Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: MARINA LIMA
CD: “NO OSSO – AO VIVO”
Gravadora: UNIVERSAL

Marina Lima surgiu, no mercado fonográfico nacional, como um verdadeiro furacão na virada da década de setenta para a de oitenta do século passado e, de lá para cá, cravou seu nome na história do pop brasileiro. Se, no começo da carreira, suas parcerias praticamente se restringiam a canções feitas com o irmão, o poeta Antônio Cícero, já de alguns anos ela vem abrindo o leque de colaboradores, além de também assinar solitariamente vários temas.
Compositora inspirada (ela tem músicas gravadas por nomes da primeira linha do nosso cancioneiro, tais como Maria Bethânia, Leila Pinheiro, Gal Costa, Lulu Santos, Simone e vários outros), Marina – como é público e notório – teve um problema que afetou suas cordas vocais, o que prejudicou o seu lado de intérprete. Mesmo assim, ela vem lançando trabalhos com regularidade e o seu mais novo projeto chegou às lojas no final do ano passado através da gravadora Universal.
Trata-se do CD intitulado “No Osso”, fruto de registro ao vivo que ocorreu durante duas apresentações realizadas pela artista, no Sesc Belenzinho (SP), em maio de 2015. Nele, Marina se faz unicamente acompanhada pelo seu próprio violão (as exceções são “Não me Venha Mais com o Amor”, parceria mais recente dela com Adriana Calcanhotto, faixa na qual surge uma base pré-gravada com a participação de Alex Fonseca na bateria e programações e de Edu Martins no baixo e teclado, e a bônus track “Partiu”, feita em estúdio com a banda Strobo – esta bela canção, lançada há pouco tempo através de brilhante gravação de Filipe Catto, também se faz presente em registro voz e violão).
Composto majoritariamente por canções autorais, o álbum desce redondo e, feliz na escolha do repertório, Marina resgata com propriedade alguns lados B de sua carreira, a exemplo de “1º de Abril”, “O Chamado” (composta com Gionanni Bizzotto), “Na minha Mão” (composta com Alvin L.), “O Solo da Paixão” e “Transas de Amor” (ambas criadas com o já citado Antonio Cícero). A única faixa dispensável é a nova releitura de “Virgem” (mais uma assinada com Cícero), uma vez que o seu registro original constante do CD homônimo lançado em 1987 é realmente insuperável.
Do repertório selecionado, constam ainda duas canções em inglês (“It’s Not Enough”, de Marina, Pat MacDonald e Reed Vertelney, e “Can’t Help Falling in Love”, de Hugo Peretti, George Weiss e Luigi Creatore), além de músicas de compositores venerados por Marina as quais ela, inclusive, já registrou anteriormente (“Carente Profissional”, de Cazuza e Frejat, e “Noite e Dia”, de Lobão e Júlio Barroso). De sua safra mais recente, ela apresenta tão somente o interessante samba “Da Gávea”, composto para sua atual companheira.
Trata-se, então, de um disco que vem matar a saudade dos milhares de fãs de Marina Lima, os quais, ansiosos, já esperam por um próximo trabalho recheado de novas canções. Vale a pena conferir!

N O V I D A D E S

* Confirmando o ditado que diz que “filho de peixe, peixinho é”, chegou ao mercado, quase que no apagar das luzes do ano passado e através da gravadora Coqueiro Verde Records, o CD da banda fluminense “2 x 0 Vargem Alta” que efetivamente lança o trabalho do cantor e compositor Chico Chico em escala nacional (completam o quinteto: Artur Pedrosa na bateria, Dudu Souto no baixo, Leandro Bocão na guitarra e Pedro Fonseca nos teclados). Chico, para quem não sabe, é o filho da saudosa Cassia Eller. Ele estreia assim, aos vinte e dois anos, com o pé direito, tornando-se, desde já, uma agradabilíssima surpresa e uma das mais interessantes promessas dessa nova geração. Com a direção musical a cargo de Rodrigo Garcia, o álbum se faz composto por doze faixas, nove delas criadas por Chico solitariamente e uma composta por ele em parceria com Kadu Mota, a interessante “Quanto Calor” (as duas restantes são as alheias “De Manhã Cedo”, de Tui Lana, e uma versão em voz e violão para “Hard Times Killing Floor Blues”, tema recolhido por Skip James do folclore da América do Norte). O amor de Cassia pelo blues ressurge no talentoso filho em quatro ótimos momentos, transformando, inclusive, um deles, a canção “Notas de Cem”, no ponto mais alto do repertório. Assim como também a admiração da visceral cantora por Luiz Melodia faz Chico se aproximar do Negro Gato, conforme se constata através de passagens melódicas contidas em “Nada Mais”. São várias influências, sim, e todas elas bastante saudáveis. Muitos irão achar o timbre de Chico parecido com o de Cássia. Impossível se dissociar da herança genética, mas o fato é que, já nesse trabalho inaugural, o jovem se mostra pronto para marcar o próprio território. Tanto que, numa amostra de seu ecletismo autoral, revela-se perspicaz tanto em insuspeito mergulho no terreno nordestino (no delicioso baião “Amor Pra Dar”) quanto em flerte com a canção popular (na excelente “As Folhas da Praça Paris”, a qual serve ainda para mostrar o quanto ele é um intérprete pra lá de seguro, o que se pode depreender também em “Minha Voz”). Entre dois temas instrumentais (“Caponav” e “Billy”), Chico abre espaço para a participação especial da cantora Julia Vargas na sublime “Chia”. Completa o disco “Garoto da Soleira”, a faixa de abertura que dá uma pista falsa sobre um CD acima da média, o qual cresce a cada nova audição. Corra e ouça!

