R E S E N H A CD: “EXTRAVAGANZA” Gravadora: COQUEIRO VERDE Em 2006, uma artista diferente surgia na cena indie carioca. Exótica no vestir, ela chamava a atenção em suas atrações por se utilizar de várias performances circenses, além de ressuscitar o bambolê em diversos números musicais. Essa cantora é Silvia Machete que, há alguns anos, deixou o Brasil para estudar francês na Sorbonne, mas seis meses após já estava matriculada numa escola de circo, equilibrando-se em trapézios. Em seguida, visitou a Suíça onde conheceu seu ex-marido, um malabarista que a convidou para, num caminhão, viajarem e fazerem shows por toda a Europa. De volta às terras tupiniquins, o esboço do projeto musical que desejava para si já estava formatado em sua cabeça. É claro que muito do viés performático que escolheu foi fruto de uma bem bolada estratégia de marketing, mas não dá para deixar de reconhecer que foi dessa forma que seu nome começou a ser comentado aqui e ali. Isso fora a constatação de que ela se diverte muito em suas apresentações e também leva o publico presente às raiais da empolgação. Depois do razoável disco independente “Bomb of Love – Música Safada para Corações Românticos”, ela lançou, em 2008, o bom CD e o DVD ao vivo “Eu Não Sou Nenhuma Santa” que lhe rendeu, inclusive, música incluída na trilha sonora da telenovela global “Caras & Bocas” (a faixa “Simplesmente Mulher”). Até aí toda a mise-en-scéne criada propositalmente em torno de sua figura terminava pondo em segundo plano a beleza de sua voz, o que agora muda de figura com o lançamento, através da gravadora Coqueiro Verde, do excelente CD intitulado “Extravaganza”. Nele, fica claro o seu talento para selecionar um repertório com equilíbrio e a sua capacidade rara de intérprete no que tange ao dom de saber e poder passar para o ouvinte a emoção certa que cada canção lhe exige. Produzido por Fabiano França e Estevão Casé e com a direção musical a cargo do competente Fabiano Krieger, o recém-lançado trabalho é composto por uma dúzia de faixas, metade assinada pela própria Silvia, quatro delas ao lado de parceiros. Destas, destacam-se a interessante “Feminino Frágil” (primeira parceria dela com Erasmo Carlos) e a instigante “Meu Carnaval” (feita ao lado de Márcio Pombo). Sozinha, ela criou a dúbia e sensual “O Baixo”, além de ter sido a responsável pela versão de “Como La Cigarra” (de María Elena Walsh), sucesso propagado por Mercedes Sosa e que se transformou em “A Cigarra”. Os arranjos apresentados ora passeiam pelo extremamente dançante (como na irresistível rumba “Tropical Extravaganza” que, aliás, conta com um coro de peso), ora por sutilezas muito bem assumidas (é o caso de “Fim de Festa”). Ambas as canções são de autoria do já citado Fabiano Krieger e se transformam, de pronto, em dois dos pontos altos deste álbum que já se consolida como um dos melhores lançamentos do ano em curso. Outros destaques são a irresistível “Sábado e Domingo” (de Domenico Lancellotti e Alberto Continentino) e a contagiante releitura de “Manjar de Reis”, pérola de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Outras regravações bastante apropriadas ficam por conta da sinuosa “Noite Torta” (de Itamar Assumpção), grande tema que já mereceu, em 1993, bela versão de Tetê Espíndola, e do calypso “Underneath the Mango Tree” (de Monty Norman), tema de explícita latinidade que se tornou mundialmente conhecido em 1962 por conta de sua inclusão na trilha sonora do filme “007 contra o Satânico Dr. No”. Criativa e nada convencional, com este novo CD a irrequieta Silvia Machete tem todas as cartas na mão para vir a ser nacionalmente reconhecida. Talento e personalidade ela tem de sobra! N O V I D A D E S · Que Elba Ramalho é realmente uma força da natureza ninguém pode negar! Nem mesmo os que não apreciam sua voz agreste, que ao longo do tempo foi se aprimorando em afinação e colocação. Mas o fato é que a cantora paraibana tem muito a comemorar em seus trinta anos de carreira (trinta e um na verdade, uma vez que seu primeiro disco, o belo “Ave de Prata”, foi lançado no já distante ano de 1979), tanto que acaba de chegar ao mercado, através da gravadora Biscoito Fino, o CD “Marco Zero – Ao Vivo”, gravado em Recife (PE), em breve também disponível em DVD. Nele, a cantora mostra-se em plena forma vocal e recebe vários convidados amigos, o que termina por conferir um brilho especial à festa. A pouca confortabilidade constatada em Lenine na bonita “Queixa” (de Caetano Veloso) é compensada pela forte presença de Alcione em “O Meu Amor” (de Chico Buarque), canção bastante conhecida das duas (Elba já a havia gravado anteriormente ao lado de Marieta Severo e Alcione também o fez com Maria Bethânia). O maior sucesso – é claro! – está lá: “De Volta Pro Aconchego” (de Dominguinhos e Nando Cordel), devidamente entoado pelo imenso público