R E S E N H A

Cantor: BAIA
CD: “COM A CERTEZA DE QUEM NÃO SABE NADA”
Gravadora: SOM LIVRE

O cantor e compositor Maurício Baia, que vem adotando como nome artístico tão somente Baia, é natural de Salvador (BA), mas já há alguns anos vem residindo em terras cariocas onde tenta mostrar o seu trabalho para um público cada vez maior. Paralelamente à carreira solo (iniciada com o lançamento, em 2006, do primeiro CD intitulado “Habeas Corpus”), ele também integra atualmente o 4 Cabeça ao lado de Rogê, Gabriel Moura e Luis Carlinhos, grupo em franca ascensão no mercado. Enquanto morava na Bahia, ainda na década de noventa do século passado, integrou o conjunto RockBoys e, em 2004, fez parte do projeto “O Baú do Raul” (que se apresentou no Circo Voador, no Rio de Janeiro, junto a artistas como Caetano Veloso, Pitty e Zélia Duncan), criado em homenagem a Raul Seixas. Por isso, não soa estranho que, em sua obra, se encontrem influências do Maluco Beleza, ainda que tais não se restrinjam ao conterrâneo famoso, posto que nela também se vislumbram ecos de Bob Dylan e Tom Zé, entre outros.
Sob o título de “Com a Certeza de Quem Não Sabe Nada”, acaba de chegar às lojas, através da gravadora Som Livre, o mais novo CD de Baia. Com a produção musical assinada por Duda Mello, o álbum ratifica o talento de um letrista inteligente com fino pendão para o bom humor. Artista também dotado de raro senso de observação, ele desfia, entre versos críticos e irônicos, suas impressões sobre o cotidiano que o rodeia. Quanto ao lado melodista, neste recém-lançado disco, Baia estreita suas ligações com o rock e o reggae, mas a verdade é que a música que ele faz resulta difícil de ser catalogada e isso, por si só, já é muito bom.
Ele se mostra também um cantor correto que se faz indicado para apresentar suas próprias criações, as quais ora se consubstanciam através de dez faixas inéditas, algumas criadas sozinho, outras compostas com os parceiros Aluba, Gabriel Leal, Carlos Sales, Gustavo Macacko, André Gardel e Matheus Von Krüger, além dos já citados Gabriel Moura e Luis Carlinhos. Completa o repertório selecionado a releitura de “Desafio”, uma das mais interesantes canções de autoria do prolífico Edu Krieger, o qual se faz presente também executando o baixo em algumas faixas.
Da lavra do próprio Baia destacam-se “Quando Eu Morrer” (criativo samba que brinca, nos seus versos iniciais, com temas conhecidos e análogos como “Lapinha”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, e “Fita Amarela”, de Noel Rosa), “Essa Moça” (em que narra o seu fascínio por uma garota moderninha, embora ele próprio saiba que isso poderá lhe trazer consequências futuras), “Passa e Fica” (um reggae aparentemente simples, mas que prende fácil o ouvinte devido ao refrão pegajoso e bem construído), “Os Dias de Hoje” (outra com refrão fácil de assimilar) e “Em Nome da Fome” (através da qual ele traça um pertinente painel das necessidades físicas e psicológicas do ser humano).
Baia é um artista que deve fazer cada vez mais barulho no meio musical já que talento e inspiração fazem parte de sua rotina. Aos que ainda não conhecem o seu trabalho e tiverem oportunidade ou desejo de fazê-lo, este se torna um momento bastante apropriado!