* O cantor e compositor carioca Gabriel Versiani lançará este ano o seu segundo álbum. Trata-se de “Ainda Sambo”, o qual foi produzido pelo violonista Cláudio Jorge (pai do artista) e que conta com as participações especiais das cantoras Joyce Moreno e Mart'nália e da Orquestra Criôla. A sonoridade é voltada para o samba-jazz e a ficha técnica ressalta a presença de músicos estelares, como é o caso de Ivan Machado (baixo), Itamar Assiere (teclado) e Marcelinho Moreira (percussão). A conferir!

* Em mais uma homenagem a Dorival Caymmi, o grupo carioca Casuarina (formado por Daniel Montes no violão 7 cordas, Gabriel Azevedo na voz e pandeiro, João Cavalcanti na voz e percussão, João Fernando no bandolim e Rafael Freire no cavaquinho) lançou, no ano passado, o CD “Casuarina no Passo de Caymmi”, o qual chegou ao mercado de maneira independente. Elaborado com criatividade e trazendo arranjos muito bem concebidos, o álbum mostra que a obra do Buda Nagô, tão simples quanto bela e universal, sempre faz fluir sensações ainda não conhecidas a cada novo registro. O suprassumo do cancioneiro do homenageado está lá, a exemplo de “Peguei um Ita no Norte”, “Saudade da Bahia”, “O que É que a Baiana Tem?”, “João Valentão", “Marina” e “Só Louco”. São dezessete faixas (aí incluídas “Suíte dos Pescadores”, “Maricotinha”, “Oração da Mãe Menininha” e “Maracangalha” como vinhetas), dentre as quais se destacam “Dora”, “O Bem do Mar” e “A Vizinha do Lado”.

* O cantor e compositor pernambucano Johnny Hooker, que lançou em 2015 (somente em formato digital) “Eu Vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito!”, o seu primeiro CD de estúdio, anunciou recentemente que este ano fará a primeira gravação ao vivo de sua carreira, o que se dará por ocasião do show a ser realizado em Recife no próximo mês de abril. Quem viver verá!

* Irmão da cantora Clara Sandroni, o cantor e compositor carioca Carlos Sandroni resumiu os seus mais de trinta anos de carreira no ótimo CD “Sem Regresso”, um lançamento independente que contou com o incentivo da Secretaria de Cultura de Pernambuco. O repertório selecionado contempla um período que vai de 1984 (a canção “Rude Fraqueza”) a 2013 (a faixa-título) e apresenta novas versões para conhecidos temas que já foram gravados por Milton Nascimento e Adriana Calcanhotto (“Guardanapos de Papel” e “Pão Doce”, respectivamente). O painel autoral mostra ao público atual um compositor inventivo que, embora não tenha uma voz talhada para o canto, não faz feio quando mergulha em suas próprias criações. Com a direção musical a cargo do guitarrista Cesar G. Berton, o álbum se faz composto por treze faixas e conta com as participações especiais da já mencionada Clara (em “Antes Essa Música Não Existia”) e de Josildo Sá (em “No Casamento da Luciana”), ambas pontos altos do repertório que ainda faz destacar, entre seus melhores momentos, as faixas “Falta um Pé”, “Salvador Daqui” e “Canção dos Unicórnios”.

* Chegará em breve ao mercado, através da gravadora YB Music, o terceiro CD do cantor e compositor paulista Rodrigo Campos. Intitulado “Conversas com Toshiro”, foi gravado sob a direção artística de Romulo Fróes e terá um repertório composto por treze músicas que retratam a visão do artista sobre a cultura e os costumes japoneses.

* Comemorando, cada um, cinquenta anos de carreira, os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil vêm rodando o país com o show “Dois Amigos, um Século de Música”. O registro de apresentações feitas, em agosto de 2015, no Citibank Hall (SP) se fez eternizado com o lançamento, através da gravadora Sony Music, de CD duplo e DVD homônimos, os quais estão sendo vendidos separadamente e também em uma embalagem que contempla os dois formatos. Acompanhados unicamente por seus próprios violões, os dois grandes artistas (que ora cantam juntos, ora se apresentam em números solo) selecionaram para o repertório de vinte e oito números, o qual se faz majoritariamente composto por temas autorais, canções que já se enraizaram no inconsciente coletivo nacional, a exemplo das pérolas “Coração Vagabundo”, “Tropicália”, “Sampa”, “Terra” e “Desde que o Samba É Samba” (de Caetano) e das obras-primas “Marginália II”, “Super Homem”, “Esotérico”, “Drão” e “Expresso 2222” (de Gil). De uma safra mais recente se fazem presentes tão somente “Odeio” (do irmão de Maria Bethânia) e “Não Tenho Medo da Morte” (do pai de Preta Gil). Juntos, eles compuseram a única música inédita presente no set list, o belo samba “As Camélias do Quilombo do Leblon”. Para os aficcionados por encontros de feras da MPB, trata-se de um projeto imperdível!

* Enquanto promete o lançamento de “Dentro de Mim Cabe o Mundo”, o seu quarto CD (com produção a cargo de Berna Ceppas), ainda para este primeiro semestre, a cantora e compositora carioca Monique Kessous segue disponibilizando as canções que fazem parte do repertório desse novo trabalho na web. Depois da balada “Volte para Mim” (parceria dela com o irmão Denny Kessous), a artista apresentou “Meu Papo É Reto” (composta com Chico César) que conta com a participação especial de Ney Matogrosso. Os fãs aguardam agora as disponibilizações do samba “Acorde”, o qual foi gravado com um luxuoso coro formado pelas cantoras Ana Claudia Lomelino, Anna Ratto, Lia Sabugosa, Nina Becker e Silvia Machete, e da suave “Espiral”, cujo registro contou com as intervenções de Daniel Jobim ao piano e de Cristina Braga na harpa.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.

Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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