presente, mas outros grandes momentos foram incluídos no set list, numa espécie de resumo da carreira, como é o caso das canções “Banquete dos Signos” e “Chão de Giz”, ambas de Zé Ramalho. Do primo compositor, Elba também se apropriou de “Frevo Mulher” e “Admirável Gado Novo”, esta contando com a presença dele. O compadre Geraldo Azevedo canta com a anfitriã os temas “Chorando e Cantando” (dele e Fausto Nilo) e “Canta Coração” (dele e Carlos Fernando). O atual marido, o acordeonista Cezinha, é o responsável pela direção musical e pelos arranjos, comprovando ter feito muito bem ao trabalho de Elba, conferindo-lhe novos ares e pulsações. Ele também divide os vocais com a cantora na mais recente “É Só Você Querer” (de Nando Cordel). Em meio a tantas músicas atemporais, ainda há espaço para destacar “Anunciação” (de Alceu Valença), “Pavão Mysteriozo” (de Ednardo) e o contagiante frevo “Chuva de Sombrinhas” (de Nena Queiroga e André Rio, que conta com a intervenção vocal deste). Uma senhora cantora com um trabalho de responsa: imperdível! · “Outros Clássicos” é o título do novo projeto de Beto Guedes, registrado em julho passado durante apresentação no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), o qual chegará às lojas até o final deste ano nos formatos CD e DVD. Daniela Mercury é a convidada especial das faixas “Meu Ninho” e “Luz e Mistério”. · Muito em breve chegará ao mercado o registro ao vivo de “Amor, Festa, Devoção”, o mais recente espetáculo musical de Maria Bethânia. O produto chegará ao mercado através da gravadora Biscoito Fino e sairá nos formatos CD, DVD e blu-ray. · Gilberto Gil registrou na semana passada, em arraial montado no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro (RJ), as imagens do show “Fé na Festa” para lançamento de um novo DVD que deverá estar disponível até o final deste ano. · A cantora Raquel Becker acaba de lançar “Sentidos”, seu segundo CD, com arranjos assinados pelo tecladista Paulo Calasans, mostrando um considerável salto qualitativo em relação ao seu álbum de estreia. A sonoridade do trabalho transita entre o pop e a MPB. Raquel é cantora de voz potente e afinada, pondo-a a serviço de canções que transitam entre temas de amor e otimismo. Seu lado de compositora faz com que assine nove das treze faixas do repertório, a maioria ao lado de parceiros. Entre temas que contêm os chamados ‘refrões-chiclete’, a exemplo de “Nova Estação” (dela e Zeppa), “Vermelho, Branco e Carvão” (dela e Alexandre Mendes) e “Teu Alento” (de João Vargas), destacam-se as bonitas “Não Tenho Pressa” (outra dela e Alexandre), “Cai no Jogo” (dela e André Bertran) e especialmente “Sentido do Vento” (de Jota Maranhão), a qual traz a participação especial de Rodrigo Santos. Outro convidado do trabalho é Jorge Vercillo, presente em uma das duas versões de “Você É Tudo”, canção de sua própria autoria e a primeira música que vem sendo trabalhada junto às rádios. · Fafá de Belém se reuniu recentemente em estúdio paulista e ao lado do ex-marido, o saxofonista Raul Mascarenhas, e do contrabaixista Renato Loyola gravou a sua versão jazzística para “My Sweet Lord”, grande sucesso da carreira solo do eterno beatle George Harrison. O registro fará parte do álbum sobre a obra solo dele que está sendo produzido por Marcelo Fróes para seu selo Discobertas. · Também pelo selo Discobertas chegará até o final do ano ao mercado um CD contendo releituras de sucessos de Michael Jackson por artistas da cena indie nacional. Uma das boas surpresas será a nova versão de “Ben”, gravada pelas cantoras Lúcia Turnbull (uma das primeiras roqueiras do Brasil, parceira, inclusive, de Rita Lee) e Twiggy. As duas, sob a batuta do produtor Luiz Leuenroth, formaram dupla à moda caipira para dar insuspeito tom sertanejo à canção. · E quem gosta de música popular brasileira de qualidade não pode perder, nas próximas terça e quarta-feira (dias 12 e 13 de outubro), a partir das 20:30 horas, no Teatro Tobias Barreto, a realização de mais uma edição do Projeto MPB Petrobrás. Desta feita o show ficará por conta de Leila Pinheiro, uma das nossas melhores intérpretes e também uma eximia instrumentista. Dona de uma técnica perfeita que sabe aliar a doses de emoção espontânea, a artista decerto vai prender a atenção do público presente com seu repertório irretocável. Antes dela, estará no palco a atração sergipana, o cantor Naná Escalabre, vocalista da banda de pop rock Alapada. Só se for muito doido para deixar de ir! RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br Cantora: SILVIA MACHETE
· “No Ar” é o título do sétimo CD da cantora e compositora Valéria Oliveira, o qual acaba de chegar às lojas trazendo doze canções autorais e inéditas. A produção do álbum foi dividida por ela com Eduardo Pinheiro e há parcerias com Romildo Soares, Luiz Gadelha e Khrystal.
Comentários