N O V I D A D E S

* A belíssima voz de Rodrigo Vellozo é decerto o maior atrativo de “Como é Bonito Benito”, o segundo CD de sua carreira, recentemente lançado pela gravadora Radar Records, através do qual ele homenageia o pai, o cantor e compositor Benito di Paula. Benito – e quem tem mais de quarenta anos sabe disso – foi um dos maiores vendedores de disco da década de setenta do século passado, emplacando vários sucessos. Artista inspirado, ficou conhecido como sambista, embora suas criações tivessem um viés bastante característico, bem diferente dos colegas de gênero mais famosos à época: Martinho da Vila e Paulinho da Viola. Assim, torna-se bastante oportuna a homenagem de Rodrigo que, dono de uma invejável extensão vocal, entregou a produção do álbum ao competente tecladista e violonista Evaldo Santos, o qual, também responsável pelos arranjos, soube jogar novas luzes a canções bastante conhecidas. Composto por dez músicas criadas por Benito e mais “Áh! Como Eu Amei” (um de seus maiores sucessos enquanto intérprete, de autoria de Ney Velloso e Jota Velloso), o disco mostra um artista seguro e pronto para altos voos, conforme se pode comprovar, por exemplo, através das ótimas releituras de “Além de Tudo”, “Modificação” e “Fui Sambando, Fui Chegando”, os destaques do repertório. Benito se faz presente ao piano em “Ela” e, ao lado de Ney Velloso, nos vocais de uma das duas versões apresentadas da já citada “Áh! Como eu Amei”. As outras participações especiais ficam por conta de Diogo Nogueira (em “Mulher Brasileira”), Xande de Pilares (em “Meu Brasil, Meu Doce Amado”) e Péricles (na obra-prima “Retalhos de Cetim”). Um CD e um cantor que, de fato, merecem ser conhecidos!

* O violonista, compositor, arranjador e produtor Roberto Menescal está lançando mais um CD. Trata-se de “Bossa de Alma Nova”, o qual chega ao mercado nacional através de seu selo Albatroz (esse álbum já foi lançado ano passado no Japão), e se apresenta como um trabalho dividido com a cantora pernambucana Andrea Amorim. O repertório contempla parcerias de Menescal com Chico Buarque, Oswaldo Montenegro, Ronaldo Bôscoli e Wanda Sá.

* Ainda neste primeiro semestre chegará às lojas o segundo CD da banda carioca Do Amor, formada por Gabriel Bubu, Gustavo Benjão, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes. Intitulado “Piracema”, o álbum contará com a participação de Moreno Veloso, filho primogênito de Caetano.

* O cantor pernambucano Gonzaga Leal está gravando o seu oitavo CD que se intitulará “De Mim” e trará, como convidada especialíssima, a cantora Cida Moreira na faixa “A Janela da Casa do Tempo” (de Xico Bizerra e Públius Lentulus).

* O grupo carioca Planet Hemp anuncia para breve o lançamento de CD e DVD ao vivo cujo registro foi feito recentemente ao vivo durante um dos shows integrantes da atual turnê com que a galera vem percorrendo o Brasil.

* Este ano o mercado será bombardeado com homenagens à cantora Cássia Eller. Além de um musical que estreará no segundo semestre sob a direção musical da percussionista LanLan e de um filme dirigido por Paulo Fontenelle, a gravadora Universal anuncia para breve o lançamento do CD de blues “If Six Was Nine”, registro inédito de estúdio feito pela cantora com o guitarrista Victor Biglione em 1992.

* A cantora mineira Lorena Chaves despontou em 2008 no programa “Ídolos” levado ao ar pela Rede Record e, logo no ano seguinte, viu uma canção sua (“Nossa História”) incluída na trilha sonora da telenovela global “Escrito nas Estrelas”. Também compositora, ela assina todas as doze faixas de seu homônimo CD de estreia, o qual acaba de ser lançado pela gravadora Som Livre. Dona de bons recursos vocais, seu timbre bonito e rouco soa às vezes suave, às vezes potente, porém um repertório mais arejado certamente apresentaria a artista com melhor propriedade. A sonoridade do álbum é nitidamente pop, com flertes com o rock, o country e o folk, como, inclusive, já denunciam as fotos constantes da parte gráfica do encarte. A faixa “Cartão Postal” conta com a participação especial do ótimo e ainda pouco conhecido cantor Marcos Almeida. Entre os destaques do repertório estão “Portão Azul”, “Amor que Eu Quero”, “Memórias de um Narciso” e “O Lamento”.

* Embora somente viesse a completar um século de existência em 2014, Dorival Caymmi já começará a ser homenageado este ano. O primeiro tributo ao Buda Nagô deverá chegar ao mercado no mês de junho próximo através da gravadora Som Livre e se trata de um CD no qual os seus três filhos (Nana, Dori e Danilo) novamente se reúnem para saudar a obra do pai, um dos maiores compositores da história do cancioneiro nacional. A ideia agora, no entanto, é fugir das regravações mais óbvias e resgatar canções poucos conhecidas do baiano. Deve vir coisa muito boa por aí!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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