde do encontro, era um dia chuvoso, um alívio para se esconder atrás dos pingos de chuva que caiam no vidro do carro.
Quando chegaram ao quarto, os corações batiam aceleradamente numa mistura de medo e prazer a fim de conseguir realizar os desejos. Depois de um banho morno, ele admirou o corpo desnudo de Moema, esse era o momento dele apreciar os lindos olhos castanhos que expressavam uma ternura infinita, seus fartos seios se desmanchavam ao seu toque suave de suas mãos, sua boca se abria lentamente para beijar cada espaço de pele que encontrava naquele corpo com cheiro de mel. Não havia lugar para palavras só contemplação.
Moema retribuiu todo aquele carinho pedindo para ele deitar de bruços e começou a massagear o corpo dele com um óleo de rosa mosqueta. Como ele podia imaginar que sentiria essa inebriante sensação de bem-estar no toque daquelas mãos delicadas e ágeis cheias de ternura? Ele suspirava a todo o momento sentindo cada toque. Ela tentava acalmá-lo, mas parecia missão impossível, tamanho ardor que ele sentia em querer agarrá-la para poder amá-la desesperadamente. Enfim aconteceu uma relação de entrega mútua onde os medos foram aniquilados por carícias nunca sentidas. O momento era de esquecimento da realidade, por minutos Hamilton achou ter encontrado o que faltava em sua vida, o tesouro perdido, o caminho do prazer e da felicidade.
Depois de cinco anos de convivência com Moema, apesar de encontrá-la poucas vezes por mês, ele acredita que ama duas mulheres. Não sabe viver sem as duas, pensa nos filhos, na harmonia de vida com a esposa e na sintonia e prazer dos carinhos de Moema. Ele diz não saber o que fazer e vai levando a vida de modo a encontrar equilíbrio na busca de se sentir amado e desejado.