Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: DANIELA MERCURY
CD: “VINIL VIRTUAL”
Gravadora: BISCOITO FINO

Desde que assumiu sua relação e a posterior união com Malu Verçosa, a cantora baiana Daniela Mercury tem frequentado mais as revistas e os sites por esse fato do que propriamente pela música que sempre fez, ela que foi a primeira a, de fato, propagar com sucesso os ritmos afro-baianos dentro e fora do Brasil. Uma das precursoras do axé music, ela já possui vários sucessos no currículo, tendo se transformado rapidamente em uma admirável vendedora de discos.
No finalzinho do ano passado, Daniela fez chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o seu mais novo álbum. Intitulado “Vinil Virtual” e tendo a direção musical assinada por ela própria, o CD primeiro chamou a atenção pela capa, uma foto em preto e branco na qual ela e Malu se abraçam deitadas, inspirada em antológico registro feito por John Lennon e Yoko Ono para a capa da revista Rolling Stone de janeiro de 1981.
Em seu miolo, no entanto, o disco tem mais a mostrar, embora seja nítido que o momento atual da artista tem muito do seu lado amoroso, o que se torna claro em faixas como “A Rainha do Axé (Rainha Má)”, “Maria Casaria” e “Sem Argumento”, esta de uma delicadeza ímpar e um dos melhores momentos de um repertório de quinze faixas autorais (dez delas criadas solitariamente) que resulta em mais de uma hora de audição.
Talvez seja esse o maior problema do recém-lançado projeto: há muitas informações, algumas delas soando desnecessárias e até certo ponto repetitivas, como o que ocorre, por exemplo, na canção-título e em “Extranhos Terrestres”, as duas de certa forma linkadas pelo subtítulo “Aperto de Mente”.
Há quem não goste do timbre de Daniela, às vezes um pouco anasalado demais. As notas prolongadas com a pronúncia quebrada no final de algumas frases também por vezes podem incomodar, mas é o estilo dela. E se é verdade que, nas primeiras faixas, a voz parece mesmo soar um tanto estranha, essa sensação se dissipa ao longo de um trabalho em que há passagens explicitas pelas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, em “Antropofágicos São Paulistanos” (composta com Yacoce Simões) e em “O Riso de Deus”, respectivamente. São duas das músicas em que o discurso toma a linha de frente (as letras são enormes), mostrando mais uma característica desse disco: Daniela parece ter pressa de falar, parece querer muito dizer tudo agora e faz isso sem se preocupar com a unidade final.
Por outro lado, contando com as participações especiais de Armandinho Macedo (bandolim e guitarra baiana) e Márcio Victor (percussão) em certos momentos, o CD apresenta algumas canções muito bem concebidas, dentre as quais a poderosa “Alegria e Lamento”, a inspirada “Tô Samba de Vida” e a belíssima “De Deus, de Alah, de Gilberto Gil”, homenagem que Daniela compôs para o conterrâneo Gilberto Gil (que, aliás, surge como convidado da faixa, na voz e ao violão). Outros destaques ficam por conta das duas canções que ela assina com o cunhado Marcelo Quintanilha (“Três Vozes” e “Minha Mãe, Minha Pátria”). Ainda em família, Daniela apresenta parcerias com o filho Gabriel Póvoas (“Frogs in the Sky” e “Senhora do Terreiro”).
Em suma: trata-se de um CD intenso, capitaneado com mãos de pulso por Daniela Mercury e que chega em um momento especial de vida, mas que deve ser visto mais como um passaporte para um próximo trabalho no qual a música venha a tomar, de fato, a apropriada linha de frente.

N O V I D A D E S

* O guitarrista, compositor e professor Saulo Ferreira, músico aracajuano atuante no cenário musical sergipano há mais de dez anos, além de participar de grupos e bandas (a exemplo do Ferraro Trio e da Maria Scombona, respectivamente) e de acompanhar alguns dos nossos melhores artistas, vem, já há algum tempo, desenvolvendo um trabalho autoral resultante de múltiplas influências musicais, sobretudo do jazz e das músicas brasileira e africana. Tendo iniciado os estudos de harmonia e improvisação na Escola Municipal de Artes, ele se tornou, em seguida, aluno do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de Sergipe. Além de ter ministrado workshops nas primeira e segunda edições do Brasilianisches Kulturfestival Wien (Festival de Cultura Brasileira em Viena), Saulinho (como é conhecido no meio), lançou, em 2011, seu primeiro elogiado disco solo, intitulado "Direções". É esse talentoso artista que estará se apresentando no Teatro Lourival Baptista, em oportunidade única, na próxima sexta-feira, dia 29, a partir das 20 horas. O show celebrará o retorno do músico à sua carreira solo e servirá de amostra para o segundo CD que já está a caminho. No repertório, composições próprias e releituras personalíssimas para obras de autores de quem é fã, caso de Milton Nascimento. Com ele, no palco, estarão Fábio Cavalieri (no contrabaixo acústico), Odílio Saminêz (na bateria) e André Lima (no trompete). Um evento realmente imperdível!

