Musiqualidade

R E S E N H A     1

 

Cantora: VANESSA DA MATA

CD: “MULTISHOW AO VIVO”

Gravadora: SONY MUSIC

 

A matogrossense Vanessa da Mata tem a música presente em sua vida desde a infância quando ouvia de tudo um pouco em sua cidade natal, Alto Garças, localizada a quatrocentos quilômetros de Cuiabá. Depois de se transferir para Uberlândia, onde começou a cantar em barezinhos, resolveu, em 1992, mudar-se para São Paulo, passando a cantar, logo a seguir, na Shalla-Ball, uma banda de reggae de mulheres. O pontapé decisivo para mergulhar de vez no mercado fonográfico (até então ela ainda alternava trabalhos como jogadora de basquete e modelo) se deu em 1997 quando conheceu o cantor e compositor Chico César e com ele compôs “A Força que Nunca Seca”, música gravada por Maria Bethânia e que terminou dando o título ao disco da cantora baiana lançado em 1999.

A partir daí, seu nome começou a ser comentado e três anos após, já contratada pela multinacional Sony (sua gravadora até hoje) lançou o seu primeiro disco que, se a princípio (mesmo com toda a estratégia de marketing feita) não alcançou a receptividade esperada, teve sobrevida garantida com a inclusão posterior da faixa “Nossa Canção” (de Luiz Ayrão) que fez parte da trilha sonora da telenovela global “Celebridade”. Não é justo esquecer, contudo, que canções como “Não me Deixe Só” (depois transformada em hit obrigatório em seus shows) e “Onde Ir” (da trilha de “Esperança”) foram razoavelmente executadas à época.

O estouro nacional, contudo, deu-se com “Essa Boneca Tem Manual”, o segundo álbum que trouxe, dentre ótimas versões de “Eu Sou Neguinha” (de Caetano Veloso) e “História de uma Gata” (de Chico Buarque), a canção “Ai Ai Ai”. Esta, devidamente incluída na trilha de “Belíssima”, foi uma das canções mais programadas pelas rádios de todo o Brasil no ano de 2006.

O aguardado terceiro álbum (“Sim”) chegou às lojas em 2007. Gravado entre a Jamaica e o Brasil, emplacou de cara um grande sucesso: “Boa Sorte” que contou com a participação especial de Ben Harper. É com base no repertório desse bem sucedido trabalho que Vanessa lançou recentemente CD e DVD registrados durante apresentação realizada em novembro do ano passado na bela cidade de Paraty (RJ). Encampado pela Multishow, o projeto (que recebeu o subtítulo de “Jardim e Perfumes de Sim”) é hoje um dos mais vendidos em todo o território nacional.

Vanessa, no palco, não é das cantoras mais afinadas. Dona de uma voz delicada ao extremo, que às vezes beira o infantil (por vezes alvo de alfinetadas), é admirada por muitos e criticada por outros. Mas o fato é que, mesmo com uma presença cênica contrita, a artista possui um carisma inato. Sua presença esguia e exótica decerto ajuda muito nisso. No entanto, não se pode negar que suas canções (a maioria de seu repertório é composto por ela própria) possuem qualidades inquestionáveis, alicerçadas sobre refrões facilmente assimiláveis e melodias, via de regra, gostosas de serem cantadas. Quanto às letras, se não trazem grandes achados, cumprem direitinho o papel de chegar direto ao público jovem a que se destinam, sem resvalar para o lugar comum nem ficar no tatibitati imbecilóide de muitos.

Ancorada por mais um sucesso recente advindo de trilha de novela (“Amado”, de “A Favorita”), Vanessa encontrou, na gravação, um clima bastante propício para realizar um trabalho legal. O público não era excessivo, mas quem estava lá realmente conhecia e admirava o seu trabalho, conforme se constata através das belas imagens captadas em vídeo.

No que tange às novidades apresentadas, estas foram poucas. Nenhuma canção inédita foi incluída no set list. Há apenas a mediana “Acode”, nunca por ela registrada (mas incluída no disco de estreia da cantora Shirle de Moraes), e uma regravação (pálida) de “Um Dia, Um Adeus” (de Guilherme Arantes). No mais, enfileiram-se algumas boas canções autorais como “Vermelho”, “Ainda Bem”, “Viagem” e “Você Vai Me Destruir” e a receita está lá, pronta.

