MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantores: VÁRIOS

CD: “CIDADE DO SAMBA”

Gravadora: EMI

 

O esperto e eficiente Zeca Pagodinho resolveu abrir o seu próprio selo, o Zeca Pagodiscos, e por ele, com distribuição da gravadora EMI, pôs nas lojas, no finalzinho do ano passado, o CD “Cidade do Samba”, uma compilação de vários sucessos revistos em dueto nas vozes de grandes nomes da nossa música popular.

Produzido por Rildo Hora, experiente em projetos desse tipo, a gravação foi feita ao vivo em duas apresentações realizadas no mês de setembro, nas quais a energia dominou o ambiente. O DVD apresenta cinco faixas adicionais – são os números com Dona Ivone Lara & Nilze Carvalho (“Acreditar”), Walter Alfaiate & Negra Li (“Jura”), Nelson Sargento & Teresa Cristina (“Agoniza mas Não Morre”), Arlindo Cruz & Sandra de Sá (“Casal Sem Vergonha”) e Dorina & Almir Guineto (“Mel na Boca”) –  que ficaram de fora do CD (composto por dezoito faixas) meramente por questões de espaço.

Há encontros dos mais diversos tipos. Se o próprio Zeca sente-se em casa ao lado de Martinho da Vila em “Mulheres”, o mesmo ocorrendo com Alcione e Elton Medeiros em “Pressentimento”, alguns parecem um pouco assustados em terreno alheio. É o caso de Vanessa da Mata que, junto de Monarco e da Velha Guarda da Portela, entoa, meio tímida, “Onde a Dor Não Tem Razão”, e de Cláudia Leite, sempre over, que divide os vocais de “Deixa Isso Pra Lá” com Jair Rodrigues.

Alguns encontros surpreendem pela excentricidade mas, ao final, resultam legais, como Ivete Sangalo com Juan Luis Guerra em “Não Tenho Lágrimas”, Gabriel O Pensador e o grupo Fundo de Quintal em “Boca Sem Dente”, e Dudu Nobre com Chorão em “Posso Até Me Apaixonar”.

A estrelinha da vez Marjorie Estiano mostra segurança na difícil divisão de “Chiclete com Banana”, ao lado de um cansado Gilberto Gil. Graciosidade é a palavra que define Roberta Sá, junto com Roberto Silva, em “Falsa Baiana”. A versão em samba para “De Noite na Cama” soa um tanto forçada, embora ressalte incontestável o esforço de Erasmo Carlos e Nando Reis para torná-la palatável. O mesmo ocorre com Marcelo D2 e a roqueira Pitty, improváveis em “Edmundo”. Por outro lado, não teria mesmo como não dar certo as reuniões de Beth Carvalho e Diogo Nogueira (em “Deixa a Vida me Levar”), Sombrinha e Grupo Revelação (em “Fogo de Saudade”) e Leci Brandão com o grupo Casuarina (em “Aquarela Brasileira”). Experientes, Lenine e Zélia Duncan compreendem-se bem em “Bebete Vãobora”, não obstante não seja a canção exatamente uma representante convencional do samba.

Os melhores momentos ficam, contudo, por conta de Daniela Mercury com João Bosco (entrosadíssimos em “De Frente Pro Crime), Luiz Melodia com Seu Jorge (descolados em “Diz Que Fui Por Aí”) e Ivan Lins com a promissora Mariana Aydar (corretos em “Desesperar Jamais”).

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: IONE PAPAS

CD: “NA LINHA DO SAMBA”

Gravadora: DABLIÚ DISCOS

 

Em “Som Sagrado” (bela parceria de Wilson Moreira e Paulo César Pinheiro), faixa que abre e fecha o seu segundo CD intitulado “Na Linha do Samba” (recentemente lançado pela Dabliú Discos), a cantora baiana Ione Papas mostra que não é uma sambista de última hora, muito pelo contrário. Se no bom disco de estréia, a artista debruçou-se sobre o repertório do grande Noel Rosa, neste ela apresenta uma variedade de compositores que entendem, de fato, do terreno onde pisam.

O álbum possui uma sonoridade muito bem definida e, embora o trabalho gráfico do encarte deixe a desejar, trata-se de um álbum de concepção arrojada que leva a assinatura do polivalente Alexandre Fontanetti na produção.

Ione tem voz talhada para cantar samba. Com um timbre claro e característico (sem copiar ninguém), boa divisão e extensão considerável, ela passeia com desenvoltura pelas várias linhas que tecem o vasto emaranhado do mais genuíno dos nossos ritmos. Não é daquelas cantoras que arrebatam de primeira, mas à medida em que vai sentindo o disco, o ouvinte deixa-se conquistar. O disco cresce através da descoberta de sutilezas que, ao final, formam um todo coerente.

O repertório foge do óbvio e alia compositores veteranos (Batatinha em “Foguete Particular” e Moacyr Luz em “Saudades de Quem Te Ama”) a outros que começam a despontar como inspirados criadores (caso de Péri em “O Samba é Bom” e Geraldo Pereira em “As Árvores”) e também traz a lume alguns pouco conhecidos (os conterrâneos Doda Macedo em “Moleque é Tu” e “infinita Beleza” e Tito Bahiense em “O Enterro do Samba”).  

