Minhas Copas do Mundo I.

Estamos às vésperas da Copa do Mundo, o campeonato mundial de futebol. A nação está embandeirada. Todos com o coração pintado de verde e amarelo.

 

Até eu estou assim. Pelo menos é assim que a imprensa nos convida. Vestir a camisa amarelinha e meter o sarrafo no Dunga, o técnico do momento, tido e havido como esnobe, petulante, pior que o diabo ambulante ou o cão chupando manga em missanga, soltando a franga. Não há comentário maior. Até a curvatura da bola exibe pouca lisura diante da cara dura de Dunga.

 

E o Dunga é duro! É preciso ser muito duro para agüentar a sede de notícia da nossa crônica esportiva. E a resposta de Dunga se lhes mostra o quanto a arenga dos locutores é insignificante e improducente. E chata! Todo mundo sabe que fofoca e conversa fiada não ganham campeonato.

 

Aliás, perde-se assim. “Mode fofoca muita gente morre em picada de muquim”.

 

E o micuim coça, chateia, mesmo quando é um carrapato, e está a serviço do fato ou em desserviço do boato.

 

Dunga e a imprensa.

 

E o Dunga esmigalha o ácaro pernicioso, dando lérias e matérias para suas mesas redondas sem fim, em babas de ódio e em anátemas de mal serafim. E contra um microfone ruim o melhor é rejeitá-lo, desligá-lo no controle remoto ou mudando de canal, recusando-lhe a senda de sua opinião e a venda do seu comercial.

 

Gosto do Dunga! Estou em minoria. É difícil repelir a propaganda batida e repetida quando esta crônica esportiva em excesso de tempo e em carência temática entende-se como única e insubstituível Cassandra a destrinçar melhor estratégia para ganhar o campeonato. Todos os campeonatos e, sobretudo, as Copas do mundo.

 

E ganham! E como ganham;…dinheiro!

 

Mas, isso não lhes é suficiente. Falta-lhes retirar os atletas do campo substituindo-os na recepção dos troféus e do aplauso da torcida. Pelo menos é assim que se contempla a frustração da sua ação, porque melhor que a partida, a jogada ou o drible é a entrevista do atleta, o disse-me-disse dos treinadores e o bate-boca de desafetos.

 

Mesmo porque em longo prazo todos seremos comida de vermes, restando sempre um microfone, que não se cala, mas mistifica, como um espadim de madeira, que não vence batalhas, mas sempre machuca, contunde e incomoda aos inermes e amedrontados.

 

Ainda Dunga.

 

E Dunga repete a exaustão que as batalhas da Copa só são vencidas com muita ação e pouco esnobismo, com os jogadores atentos exclusivamente aos passes e chutes, sem preocupação de se fazerem notícias, por desimportantes, diante da valia da partida.

 

Mas não é assim que a crônica deseja. Nós somos os príncipes do futebol, a raça única planetária. Pena que o mundo não nos entenda e o idioma pátrio continue a ser o túmulo da literatura, com ou sem futebol.

 

Porque o futebol não é tudo. E mais! Poder-se-á bem melhor dizer que o futebol não é nada. É apenas uma modalidade de esporte olímpico, como voleibol, xadrez, salto de vara, box, luta livre, arremesso de cuspe, dança rítmica, ping-pong, jogo de dama, de puia e de pega-vareta.

 

Mas assim eu já estou querendo esculhambar, afinal se formos falar em disputa, há quem prefira lançamento a distância de jatos de urina, esporte difícil de transmitir e comentar.

 

E eu quero falar sério. Quero comentar minhas Copas do Mundo e desoriento a minha crônica já anacrônica. Mas, vamos lá!.

 

Do início ao trauma de 1950.

 

A primeira Copa do Mundo que eu ouvi falar foi a de 1950. Antes já existira a Copa de 1930, a de 1934 e a de 1938, todas com a presença do Brasil.

 

Depois veio a Guerra e o campeonato recomeçou em 1950 quando eu tinha três anos. Não me lembro de nada. Lembro apenas que em minha casa tinha um rádio enorme, cheio de válvulas, zumbidos e chiados e que esquentava como um fogão. Junto à tomada e em série com o receptor era ligada uma lâmpada, cuja função era inútil, eletronicamente falando, mas exibia charme com os seus filamentos levemente incandescidos.

Alcides Ghiggia silencia o Marcanã

 

Pelo que sei de comentário, a crônica esportiva bafejou tanto os nossos jogadores que o campeonato se perdeu nos pés dos irmãos uruguaios. O oriental Ghíggia ficou como nosso carrasco, e Barbosa, o nosso goleiro, sobrou pintado como vilão; morrendo triste com tal.

 

Porque o Brasil que fora até então um 3º lugar na Copa de 1938 se achava o único a ganhar a Copa de 1950, só porque estava sediando o campeonato e detinha o ‘handicap’ de campo e torcida, com o imponente estádio do Maracanã, construído para tanto.

 

E a Copa de 1950 restou pior que Azincourt e Waterloo para os franceses. E nenhum brasileiro sofreu tanto quando Ghíggia sagrava o Uruguai  bicampeão com dois gols nas nossas costas

 

Mas a Copa de 1950 não acaba a minha história. Ela continua.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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