M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 Um dos artistas mais festejados da última década (embora seu prestígio, até o momento, não tenha se refletido numa venda considerável de discos), o pernambucano Lenine acaba de lançar, sob o patrocínio da Natura e com distribuição da gravadora Universal, o seu sexto trabalho solo, o CD “Labiata” (que vem a ser um tipo de orquídea encontrada no Nordeste). Até os dezessete anos, ele ouvia basicamente rock (influência que até hoje reverbera em algumas de suas músicas mais pesadas), quando então conheceu os trabalhos de Milton Nascimento e Gilberto Gil, o que lhe abriu novas possibilidades musicais. Mudou-se para o Rio de Janeiro aos 18 anos, tendo lançado em 1982 o primeiro disco (“Baque Solto”), ao lado de Lula Queiroga. Demorou exatamente uma década para que o segundo trabalho chegasse ao mercado e ele veio de novo em parceria, na oportunidade com o percussionista Marcos Suzano. Foi com “Olho de Peixe” que Lenine começou a ver suas canções comentadas, tanto que em 1997 o artista gravou o primeiro CD solo (o elogiado “O Dia em Que Faremos Contato”) já contratado por uma gravadora multinacional e o fez com uma roupagem mais pop, misturando, em um mesmo caldeirão sonoro, influências nordestinas, samba e ritmos eletrônicos. Lenine, bom cantor, é desses compositores que, como preferem catalogar alguns críticos, possui grife própria. E isso para o bem e para o mal (como, aliás, tudo nesta vida). Se essa característica se reflete na sua obra no sentido de que é inegável que a mesma possui uma assinatura que permite que uma canção de sua autoria seja reconhecida como tal a quilômetros de distância, por outro lado pode fazer com que o mesmo soe, por vezes, repetitivo. Ambas as coisas se denotam no recém-lançado disco, o qual foi produzido pelo próprio artista ao lado de Jr. Tostoi, guitarrista que também é o responsável pelos vários barulhinhos programados que pipocam faixa a faixa. Composto por onze canções, nove delas assinadas ao lado de parceiros, o álbum não possui a força de alguns dos seus trabalhos anteriores. Não se espere encontrar, por exemplo, uma canção de beleza antológica como “Paciência”, nem uma de pegada contagiante como “Lavadeira do Rio”, nem ainda uma de forte apelo estilístico como “A Ponte”. A nova safra de canções surge revestida por arranjos que se baseiam em pesada camada sonora. Já as letras passeiam por questões ligadas ao meio-ambiente (“A Mancha”, parceria com o já citado Lula Queiroga, e “É Fogo”, com Carlos Rennó), à ambigüidade metrópole/interior (“Lá Vem a Cidade”, parceria com Bráulio Tavares) e ao elogio a novas formas de beleza (“Magra”, parceria com Ivan Santos). Há ainda uma boa parceria póstuma com Chico Science (“Samba e Leveza”) e o resultado de um trabalho que vem desenvolvendo com o geralmente inspirado Arnaldo Antunes (as faixas “O Céu É Muito” e “Excesso Exceto”, esta contando, nos vocais, com a participação especial de China, cantor pernambucano egresso do grupo Cidadão Instigado). Os melhores momentos desta vez ficam por conta das duas únicas canções que Lenine assina sozinho: a inspirada “Martelo Bigorna” (que conta com a intervenção do Quinteto da Paraíba) e a quase mantra “Continuação” que Lenine gravou ao lado de seus três filhos – interessante como os timbres deles se parecem entre si e com o do pai. Não dá, todavia, como deixar de destacar dois outros momentos: “Ciranda Praieira” (bonita parceria com Paulo César Pinheiro) e “É o Que me Interessa” (balada que virou o tema da personagem Flora da telenovela global “A Favorita”). No todo, é um trabalho que merece ser ouvido, mas fica a impressão de