MORTE NO RIO
Araripe Coutinho*
Seguranças de lojas de departamento deveriam ser mais bem treinados em caso de roubos. A corrida de dois supostos ladrões da Loja Esplanada, no centro de Aracaju, rumo ao rio Sergipe, com policiais atirando, com eles já dentro do rio perdidos parece cena de filme, mas foi real.
Atirar em alguém já indefeso é nazismo, tortura, arbitrariedade. O comando da polícia militar deveria investigar o que aconteceu. O espetáculo que se montou às margens do rio Sergipe, com os dois jovens, é bárbaro. As lojas de departamento não estão preparadas para lidar com este tipo de acontecimento. Mas iríamos impedir os adolescentes de correr? – perguntaria o segurança. A maneira como foram abordados, a forma como se dá um procedimento desses – isto é que é discutível.
Os que negaram socorro ao adolescente dizendo que o mesmo era um filho da puta e que devia morrer, devem ser ouvidos também pela polícia. Vivemos numa sociedade onde todos são culpados e todos lavam as mãos, dizendo que não têm nada a ver com isso.”Por que morrer e matar? Em nome de quê? E para quê? Não foi a interrupção de uma vida, o corte nos estudos e nas profissões, a separação das famílias, o partir para longe.” Foi mais que isso, foi uma falta total em como lidar com estas situações de extremo risco, que nos deparamos diariamente à nossa frente e permanecemos avessos, insensíveis, completamente descompromissados com o destino do outro.
O rio Sergipe foi o cenário de um quadro dantesco, cheio de espectadores, próprio dos bárbaros. A sociedade recorre à morte quando ela não tem mais saída. É o retrato da nossa juventude: morta e destruída por um boné, duas bermudas e um par de chinelos.