MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantor: LULU SANTOS
CD: “LULU CANTA & TOCA ROBERTO E ERASMO”
Gravadora: SONY MUSIC

Desde a adolescência que o cantor e compositor Lulu Santos demonstrou pendão para o rock. Depois de passar por bandas do gênero (Cave Man, Albatroz, Veludo Elétrico, Veludo e Vímana), estreou em carreira solo primeiramente com o nome de Luís Maurício. Mas foi ao adotar o nome artístico de Lulu Santos que ele começou a despertar interesse do pessoal ligado à área musical ao lançar, em 1980, um compacto que trazia a canção “Tesouros da Juventude”, parceria com o jornalista e produtor Nelson Motta. O primeiro álbum (“Tempos Modernos”) saiu no ano seguinte e daí em diante seu nome começou a ser associado aos grandes do pop nacional. Engatando um sucesso após outro (a exemplo de “Como uma Onda”, “Tudo Azul”, “Toda Forma de Amor”, “Um Certo Alguém”, “O Último Romântico”, “Casa”, “A Cura” e “Já É”), Lulu viu suas criações serem gravadas por gente do primeiro time da nossa música, como Caetano Veloso, Gal Costa, Leila Pinheiro, Zizi Possi e Fafá de Belém, entre outros. Na década de noventa, enveredou pela chamada disco-dance e também por experimentações eletrônicas na tentativa de sempre atualizar sua música. E, embora vez por outra, tenha aderido ao formato dos CDs que reúnem os maiores hits da carreira, vem lançando com frequência trabalhos recheados de canções inéditas.
No ano passado, ele foi um dos artistas convidados para participar do “Circuito Cultural”, um projeto itinerante do Banco do Brasil. A ideia era que ele interpretasse canções de Roberto e Erasmo Carlos, dando ênfase na produção da época da Jovem Guarda. Assim foi feito e o espetáculo terminou alcançando enorme receptividade, tanto da crítica quanto por parte do público, muito pelo fato de o esperto Lulu ter sabido se utilizar de ousadias estilísticas para repaginar as músicas apresentadas (ainda bem, já que o repertório não ousou sair dos temas mais batidos!).
Tornou-se, assim, obrigatório o registro em estúdio do show, o que resultou no CD “Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo”, o qual aportou recentemente nas lojas através da gravadora Sony Music. Com produção e direção musical a cargo do próprio Lulu, o álbum é composto por quinze faixas, incluídas as vinhetas “Influência do Blues” e “Boogaloop”, ambas de autoria do artista. Das treze restantes, onze são realmente de autoria de Roberto e Erasmo (ou de Roberto ou de Erasmo), mas a tal liberdade estilística permitiu a inserção também de “Não Vou Ficar” e “Você Não Serve Pra Mim”, ambas propagadas nacionalmente através da voz do Rei, mas de autoria de Tim Maia e Renato Barros, respectivamente.
Em plena forma vocal, ainda que, por vezes, opte por registros mais contidos (é fato que ele canta bem com sua maneira bastante pessoal de projetar as sílabas das palavras, escaneando-as à exaustão, e fazendo uso de floreios vocais que remetem à música americana), Lulu consegue trazer para o seu universo temas intrinsecamente associados a Roberto Carlos, como é caso de “As Curvas da Estrada de Santos” que ganha pesado naipe de metais sob a responsabilidade de Lincoln Olivetti e a presença, no vocalise, de Késia Estácio, cantora que participou do global “The Voice” (outro dos integrantes do programa também aparece mais adiante: Marquinho oSócio na já citada “Não Vou Ficar”), “É Preciso Saber Viver” e “Emoções”. E se, com uma aparente estranha introdução, “Se Você Pensa” recebe um arranjo quadradinho com direito a Lulu declamando parte da letra, “Como É Grande o Meu Amor Por Você” termina perdendo em romantismo, mas ganha em frescor.
Alguns dos melhores momentos do disco ficam por conta da fantástica versão de “Minha Fama de Mau” (outra faixa azeitada por garbosos metais), da também já citada “Você Não Serve Pra Mim” (que traz, nos vocais, a participação especial do baixista Jorge Ailton) e de “Eu te Darei o Céu” (que ganhou insuspeitas tintas de reggae).
Confirmando seu poder de fogo, o já sessentão Lulu Santos mergulha de cabeça na obra seminal de Roberto e Erasmo e consegue imprimir a sua marca, alterando andamentos e adaptando harmonias, sem, contudo, desvirtuar as canções em seu nascedouro. Ponto pra ele que conseguiu construir um CD bem bacana, um dos pontos altos de sua consistente trajetória!

N O V I D A D E S

* Melhor título da ainda escassa discografia, “Alta Fidelidade” é o quinto CD da carreira do cantor e compositor paulista Simoninha e acaba de chegar ao mercado através de uma parceria entre o selo S de Samba e a gravadora Som Livre. Filho de Wilson Simonal (de quem herdou a semelhança física e o timbre vocal), ele estreou no mercado fonográfico em 2000 com o CD coletivo intitulado “Projeto Artistas Reunidos” do qual também faziam parte Jair Oliveira, Daniel Carlomagno e Luciana Melo, além do irmão Max de Castro. O primeiro álbum solo saiu igualmente naquele ano e foi bem recebido pela mídia, mas o fato é que, hoje, mesmo possuindo um grupo fiel de admiradores, o artista ainda não caiu nas graças do grande público (o que poderá vir a acontecer agora, se bem trabalhado o recém-lançado disco). A sonoridade, como de costume, é calcada na chamada black music, mas conta também com bem distribuídas doses de MPB, soul, samba e bossa, verificando-se um incontestável amadurecimento na construção das canções. Produzido pelo próprio artista ao lado de Alex Moreira e Bruno Bona, o álbum é composto por onze canções, sendo dez delas inéditas e autorais, algumas compostas ao lado de parceiros tais como Bernardo Vilhena, Carlos Rennó e João Marcello Bôscoli. Completa o repertório a regravação da linda “Falso Amor”, uma das mais inspiradas composições de Jair Oliveira, a qual surge em duas versões (uma delas, a remix, contando com a participação do rapper Max B.O.). Outros bons momentos ficam por conta de “Versos Fáceis”, “Meninas do Leblon” (parceria com João Sabiá, também convidado da faixa), “Morena Rara” (composta com Edu Krieger) e “Nós Dois” (feita com Mu Chebabi). Vale a pena conferir!