que, desta vez, Lenine ficou devendo alguma coisa… R E S E N H A 2 Dezesseis faixas. É muito? Só para quem pensa pequeno. Ademais, o poeta Caetano já disse que “muito é muito pouco”. Foi decerto acreditando nesse mote, que exige coragem e talento ímpares, que o sambista Zeca Pagodinho, natural de Irajá (RJ), construiu o seu novo CD, intitulado “Uma Prova de Amor”, um lançamento da gravadora Universal. Produzido com a competência habitual por Rildo Hora e com um encarte exageradamente colorido, o álbum credencia Pagodinho para que dê seguimento a sua vitoriosa carreira, consagrando-o como um dos maiores vendedores de discos da atualidade. Com uma voz e uma postura totalmente voltadas para o espírito do samba, o artista foi descoberto em 1981 por Beth Carvalho no Bloco Cacique de Ramos, mas seu primeiro disco solo somente se fez concretizado em 1986. De lá para cá, ele engatou um sucesso após o outro (quem não sabe cantarolar, por exemplo, “Deixa a Vida Me Levar”, “Posso até Me Apaixonar” e “Verdade”?), tendo sido agraciado, durante esse período, com vários discos de ouro e de platina. Mestre do partido alto e do pagode, Pagodinho conquistou o coração do povo brasileiro, transformando-se em uma das poucas unanimidades nacionais. Seu cacife é tanto que se tornou disputada a sua participação em discos de colegas e sua presença em shows alheios é garantia de casa cheia. O recém-lançado CD (que vem dedicado explicitamente a Regina Casé, “gente da gente”) reúne em seu repertório um apanhado de ótimos sambas, a grande maioria deles inéditos, transformando-o, desde já, em um dos bons lançamentos deste ano. Com arranjos azeitados que contagiam de prima o ouvinte, o trabalho conta com as participações especiais de Jorge Ben Jor (na faixa “Ogum”, de Claudemir e Marquinhos PQD) e de João Donato (em mais uma regravação de “Sambou, Sambou”, parceria do pianista com o sergipano João Mello, que surge como faixa bônus). E a Velha Guarda da Portela, como já é costume nos trabalhos de Pagodinho, novamente se faz presente no medley que reúne canções de grandes sambistas: “Falsas Juras” (de Candeia e Casquinha), “Pecadora” (de Jair do Cavaco e Joãozinho da Pecadora) e “Manhã Brasileira” (de Manacéia). A deliciosa faixa-título (parceria de Nelson Rufino e Toninho Geraes) já começa a invadir as rádios de todo o país, mas há outros momentos bastante interessantes. Alguns deles ficam por conta de “Esta Melodia” (oportuna homenagem a Jamelão, parceria dele com Babu, canção que há pouco tempo recebeu delicado registro de Marisa Monte), de “Sincopado Ensaboado” (de Marcos Diniz, Barbeirinho do Jacarezinho e Luiz Grande, envolta por consistente naipe de metais), de “Terreiro em Acari” (de Alamir, Roberto Lopes e Nilo Penetra) e de “Então Leva” (de Bira e Enquanto o lado galhofeiro está representado por “Que Alegria” (de Roberto Lopes, Alamir e Zé Roberto) e especialmente “Normas da Casa” (de Zé Roberto), a face guerreira do brasileiro é destacada em “Êta Povo Pra Lutar” (de Brasil, Badá, Magaça e Bernine) e as delícias de uma vida comum são ressaltadas em “Sujeito Pacato” (de Serginho Meriti e Claudinho Guimarães). E embora no CD Pagodinho faça predominar o lado intérprete, ele apresenta também duas ótimas parcerias suas com Arlindo Cruz (“Se Eu Pedir Pra Você Cantar” e “Sempre Atrapalhado”). É a alegria verdadeira do mais famoso cervejeiro do Brasil que continua em ótima forma musical! N O V I D A D E S · Lili Araújo lança, pelo selo Oficina Records, seu CD de estréia. Intitulado “Arribação” e produzido pela própria cantora ao lado de Marcos Amorim, o álbum contém onze faixas que são, em sua maioria, assinadas por ela (com e