MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: CARLOS LYRA

CD: “50 ANOS DE MÚSICA – AO VIVO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Mais conhecido por ser um dos precursores da Bossa Nova, movimento musical que, nos anos sessenta, propagou a imagem de um Brasil feliz no exterior e que se caracterizou por aliar letras aparentemente bobinhas a harmonias intrincadas, o cantor e compositor Carlos Lyra é, de fato, autor de várias grandes canções da MPB, embora efetivamente seu nome nunca tenha alcançado a linha de frente do nosso cancioneiro.

Com uma imagem de galã que perdura até hoje, iniciou-se na música ainda adolescente, quando empunhava seu violão em festinhas de amigos da zona sul do Rio de Janeiro, dentre eles Nara Leão, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli.

Compositor inspirado, Lyra sempre teve voz pequena o que, de fato, nunca se lhe constituiu em um problema maior porque o gênero musical que abraçou tem como uma de suas maiores características justamente quebrar o estigma de que para ser um bom cantor haveria que se possuir uma voz descomunal.

Sua primeira canção gravada foi “Menina”, em registro de Silvinha Teles no distante 1955, mas somente quatro anos depois, quando João Gilberto gravou o antológico disco “Chega de Saudade”, no qual incluiu três de suas composições (“Maria Ninguém”, “Saudade Fez um Samba” e “Lobo Bobo”), é que ele começou a deslanchar. Um dos pontos altos de sua carreira viria em seguida: a trilha sonora do filme “Pobre Menina Rica”, composta ao lado de Vinícius de Moraes, da qual se extraem verdadeiras pérolas como “Primavera” e “Minha Namorada”. Faz-se mister ressaltar, aqui, que, além de Vinícius, Lyra também compôs, dentre outros, ao lado de gente como Ruy Guerra, Geraldo Vandré, Zé Kéti, Dolores Duran e Paulo César Pinheiro.

Somente em 2004, no entanto, é que Lyra veio a lançar seu primeiro DVD. O objetivo foi comemorar meio século na música, contado a partir da feitura de sua primeira composição (“Quando Chegares”, incluída no repertório).

Gravado durante show realizado no Canecão, no Rio de Janeiro, o vídeo teve a direção assinada por Jodele Larcher e contou com a participação de vários artistas admiradores de sua obra, dentre os quais João Donato, Emílio Santiago, Leny Andrade, Wanda Sá, Miúcha, Ivan Lins e Leila Pinheiro.

É o áudio de parte desse registro (são treze faixas pinçadas dentre as vinte e seis do DVD) que acaba de chegar às lojas em CD distribuído pela gravadora Biscoito Fino. Acompanhado por uma banda enxuta e eficiente, composta por Helvius Vilela (teclados), Adriano Giffoni (baixo), Dirceu Leite (sopros) e Ricardo Costa (bateria), Lyra mostra-se totalmente à vontade entoando canções atemporais como a deliciosa “Maria Ninguém”, a singela “Coisa Mais Linda” e a contagiante “Maria Moita”. Indispensável!

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: LÉO JAIME

CD: “INTERLÚDIO”

Gravadora: SOM LIVRE

 

Quando o boom do chamado rock nacional se deu nos anos oitenta, a onda da vez eram mesmo as bandas. Barão Vermelho, Titãs, Blitz, Paralamas do Sucesso, RPM, Legião Urbana e tantas outras emplacavam um hit após o outro, disputando os primeiros lugares das paradas.

Meio que na contramão, fazendo também rock, mas um rock com um pé nos anos sessenta, o cantor Léo Jaime, sozinho, surgiu representando o protótipo do playboy irreverente, de visual “rockabilly”, com gomalina nos cabelos arrematados com topete e jaquetas de couro brilhante.

Oriundo de um grupo cuja anarquia dominava o repertório, o João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, Léo, um compositor de melodias inspiradas, seguiu a linha, embora amenizando-a, e engatou vários sucessos, a maioria com letras ao mesmo tempo divertidas e despretensiosas. Naquele tempo, dono de um corpo esguio, namorou várias beldades, a exemplo da até hoje linda Monique Evans, emprestando sua voz a canções que serviram de pano de fundo para muitas baladas da época, como: “A Fórmula do Amor”, “Sessão da Tarde”, “As Sete Vampiras”, “Nada Mudou”, “Conquistador Barato” e “Eu Vou Comer a Madona”.

Como tudo na vida passa, o auge do reconhecimento fez-se rápido. O artista ainda tentou uma virada quando, em 1995, lançou o excelente álbum “Todo Amor”, em cujo repertório predominavam boas regravações de músicas anteriormente registradas por Lulu Santos, Cazuza, Caetano Veloso, Djavan e Ângela RoRo, mas nada de novo aconteceu.