* O primeiro DVD da cantora Ana Cañas teve sua base registrada durante recente show realizado no Teatro Geo, em São Paulo. Com direção e iluminação a cargo de Ney Matogrosso, a artista contou com a participação de Nando Reis em "Pra Você Guardei o Amor". O repertório priorizou as canções de "Volta", o mais recente CD de Ana, porém se elasteceu para abrigar releituras personalíssimas de "Metamorfose Ambulante" (de Raul Seixas), "Blues da Piedade" (de Frejat e Cazuza) e "Escândalo" (de Caetano Veloso), entre outras. O projeto, que também será disponibilizado em CD, chegará às lojas este ano.

* Produzido por Mario Caldato Jr. (que também assina os arranjos), aportou recentemente no mercado “Nada Pode me Parar”, o sétimo CD do cantor e compositor Marcelo D2, talvez o rapper mais conhecido do mercado nacional, o qual iniciou sua carreira ao integrar o grupo Planet Hemp. Trata-se de um lançamento da gravadora EMI que marca o retorno do artista carioca ao universo do hip hop, depois de assumidos flertes com o samba. Composto por quinze faixas e gravado nos Estados Unidos, o novo álbum, que traz um repertório majoritariamente autoral e inédito, conta, entre outras, com as participações especiais de Joya Bravo (em “Feeling Good”) e do trio Pac Div (em “Livre”). Entre os melhores momentos apresentados estão “Fella”, “Danger Zone”, “Eu Já Sabia” e “Na Veia” (esta última, uma parceria tripla entre Arlindo Cruz, Rogê e Marcelinho Moreira).

* A cantora baiana Carla Visi  está lançando o CD "Pura Claridade – Um Tributo a Clara Nunes", o qual foi gravado para marcar os trinta anos do precoce falecimento da cantora mineira. Há as participações, entre outros, de Daniela Mercury, Paula Fernandes, Péricles e Thiaguinho.

* O show que foi realizado em julho de 2011 no Auditório Simon Bolivar do Memorial da América Latina, em São Paulo, para promover o lançamento do CD “A Voz da Mulher na Obra de Taiguara” foi registrado e será lançado no segundo semestre, nos formatos CD e DVD, pela gravadora Lua Music.  O projeto conta com a adesão de Cida Moreira, Claudette Soares, Fafá de Belém, Fernanda Porto, Vânia Bastos e Verônica Ferriani.

* Mais de trinta anos depois de lançar, em 1982, o disco de estreia “Cabelos de Sansão” (que contou com as participações especiais de Itamar Assumpção e Tetê Espíndola), o qual foi disponibilizado no formato CD em 2008, o cantor e compositor cearense Tiago Araripe faz chegar ao mercado, através do selo Candeeiro Records, “Baião de Nós”, seu segundo álbum produzido por ele próprio ao lado do maranhense Zeca Baleiro, um de seus admiradores confessos. O repertório inteiramente autoral é composto por onze canções, algumas compostas com Paulo Costa e o já citado Baleiro. O jejum fonográfico, embora indesejado, fez bem ao artista que apresenta um trabalho interessante, superior ao inaugural, ainda que não se possa dizer que ele seja o intérprete mais apropriado para suas canções. A faixa-título, simples ao extremo, mas eficiente, conta com a participação especial de Baleiro e homenageia dois dos maiores ícones da música nordestina: Luiz Gonzaga e Marinês. Atualmente residindo em Recife (PE), como atesta na letra de “Click Zap” (faixa dotada de bom refrão e cujo arranjo contou com a adesão de naipe de metais), Tiago constrói sua música sobre um multifacetado painel de referências. Se o balanço do reggae faz-se presente em “A Quantas Anda Você?”, a poesia bem construída aparece em “Esfinge”, dois destaques do repertório. Outros bons momentos ficam por conta da contemplativa “Canção do Silêncio” e da otimista “Nós” (que surge em duas versões). Indicado para quem gosta de (re)descobrir canções recheadas de boas ideias!

* A gravadora Universal, confirmando que dará continuidade à série de reedições “Tons”, anuncia os próximos lançamentos: Alceu Valença (trazendo os oitentistas álbuns “Cinco Sentidos”, “Anjo Avesso” e “Mágico”) e Rita Lee (condensando os três primeiros discos de sua carreira solo: “Build Up”, “Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Nossas Vidas” e “Atrás do porto Tem uma Cidade”). Além deles, também está previsto que voltarão ao catálogo ainda este ano títulos de Alcione, Erasmo Carlos e Quinteto Violado.

* E só para lembrar: todas as sextas-feiras, estou apresentando, mais ou menos às 10 horas, o quadro “Musiqualidade”, dentro do programa “Canta Brasil” que é veiculado através da Aperipê FM (104.9) das 9 às 11:30 horas. Aguardo vocês por lá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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