R E S E N H A
Cantor: RODRIGO MARANHÃO
CD: “PASSAGEIRO”
Gravadora: MP,B / UNIVERSAL
Brilhantemente produzido pelo grande saxofonista Zé Nogueira, acaba de chegar às lojas, através de uma parceria entre as gravadoras MP,B e Universal, “Passageiro”, o segundo CD do cantor e compositor Rodrigo Maranhão. Trata-se de um trabalho praticamente irretocável, daqueles que dá gosto de se ouvir do começo ao fim. De difícil catalogação (também para que isso importa?), é um álbum de música popular brasileira da melhor qualidade.
Maranhão já tem um considerável período de carreira, embora somente de uns poucos anos para cá venha conseguindo se firmar como um de nossos mais interessantes compositores. Carioca, ele poderia fazer um samba tradicional ou se fartar de “novidades” como o funk e o rap. Mas de maneira ímpar, talvez por conta de sua ascendência que passa pelo Rio Grande do Norte, ele consegue alcançar dimensões bem mais amplas e não é incomum na sua obra autoral surgirem canções que descambam com maestria para ritmos eminentemente nordestinos.
Foi quando as cantoras Maria Rita e Roberta Sá gravaram canções de sua autoria (“Caminho das Águas” e “Samba de Um Minuto”, respectivamente) que Maranhão começou a ver seu nome devidamente requisitado e hoje não são poucos os artistas que fazem questão de contar com alguma criação sua (Verônica Sabino, Zélia Duncan e Fernanda Abreu são outras que já o gravaram). Paralelamente à carreira solo, ele está à frente do Bangalafumenga, uma banda eminentemente percussiva que tem ajudado a sedimentar a redescoberta do Carnaval de rua no Rio de Janeiro.
No novo disco, o sucessor do ótimo “Bordado” (de três anos atrás), o ouvinte terá uma oportunidade de passear pela multiplicidade que caracteriza a música de Maranhão. Adornado por arranjos que em muito ajudam na penetração da atmosfera esboçada por cada canção, o artista apresenta uma bela safra de inéditas. O repertório é composto por doze músicas e delas apenas “Sonho” (o maior destaque) e “Samba Pra Vadiar” já haviam merecido registros anteriores (a primeira faz parte do mais recente trabalho do grupo Garganta Profunda, o CD intitulado “Quando a Esquina Bifurca”, e a segunda integrou o projeto coletivo “Mar Ipanema” em registro do próprio autor ao lado de Zé Ricardo). As demais surgem fresquinhas, mas se mostram prontas para ganharem o mundo (e certamente, dentro de muito pouco tempo, outras regravações).
Como cantor, Maranhão é impagável. Não possui uma voz de grande extensão nem tampouco se utiliza de arroubos interpretativos. Geralmente contrito, ele, no entanto, nunca cansa quem o ouve; pelo contrário, seu timbre super agradável dá vontade sempre de escutá-lo mais uma vez. Os músicos que participam do trabalho são verdadeiras “feras”, a exemplo de Siba (na rabeca), Ricardo Silveira (na guitarra), Silvério Pontes (no trompete), Zé da Velha (no trombone), Marcelo Caldi (no acordeão), Hugo Pilger (no violoncelo), Marcos Suzano, Pretinho da Serrinha e Marçal (na percussão) e a única participação vocal especial fica por conta do cantor português Antônio Zambujo, presente na faixa “Quase um Fado”, composta por Maranhão quando saiu de um show do fadista. Momento intimista do disco, tem como companheiras nessa seara a inspirada faixa-título e “De Mares e Marias” que vem acompanhada por um elegantíssimo naipe de cordas comandado por Leandro Braga. Todas as canções são assinadas sozinhas pelo próprio artista, com exceção de “Valsa Lisérgica”, boa parceria com Pedro Luís.
As letras de Maranhão são geralmente econômicas e o artista reconhece isso quando diz que, quando a ideia lhe parece completa, ele não costuma buscar desdobramentos. As músicas – e aqui um fato interessante – não costumam ter refrões e as melodias quase sempre se desenvolvem sobre um único fio condutor harmônico. O que teria tudo para soar monocórdio, termina resultando uma delícia: coisa para poucos!
Dentre os momentos apresentados, há que se destacar o contagiante samba-enredo “Fogo no Quintal”, o samba convencional “Um Samba Pra Ela” (Maranhão começou na música tocando cavaquinho, daí a intimidade com esse ritmo) e as interessantíssimas “Três Marias” e “Maria Sem Vergonha”.