Dentre as participações especiais merecem destaque o grupo Retrato em Branco e Preto (nas faixas “Vestido de Malha”, de Tuzé de Abreu, e “Pérolas do Carnaval”, de Mário Leite) e a ascendente cantora Fabiana Cozza (em “Sonho Colorido de um Pintor”, de Talismã e Lobo).

Um CD genuíno, sem muitas firulas, mas que cumpre com honestidade o seu papel. Vale a pena conhecer!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Com voz peculiar e um repertório bastante interessante, o cantor e compositor Isaac R.A. lança o seu primeiro CD, gravado de maneira independente em estúdio sergipano, intitulado “Caça de Ceva”. Nele, Isaac (que apresentou um show muito legal, ano passado, no Projeto Prata da Casa) apresenta treze faixas de sua própria autoria através das quais se mostra um artista inspirado e criativo nas doses certas. Os destaques vão para as faixas “Vem Avia”, “Na Garganta” e “Réu Confesso”. 

 

·               A cantora Ana Paula Lopes está lançando o seu segundo CD, produzido por Celso Marques. Intitulado “Mil Rosas”, o trabalho mostra a voz graciosa da artista em quatorze faixas, das quais se destacam o samba “Rainha da Laje” (de Rodrigo Leão), o xote “A Chegança” (de Marcelo Silva) e o blues “Sabores” (de Giana Viscardi e Michael Ruzitschka).

 

·               Marina Elali, revelada no programa “Fama” da TV Globo, chega ao seu segundo CD, intitulado “De Corpo e Alma Outra Vez”, mergulhando fundo na receita surrada das canções românticas. Lançado pela gravadora Som Livre, o disco é composto por treze faixas que levam a assinatura de Lincoln Olivetti nos arranjos e programações. O som é pomposo, com efeitos vocais diversos, mas nem isso consegue mascarar um repertório insosso. Parece ser fato que Marina gosta da praia que apresenta, mas fica difícil entender o porquê de uma opção tão demodée para uma garota jovem, bonita, que parece antenada e que canta bem pra caramba. Com voz poderosa e timbre bonito (embora, por vezes, exagere nos vibratos e nos fraseados claramente influenciados pelas cantoras americanas), a artista tem cancha para vôos muito mais altos. A faixa “Eu Vou Seguir” já toca bem nas rádios, muito por conta de fazer parte da trilha sonora da telenovela global “Sete Pecados”. Dentre regravações de música menor de Lulu Santos (“Já É”) e de versão imortalizada por Lucinha Lins em seu primeiro disco (“Se Uma Estrela Aparecer”), Marina mostra o seu lado autoral (“Talvez”, parceria com Dudu Falcão, “Uma Vontade a Mais”, com César Santos, e “Me Fala Mais Feliz”). O álbum conta ainda com as participações especiais de Fábio Jr. (em “Só Com Você”) e de Dominguinhos (em “O Xote das Meninas”, que em inglês virou “All She Wants…”, de autoria de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, avô de Marina).

 

·               Chico Amaral é inspirado compositor mineiro que já emplacou alguns sucessos no repertório do grupo Skank. Também músico de grande talento (toca vários instrumentos, dentre eles: sax, flauta e piano), acaba de lançar, de maneira independente, o CD intitulado “Singular”. São treze faixas de sua própria autoria, dez delas instrumentais. As três que possuem letra são interpretadas pelo próprio Chico (“Boca”), por Léo Minax (“Tempo de Samba”) e por Samuel Rosa (“Bodas”), estes em participações especiais.

 

·               Acaba de chegar às lojas, através do selo Dubas, a coletânea “Zamba Zen” que reúne músicas lançadas pelo cantor e compositor Marku Ribas na década de setenta. Compiladas por Ed Motta, um fã assumido, são, em geral, canções suingadas que transitam entre o samba-rock e o samba-soul (embora também haja as mais suaves “Tira Teima”, “Quem Sou Eu?” e “Júlia”) e revelam, para as gerações atuais, um artista que merecia ser bem mais conhecido. Entre os melhores momentos estão as faixas “Zi-Zambi”, “Coisas de Minas” e “Barrankeiro”.

 

·               Os imortais da Academia Brasileira de Letras (que acaba de completar 110 anos de existência) elegeram dezessete músicas que farão parte de um CD brinde que será distribuído agora em 2008. Tidas como “inquestionáveis”, as canções escolhidas abrangem desde obras-primas conhecidas como “As Rosas Não Falam” (de Cartola), “Chega de Saudade” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e “Samba da Minha Terra” (de Dorival Caymmi) até pérolas esquecidas, a exemplo de “A Mesma Rosa Amarela” (de Capiba), “A Flor e o Espinho” (de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) e “Azulão” (de Jaime Ovalle e Manuel Bandeira).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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