Vanessa da Mata – é fato – já possui um séquito de fãs que a fazem uma artista de respeito. Para eles, esse novo trabalho soa como um deleite e tanto… Confira!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: CLAUDIA TELLES

CD: “QUEM SABE VOCÊ”

Gravadora: LUA MUSIC

 

Para aquelas pessoas que têm mais de quarenta anos vai bater uma saudade danada! Quantas delas não se lembram das baladas “Fim de Tarde” e “Eu Preciso Te Esquecer” que alcançaram os primeiros lugares das paradas de sucesso, na década de setenta, interpretadas por uma cantora então muito jovem e de voz bonita e doce? Está a se falar de Claudia Telles (filha da também cantora Sylvia Telles, esta uma das preferidas de Tom Jobim – é dela uma antológica gravação da pérola “Dindi”), intérprete que, durante algum tempo, mergulhou na praia das canções românticas até que, nos anos noventa, lançou dois discos temáticos, um com músicas de Cartola e Nelson Cavaquinho e outro no qual visitou o repertório da Bossa Nova.

Durante todo o seu tempo de carreira, Claudia esteve, na verdade, muito pouco no centro dos holofotes. Sua discografia solo é escassa, mas ela se manteve com uma constância surpreendente no mercado fonográfico nacional participando, como backing, de trabalhos de inúmeros outros artistas.

Assim, é de causar euforia o fato de estar chegando às lojas um novo CD dela. Trata-se de “Quem Sabe Você”, o qual foi produzido por Thiago Marques Luiz e aporta no mercado através da gravadora Lua Music. Com uma sonoridade muito bonita, o álbum (que é composto por treze faixas) mostra uma cantora afinada e de timbre claro que mantém a voz em plena forma. Acompanhada por músicos de excelente nível que vêm se tornando constantes nas produções assinadas por Thiago (Ronaldo Rayol no violão, Hanilton Messias no piano, Eric Budney no baixo e Nahame Casseb na percussão), Claudia se mostra à vontade pondo sua melodiosa voz a serviço de arranjos em geral muito bem concebidos. Ninguém está ali para provar nada, muito menos para tentar reinventar a roda. O que se quer mesmo é mostrar ao púbico um trabalho muito bem realizado e, ao final, a impressão que fica é realmente bastante satisfatória.

Certamente, dentre as canções selecionadas, há alguns momentos dispensáveis, desacertos que poderiam ser evitados se escolhas tivessem recaído sobre temas mais atuais e arejados. É que, por exemplo, de tão batidas e regravadas, fica difícil imprimir quaisquer novas dimensões a “Minha Namorada” (de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) e “Carta ao Tom 74” (do mesmo Poetinha, agora ao lado de Toquinho). Por outro lado, não há como deixar de ressaltar acertos inatacáveis. Grandes destaques, assim, ficam por conta de “Reza” (de Edu Lobo e Ruy Guerra), em registro arrebatador, e “Tamanco no Samba” (de Orlandivo e Helton Menezes), na qual a cantora mostra ser capaz de peripécias no que tange às divisões melódicas. Coisa de quem pode e sabe fazer! Aliás, embora interprete de maneira apropriada temas mais introspectivos, tais como “Sem Você Pra Que” (esquecida parceria de sua mãe com Chico Anysio) e “Juras” (de Rosa Passos e Fernando Oliveira), ela arrasa pra valer é quando resgata músicas mais balançadas, a exemplo de “Felicidade Vem Depois” (da lavra inicial de Gilberto Gil) e do medley final (em que homenageia o cantor Miltinho), reunindo “Solução” (de Raul Sampaio e Ivo Santos), “Mulher de Trinta” (de Luis Antônio) e “Palhaçada” (de Haroldo Barbosa e Luiz Reis).

Como presentes, Claudia ganhou do violonista Roberto Menescal (lançado por sua mãe) a faixa-título (parceria com Abel Silva) e de Emílio Santiago uma afetiva participação especial em “Biquininho Azul” (de Ronaldo Bôscoli e Candinho, seu pai). Completam o repertório “Tema de Não Querer Ver Você Triste”, inusitada parceria de Roberto e Erasmo Carlos com Mário Telles (tio de Claudia), “Só Mesmo Por Amor” (outra de Carlos Lyra) e “Ai Saudade” (de Johnny Alf e Rômulo Gomes).