Tangendo a tradição brasileira sem deixar de se mostrar antenado com o mundo atual, Rodrigo Maranhão construiu um CD que merece, de fato, ser conhecido. De passageiro, ele só tem mesmo o título, porque bonito como resultou decerto que terá vida muito longa…
· O cantor Rogê (que integra o grupo 4 Cabeça) chega ao terceiro CD solo. Trata-se de um trabalho independente, por ele produzido ao lado de Alexandre Castilho e que se intitula “Fala Geral”. O novo álbum mostra constatável evolução na obra autoral do artista (ele assina, sozinho ou ao lado de parceiros, nove das onze faixas apresentadas) que canta bem legal, com um gingado carioca característico. É nítida a influência de Jorge Ben Jor em faixas como “A Nega e o Malandro” (parceria com Arlindo Cruz e um dos destaques do álbum), “Minha Princesa” (composta com Gabriel Moura e Marlon Sette) e “Mãe-Natureza”. Entre espaço aberto para o reggae (“O Guerreiro Segue”), há homenagens a Cartola (“Amor à Favela”, outra feita com Arlindo Cruz) e ao bairro da Lapa (“Mapa da Lapa”, outro ótimo momento). As únicas faixas não autorais são “Fala Brasil” e “São Geraldo” (ambas do já citado Gabriel Moura, a primeira criada com Tatá Spala e a segunda com Seu Jorge).
· Maurício Baia, um outro integrante do 4 Cabeça (os demais são Gabriel Moura e Luis Carlinhos), também vem desenvolvendo profícua carreira individual. Seu mais recente CD (intitulado “Habeas Corpus”) mostra ser ele o mais eclético do grupo. Corajoso, atira em várias direções, saindo-se invariavelmente muito bem. Ótimo cantor, também produziu o disco ao lado de Igor Eça. São doze faixas autorais, a maioria delas dividida com parceiros, que vão do samba (“Ótima”) ao reggae (“TV Cultura”), passando por um baioque (“Autoramas Urbanos”) até uma canção pseudo-brega (“Lembrei”). Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta da excelente “Fulano, Beltrano e Sicrano”, da bem-humorada “Tu” e da inspirada faixa-título.
· E falando no grupo, o primeiro CD do 4 Cabeça está bombando! Recém-lançado, o trabalho é composto de onze músicas criadas por seus próprios integrantes que se revezam nos vocais. Inteiramente gravado com o acompanhamento de violões, traz na união dos talentos a palavra de ordem. Dentre os destaques estão as faixas “Violeiro”, “Soy America” e “Quem Canta”, mas o ponto alto é mesmo o frevo “Brasis”, entoado pelos quatro a capella.
· Às vésperas de completar nove décadas de existência, Dona Ivone Lara se une ao jovem parceiro Bruno Castro e acaba de pôr nas lojas, de maneira independente, o CD intitulado “Nas Escritas da Vida”, o qual registra a produção mais recente dos dois artistas. Muito legal!
· Cristina Braga, a harpista mais famosa do Brasil na atualidade (é a número 1 da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro), lançou recentemente, através da gravadora Biscoito Fino, mais um CD. Desta feita, no trabalho intitulado “Feito um Peixe”, ela solta sua voz pela primeira vez em onze das doze faixas que compõem o repertório. Não se espere ouvir uma grande intérprete nem uma cantora de recursos vocais consideráveis. Dona de voz opaca, ela canta apenas de forma correta. Mas a sua harpa mágica está lá mais que presente, especialmente solando “Brasileirinho” (de Waldir Azevedo). Produzido por Ricardo Medeiros e Kassin, o álbum atinge os seus melhores momentos com as faixas “Peixe” (de Luís Capucho), “Bem ou Mal” (criada por Cristina ao lado de Maria Tereza Moreira e do já citado Ricardo Medeiros), “Vendaval” (outra dela com Ricardo, desta feita em parceria com Jorge Mautner) e “Mandinga” (composta ao lado de Arthur Verocai e que conta com a participação do mesmo).
· Chegará às lojas no segundo semestre o segundo registro ao vivo de show (em CD e DVD) do sambista Diogo Nogueira. Em franca ascensão no mercado fonográfico atual, o artista promete a inclusão de pelo menos quatro canções inéditas no set list, além de algumas participações especiais.
· A Sony Music acabou de pôr nas lojas o novo CD da banda Capital Inicial. Contando com onze faixas, o álbum se intitula “Das Kapital”, reproduzindo, assim, o nome original, em alemão, de um livro de Karl Marx. O objetivo é fazer uma bem-humorada alusão à origem brasiliense do quarteto.
· A ótima cantora Silvia Machete segue sedimentando seu espaço com o lançamento de “Extravaganza”, segundo CD que chegará em breve ao mercado através da gravadora Coqueiro Verde Records. O repertório trará, entre outras canções, “Noite Torta” (de Itamar Assumpção), “Manjar de Reis” (de Jorge Mautner e Nelson Jacobina) e “Sábado e Domingo” (de Alberto Continentino e Domenico Lancellotti).
· Foram duas as canções inéditas apresentadas pelo Skank no recente show realizado no estádio Mineirão, em Belo Horizonte, e que farão parte do próximo CD/DVD do grupo mineiro. Trata-se do reggae “De Repente” e da balada roqueira “Presença”. Ambas são parcerias do vocalista e guitarrista do grupo, Samuel Rosa, com Nando Reis.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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