* O grupo mineiro Jota Quest está lançado, através da gravadora Sony Music, “Pancadélico”, o oitavo título de sua vitoriosa trajetória. Produzido por Jerry Barnes, o álbum tem doze de suas treze faixas criadas pelo vocalista e líder do quinteto, Rogério Flausino ao lado de parceiros (a exceção fica por conta de “Pra Quando Você se Lembrar de Mim”, de Wilson Sideral). Com arranjos suntuosos e uma sonoridade eminentemente pop e dançante, esse novo projeto traz, entre outras participações, a cantora Anitta na faixa “Blecaute”, mas os melhores momentos do repertório recaem sobre o ótimo reggae “Um Dia Pra Não se Esquecer”, a balada romântica “Mágica” e a politicamente crítica “Risco Brasil”.

* Quinze canções de Rildo Hora, famoso produtor musical e também exímio gaitista, fazem parte do CD intitulado “Eu e minha Filha”, o qual, de maneira independente, chegou recentemente ao mercado, juntando o artista à voz de Patrícia Hora. O repertório contempla parcerias dele com Fausto Nilo (“Vida Disparada”), Lysias Ênio (“O Beijo que te Dei”), Martinho da Vila (“Anda, Sai dessa Cama”), Ronaldo Bastos (“Canção de Amor dos Beatles”) e Zélia Duncan (“Gotas de Sal”).

* Atriz de produções da Rede Globo (a série “Sexo e as Nega”, por exemplo) e cantora de musicais de sucesso no eixo Rio-São Paulo (“Amargo Fruto”, no qual dá vida ao ícone do jazz Billie Holiday, está entre eles), Lilian Valeska lançou recentemente, de maneira independente, o seu primeiro CD. Intitulado “Elas”, é um projeto cuja direção musical ficou dividida entre Jorge Ailton e Josimar Carneiro e em que se fazem reverenciadas oito grandes damas da nossa MPB (Alaíde Costa, Elza Soares, Elis Regina, Marlene, Elizeth Cardoso, Sandra de Sá, Alcione e Dolores Duran) e mais Donna Summer. Lilian possui voz privilegiada, de grande extensão e belo timbre e soube trazer as canções para a sua praia (ela vem da escola da black music) sem descaracterizá-las. São dez faixas dentre as quais se destacam as ótimas releituras de “Me Deixa em Paz”, “Jardins de Infância” e “Derradeira Primavera”. A artista se mostra como compositora em “Procura” e o padrinho Miguel Falabella assina a versão de “Last Dance”, transformando-a em “Dancei”. Muito legal!

* “Beija” é o título da primeira música disponibilizada pelo guitarrista carioca Pedro Baby (filho de Pepeu Gomes e Baby do Brasil) em plataformas digitais para alardear o lançamento do seu primeiro CD solo que chegará às lojas, em formato físico, neste primeiro semestre. Do repertório constarão parcerias dele com Arnaldo Antunes, Ary Moraes e Edu Krieger e o álbum contará com a participação especial da banda Nação Zumbi. A conferir!

* As apresentações musicais que se deram durante a solenidade relativa à 26ª Edição do Prêmio da Música Brasileira, realizada em junho do ano passado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, se eternizam agora com o lançamento do CD homônimo, o qual chega às lojas através da gravadora Biscoito Fino. Como homenageada da noite, Maria Bethânia se faz presente em números que marcaram sua trajetória artística, a exemplo de “Carcará”, “Explode Coração” e “Fera Ferida”, chegando até a se atrapalhar com a complicada letra de “O Quereres”, do mano Caetano Veloso. A artista baiana também presenciou algumas das canções que gravou ao longo da carreira serem interpretadas por gente do primeiro time da nossa música popular, a exemplo de Adriana Calcanhotto (“Âmbar”), Alcione (“Negue”), Chico César (“Estado de Poesia”), Lenine (“Pau de Arara”), Monica Salmaso (“O Canto do Pajé”) e Zélia Duncan (“Rosa dos Ventos”).

* O compositor e pianista carioca Antonio Guerra (diplomado na escola da música clássica, mas que sempre transitou pela música popular de tratamento jazzístico) lançou recentemente o CD “Movimentos”, composto por dez temas autorais. Majoritariamente instrumental, o álbum traz, no entanto, duas faixas com letras  criadas por Alberto Americano e cantadas por Mart'nália (“Forró de Abertura”) e Aníbal Mancini (“Gavião”).

* Com voz suave e bastante agradável, o que a cantora mineira Roberta Campos precisa é ter cuidado para se dissociar da sombra de Vanessa da Mata, embora esta, enquanto compositora, se espraie sobre temas mais diversos. O amor e suas implicações é o mote de “Todo Caminho É Sorte”, o quarto e novo CD que Roberta fez chegar recentemente ao mercado através da gravadora Deck com sonoridade calcada no pop folk. Produzido por Rafael Ramos, o disco é formado por doze canções, onze delas autorais (três compostas com Danilo Oliveira). A única faixa de lavra alheia fica por conta da oportuna regravação de “Casinha Branca”, o maior hit da dupla Gilson e Joran. Contando com a participação especial de Marcelo Camelo na faixa “Amiúde” (um dos destaques do repertório), o disco alcança bons momentos também com as canções “Libélula”, “No Tempo Certo das Horas” e “Abra a Porta”. Fernanda Takai surge como parceira de Roberta em “Abrigo”.

* "Notícias de Mim” é o título do novo álbum de inéditas do cantor e compositor carioca Leoni, o qual chegou recentemente às lojas de maneira independente. São quatorze músicas alinhadas em treze faixas, dentre as quais se destacam “Pequeno Labirinto” (parceria com Zélia Duncan), “Amor Real” (feita com Sergio Britto) e “Multiversos” (criada com Dudu Falcão). Vale a pena conhecer!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.

Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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