Após treze anos de lacuna, um Léo recheado de alguns quilinhos a mais acaba de voltar ao mercado fonográfico através do CD “Interlúdio”, lançado pela gravadora Som Livre. Produzido pelo baixista Dunga, o novo trabalho apresenta dez faixas em que se fazem notar as características melódicas do artista. Os arranjos remetem diretamente ao seu estilo, embora o viés roqueiro tenha se esmaecido. As letras, antes mais voltadas para a brincadeira juvenil, agora trazem idéias que povoam a mente de um cara que chega a quase meio de século de vida muito bem resolvido. Ao lado de parceiros como Leoni, Mingau, Leandro, Marcos Kleine e Alvin L. (este também o autor da única faixa não autoral do disco, a delicada “Hoje e Sempre”), Léo construiu um CD interessante, pautado por tintas suaves, em que sua voz de timbre educado passeia sem grandes arroubos, mas com uma adequação inatacável. Dentre os destaques há a romântica faixa-título, a bonita “Fotografia” (única não inédita) e as animadinhas “Tudo” e “Silêncio”.

Se incluída alguma de suas novas canções em trilha sonora de qualquer novela global, Léo Jaime tem tudo para ver resgatado o sucesso que de fato merece já que insiste, com honestidade ímpar, na verdade que entende coerente para a sua obra musical.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Está chegando esta semana às lojas o CD contendo a trilha sonora da ótima telenovela global “A Favorita”. Talvez porque daqui a pouco tempo saia um outro disco contendo apenas músicas sertanejas (já que as duas protagonistas, no passado, formaram uma dupla nesse estilo), o atual traga apenas doze faixas, diferentemente do padrão adotado pela Som Livre (quando se trata de trilhas) que, em média, contém dezesseis canções. Entre belo tema inédito de Lenine (“É o que me Interessa”, dele em parceria com Dudu Falcão) e gravação feita especialmente para o projeto por Zé Renato (“O Tempo Vai Apagar”, sucesso antigo de Roberto Carlos, de autoria de Getúlio Cortes e Paulo César Barros), o álbum traz ainda, entre outras, gravações recentes de Adriana Calcanhotto (“Mulher sem Razão”, de Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto), Vanessa da Mata (“Amado”, dela e Marcelo Jeneci) e Nando Reis (“Sou Dela”, dele próprio), além da releitura de Ritchie para “Fala” (de autoria de João Ricardo e Luhli, inspirada canção riponga do repertório do grupo Secos & Molhados).

 

·               Ainda neste segundo semestre recém-iniciado deverá chegar às lojas o novo álbum de inéditas de Erasmo Carlos, o primeiro desde 2003. O Tremendão já começou a gravar as novas canções do trabalho que será lançado pela gravadora indie Coqueiro Verde Records.

 

·               Antes de formar a banda Legião Urbana, Renato Russo já incendiara a Brasília oitentista com o grupo de rock denominado Aborto Elétrico. Entre a dissolução de um e o início do outro, Renato passeou por diversos palcos da Capital do Brasil apresentando-se sob a alcunha de Trovador Solitário. São dessa época os históricos registros de violão e voz que fazem parte do álbum que acaba de chegar às lojas pelo selo Discobertas, do pesquisador musical Marcelo Fróes. É o segundo da série recentemente iniciada com o CD “Zé Ramalho da Paraíba”. Das 11 faixas, duas são inéditas na voz de Renato (“Veraneio Vascaína” e “Anúncio de Refrigerantes)”. Os fãs do artista poderão encontrar versões iniciais para canções que, posteriormente, se transformaram em hits, como é o caso de “Eduardo e Mônica”, “Faroeste Caboclo” e “Eu Sei” (que, no começo, se chamava “18 e 21”). Há, ainda, a presença da cantora Cida Moreira numa versão de “Summertime” (de George e Ira Gershwin).

 

·               Chico Buarque e Edu Lobo compuseram, juntos, quatro grandes trilhas para espetáculos de ballet (“O Grande Circo Místico”, “O Corsário do Rei”, “Dança da Meia-Lua” e “Cambaio”, as três primeiras para o Ballet do Teatro Guaíra). Acaba de ser relançada, através da gravadora Biscoito Fino, após vinte anos de sua tiragem inicial, aquela que alcançou, à época, menor repercussão, mas que nem por isso deixa de trazer canções de beleza ímpar. Sob a regência do maestro e pianista Nelson Ayres e com o acompanhamento luxuoso do grupo Pau Brasil, o CD “Dança da Meia-Lua” contém pérolas como “Valsa Brasileira”, “A Permuta dos Santos” e “Abandono” e conta com as participações especialíssimas de Leila Pinheiro, Gal Costa e Zizi Possi.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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