sem parceiros). Com um timbre que lembra os de Fátima Guedes e Rosa Passos, Lili é uma intérprete segura e dona de um ritmo invejável, conforme se constata através dos vocais de “Todas Aquelas Coisas” (único momento instrumental do trabalho). Os destaques maiores ficam por conta da faixa-título e da animada “Na Gafieira”. · Preparando-se para os shows que darão origem ao seu primeiro DVD, Preta Gil já anuncia a presença de Ivete Sangalo (que está grávida de seu primeiro filho) como convidada especial do projeto. No repertório estará uma canção inédita de Ana Carolina em parceria com Antonio Villeroy (“Stereo”), além de novas leituras para “Gatas Extraordinárias” (de Caetano Veloso) e “Beleza Física” (de Lulu Santos). · O Bando de María é uma banda especializada em forró, mas não é um forró desses descartáveis que vêm, cada vez mais, pululando por aí. Composta por cinco rapazes paulistas (Fernando Silveira na percussão, João Della Vecchia no baixo, Thiago Mazzilli na zabumba, Jonas Virgulino na sanfona e Maú Santos na guitarra e violão) e uma moça, a vocalista María Paula (argentina de nascimento, que canta sem qualquer sotaque e possui uma bela voz), a banda faz um som muito legal, misturando influências de rock, blues, funk, jazz e samba. Na estrada há cerca de seis anos, a galera possui dois CD’s. “Tiro de Bodoque”, o de estréia, produzido por Tato (do Falamansa), foi muito bem aceito, chegando a ultrapassar a marca das dez mil unidades, número considerável para quem está fora da mídia e sobrevive basicamente das vendas do produto em shows. O disco mais recente, um trabalho independente que leva o nome do próprio grupo e conta com Alfredo Bello assinando a produção, é composto por treze faixas, nove delas da lavra dos próprios artistas. As outras são regravações de canções de André Abujamra (“Juvenar”, parceria com Carneiro Sândalo), Zé Maria (“Esse Coco é Meu”) e Gonzaguinha (“Erva Rasteira” e “Festa”, reunidas em medley). Dentre os destaques estão as faixas “Tempo ao Tempo”, “Baião Novo” e “Quando Chegar o Verão”, esta contando com a participação especial de Dominguinhos. Vale a pena conhecer! · Está chegando às lojas o CD contendo a trilha sonora da telenovela global “Negócio da China”. No eclético repertório de quatorze faixas, destacam-se as canções interpretadas por Mariana Baltar (“Samba da Zona”), Skank (“Ainda Gosto Dela”), Seu Jorge (“Burguesinha”), Roberta Sá (“Mais Alguém”), Toni Platão (“Moço Velho”), Gal Costa (“Simples Carinho”) e Ney Matogrosso (a música de abertura “Lig-Lig-Lig-Lé”). · A gravadora Biscoito Fino anuncia para o comecinho do próximo mês o lançamento do quarto CD da cantora baiana Virgínia Rodrigues (que recentemente se apresentou aqui em Aracaju, ao lado do conterrâneo Jota Velloso, em espetáculo marcado pela emoção). Virgínia, intérprete segura, de grande alcance vocal e timbre operístico, interpretará diversas canções do nosso cancioneiro, mas sem seguir nenhum conceito como fez nos trabalhos anteriores. · Chega, enfim, às lojas o DVD (não deverá ser lançado no formato CD) que registra o encontro de Maria Bethânia e Omara Portuondo nos palcos brasileiros. Gravado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, (MG), a apresentação contou, no repertório, com a execução de canções que não constam do CD de estúdio gravado anteriormente pelas duas, a exemplo de: “O Cio da Terra”, “Havana-me”, “Doce” e “Guantanamera”. RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Cantor: LENINE CD: “LABIATA”
Gravadora: UNIVERSAL
Cantor: ZECA PAGODINHO CD: “UMA PROVA DE AMOR”
Gravadora: UNIVERSAL
Luiz Carlos da Vila).
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