Para as novas gerações, está aí uma ótima oportunidade de conhecer a arte de Claudia Telles, uma grande cantora que lança um disco à altura de seu talento!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     J. Velloso (que é sobrinho de Caetano Veloso e Maria Bethânia) vem já há algum tempo ratificando a ideia de que talento é mesmo coisa de família. E seu novo e bom CD (que acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino) vem comprovar isso. Trata-se de um álbum composto por treze faixas, todas elas autorais (algumas em parceria com nomes como Roque Ferreira, Roberto Mendes, Luciano Bahia e Mariene de Castro) que mostram o evidente crescimento criativo do artista. Entre homenagens ao Santo Guerreiro (“Jorge Valente”) e à negritude baiana (“Eu Sou Preto”), J. apresenta grandes criações, tais como o reggae “Medo” e a nordestina “Foguete”, passando também por temas regionais (“Moda de Viola”) e até bregas (“Feiticeira”). Há ainda as participações especiais de Jorge Vercillo em “Verde Saudade” e de Virgínia Rodrigues em “Doida para Amar”. Bem legal!

 

·                    “Na Cabeça” é o título do novo disco de Marcos Sacramento, outro lançamento da gravadora Biscoito Fino. Cantor de bons recursos vocais e mais associado ao mundo do samba, Sacramento conseguiu realizar o seu melhor trabalho. Ancorado por um virtuoso trio de violões formado somente por feras (Zé Paulo Becker, Rogério Caetano e Luiz Flávio Alcofra), ele alia, nas doze faixas, ótimas canções inéditas (a exemplo da faixa-título, dele em parceria com Alcofra, e de “Pavio”, também de Alcofra em parceria com Sérgio Natureza) a apropriadas releituras de pérolas como “Minha Palhoça” (de J. Cascata) e “A Rosa” (de Chico Buarque). Dentre os melhores momentos estão as faixas “Dia Santo Também” (de Paulo Padilha) e “Morena” (de Maurício Castilho e Paulo César Pinheiro).

 

·                    O quarto CD solo de Herbert Vianna, vocalista da banda Os Paralamas do Sucesso, trará regravações de canções de sua autoria, no formato voz e violão, as quais se transformaram em sucesso nas vozes de outros intérpretes. A intenção é que chegue ao mercado até o final deste ano.

 

·                     O novo CD da banda Charlie Brown Jr. encontra-se em fase final de gravação e será o primeiro feito para a gravadora Sony Music. Produzido por Rick Bonadio, o trabalho trará, dentre as canções inéditas, uma música composta por Chorão para Cássia Eller, feita a pedido da própria cantora, poucas semanas antes de sua morte.

 

·                     O DVD “Chico Buarque e as Cidades”, lançado originalmente em 2001, volta ao catálogo através da gravadora Biscoito Fino e vem com extras inéditos, como o clipe da canção “Cecília” e takes das músicas “Futuros Amantes” e “Injuriado”. Há o encontro de Chico com Maria Bethânia, no qual revivem a canção “Olhos nos Olhos”.

 

·                     Pássaro de Fogo” é o título do novo CD da cantora Paula Fernandes. Produzido por Marcus Viana, o álbum contém quinze faixas e chega às lojas através da gravadora Universal Music. A faixa “Jeito de Mato” (que conta com a participação especial de Almir Sater) faz parte da trilha sonora da telenovela global “Paraíso”.

 

·                     O grupo mineiro Pato Fu está lançando o DVD “Extra! Extra!”, recheado de imagens captadas em 2007 e 2008 durante a turnê promocional de seu último CD (“Daqui pro Futuro”). O acabamento visual é intencionalmente caseiro, mas o áudio é de boa qualidade. Há dois documentários, cinco clipes e 11 fake demos.

 

·                     Antes de falecer, Zé Rodrix deixou pronto o álbum “Amanhã” que gravou ao lado de Sá e Guarabyra. Esse trabalho, produzido por Tavito, é essencialmente formado por canções inéditas e chegará às lojas neste segundo semestre. Servirá para amenizar a saudade dos inúmeros fãs do artista…

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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