Caros amigos de Sergipe:
Essa vida de fidalgo português me cansa.
São solenidades, compromissos sociais de toda ordem e telefonemas, em sua maioria trotes de gente ávida por ouvir apenas a voz deste colunista, pronunciar um lacônico “alô”. O tédio se abateu sobre mim.
Por isso, tentando trazer um pouco mais de emoção à minha enfadonha rotina diária, achei de dar com os costados na Ilha da Madeira apenas com o fito de papar, por assim dizer, a prima Vera D’Alencastro Sant’Anna, a fenomenal esposa do eminente procurador Deocleciano Bocaiúva, o ‘Boca’ para os íntimos.
Aproveito sua boa vontade para com os assuntos libidinosos e, sempre que possível, exercito algumas posições do Kama Sutra como a perigosa “Provocando o Dragão de Duas Cabeças” ou a exótica “Meditando com Cenouras’. Verinha vai à loucura!
Só que desta vez, a coisa desandou. O tio Epifânio, pai da perversa em questão desconfiou dos nossos siricoticos e danou a me fazer umas perguntas pra lá de embaraçosas.
“Sabe o que faço com a bilola de sobrinho safado e apanhado com a boca na butija?” Perguntou-me com um sorriso perigosamente enigmático. Comecei a dar asas à imaginação. Disse-lhe, por exemplo, que havia sido castrado quando em certa ocasião fui apanhado de surpresa por uma tribo do Alto Xingu que me sacrificou em um estranho ritual sacro profano.
Não adiantou tanta criatividade. O ancião expulsou-me de casa e me mandou de volta à Lisboa onde fui recebida por Zenóbia, minha patroa sexagenária e seu indefectível rolo de macarrão. Expliquei-lhe que o velho estava esclerosado e havia fugido do asilo onde eu o internara. Daí a sua revolta. Resultado, mais pauladas de macarrão.
Por falar em Zenóbia, semana passada fui a uma festa organizada pela própria, que agora é promoter da casa noturna ‘O Gira do Manoel’ de propriedade do grande ator desempregado Joaquim Solano, o afamado ‘canastrão dos canastrões’.
A festa naturalmente foi um horror. O calor estava infernal para os padrões portugueses. Velhos barrigudos suavam em bicas, metidos em ternos empestados de naftalina. O vinho era dos mais repugnantes. Uma verdadeira afronta à nossa tradição vinícola. Chamava-se Samba Canção, Bolero, alguma coisa assim.
A fuzarca foi uma verdadeira torre de Babel em termos de dança. Ninguém se entendia. Liguei para o Carlinhos de Jesus aos prantos.
Mas, mesmo assim, a Zenóbia se esbaldou até de manhã, assediada por um portador de Síndrome de Down e por um anão do Grand Circus Barbosinha. Quem entende as mulheres?
Enquanto isso o sempre elegante Jozailto Lima, o primeiro metrossexual de Jacobina, está em viagem de trabalho à sua exótica terra natal. Diz que chegou bem apesar de vários dias em estrada de chão batido, onde quase morreu de sede e tédio, mas graças a Deus, já se encontra confortavelmente instalado na suíte master do Hotel Rosimeire, o Word Trade Center de lá com seus majestosos dois andares fora o térreo.
Até semana que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa.