MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: IVETE SANGALO

CD: “AO VIVO NO MARACANÔ

Gravadora: UNIVERSAL

 

Uma das três cantoras que mais vende discos atualmente no Brasil (as outras duas são Ana Carolina e Marisa Monte), a baiana Ivete Sangalo parece ter ultimamente conquistado o poder de Midas: tudo o que ela toca, tem se transformado em ouro.

Aproveitando o auge da carreira da artista, a gravadora Universal realizou, em dezembro do ano passado, no estádio do Maracanã no Rio de Janeiro (RJ), um megashow que, devidamente registrado em áudio e vídeo, transformou-se no CD e DVD que ora aportam no mercado (comenta-se que foram investidos no projeto quase 3,5 milhões de reais).

Embora não se possa dizer que Ivete possua uma voz exatamente bonita (seu timbre não é dos mais maleáveis), não se pode negar a potência de sua garganta e muito menos o seu carisma e a sua energia. Nem tampouco a sua esperteza (e isso no sentido positivo da palavra), tanto que para a formação do repertório deixou de fora os seus sucessos mais batidos, até porque já tinham sido incluídos no seu CD ao vivo anterior (que integrou o time da MTV; o atual será veiculado pelo canal MultiShow). Assim, incluiu somente as canções que mais se destacaram de seu último CD de estúdio (as agitadas “Abalou” e “A Galera” e a melosa “Quando a Chuva Passar”). No mais, o disco segue a receita de músicas para agitar a galera entremeadas por alguns convidados especiais. Alguns deles fazem parte do universo da cantora, como Durval Lelys e Saulo (atual vocalista da banda Eva). Outros foram escolhidos por serem confessadamente admirados por Ivete. É o caso do MC Buchecha e de Samuel Rosa, o líder da banda mineira Skank. A surpresa maior fica por conta da presença do cantor romântico Alejandro Sanz com o seu “Corazón Partío”. O arranjo, que vai ganhando aos poucos insuspeitada camada percussiva, termina trazendo a música para o universo de Ivete (em mais um ponto para a danada!).

No campo das inéditas, há as razoáveis “Ilumina”, “Não Precisa Mudar” e “Dengo de Amor”. Dentre as regravações, duas canções de Tim Maia (“Não Quero Dinheiro, Só Quero Amar” e “Não Vou Ficar”) e outras duas de Jorge Ben Jor (“País Tropical” e “Taj Mahal”). Os melhores momentos, contudo, ficam com a eletrizante “Berimbau Metalizado”, com o conhecido galope “Bota Pra Ferver” e com a delicada “Deixo”, (esta já gravada antes por Márcia Freire e pela banda Cheiro de Amor e que recebe agora arranjo de Davi Moraes, ex de Ivete). Há, ainda, “Completo” (que foi tema de comercial de banco), faixa gravada em estúdio e incluída como bônus.

O público, extasiado, canta em massa com Ivete, o que comprova a expectativa de que deverá vender horrores. Nada mau, até porque se trata de seu melhor trabalho!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: ADRIANA DEFFENTI

CD: “ADRIANA DEFFENTI”

Gravadora: ORBEAT MUSIC

 

A gaúcha Adriana Deffenti chega ao seu segundo CD mostrando fôlego de gente grande. Em 2002, quando pôs no mercado o seu disco de estréia intitulado “Peças de Pessoas”, anunciava-se como uma grande promessa. Com um repertório eclético, fez bonito em um trabalho que teve como destaques as faixas “Quem Te Ensinou a Dançar?” (de Otávio Santos e Luciano Granja), “Balangandãs” (de Maurício Pereira) e “Pô, Amar é Importante!” (de Hermelino Neder). No novo álbum, comprova, de maneira incontestável, o talento inato para a arte de cantar.

A artista começou a se interessar pela música ainda criança, quando se apaixonou por flauta transversal. Ao longo dos anos, foi congregando experiências tanto na música erudita quanto na popular e hoje leciona aulas de técnica vocal e canto popular.

Dona de uma voz límpida, moldada através de anos de estudo e com um timbre bastante especial, Adriana alia sensibilidade e conhecimento técnico. Intuitiva, não se arrisca na arte de compor (como teimam em fazer erroneamente várias colegas suas), mas sabe se cercar de compositores inspirados. Assim, alguns dos nomes mais conhecidos do Rio Grande do Sul se fazem presentes no trabalho recém-lançado, como é o caso de Nei Lisboa (no samba-tango “Berlim, Bom Fim”, parceria com Hique Gomes) e de Raul Elwangler (na graciosa “Tem Tainha”, repleta de termos regionais).

O CD foi produzido pelo exímio violonista Marcelo Corsetti e as canções surgem emolduradas por arranjos acústicos mas nem por isso monocórdios. Sente-se o peso adequado quando necessário e há pulsações e silêncios que fazem de cada canção uma emoção à parte.

Das doze faixas escolhidas, cinco são cantadas em espanhol. Destas, as melhores são o bolero “Mírala” (de Edgardo Cardozo), a folclórica “El Tungue Le” (de Eduardo Mateo) e a meso-flamenca “Tabu” (de Gustavo Ceratti). Na parte restante (dedicada ao repertório nacional), Adriana mostra-se à vontade para revisitar pérolas de Luiz Tatit (a inteligente “Capitu”) e de Herbert Vianna (a sensível “Luca”). Os melhores momentos do disco, todavia, ficam por conta da bela poesia musicada de Otávio Santos (“É Assim Que Brinco”) e de mais uma elaborada criação de Vítor Ramil, um dos melhores compositores da atualidade (“Foi No Mês Que Vem”). CD obrigatório para quem tem bons ouvidos!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Na semana passada, a casa de shows Credicard Hall, em São Paulo, registrou um encontro memorável: Maria Rita e Mercedes Sosa subiram ao palco e cantaram várias músicas de seus últimos álbuns (“Segundo” e “Corazón Libre”, respectivamente). Quem viu, garante que foi de arrepiar!

 

·               Cauby Peixoto está pondo nas lojas um novo CD, no qual revisita o repertório de Baden Powell. No disco, o cantor é acompanhado pelo violão maravilhoso de João de Aquino e desfia canções atemporais como “Samba em Prelúdio”, “Pra Que Chorar?” e “Apelo”, ao lado das inéditas “Canção do Amor um Só” e “Mistério”. Ótima pedida!

 

·               Para preencher uma lacuna de seis anos ausente do mercado fonográfico, Geraldo Azevedo estará lançando, no finalzinho deste mês, o seu novo CD. Intitulado “O Brasil Existe Em Mim”, o álbum conta com as participações especiais de Elba Ramalho e Alceu Valença e ratifica o trabalho genuíno de um compositor que pisa simultaneamente o solo duro do sertão, as areias litorâneas e o asfalto das cidades. Embora recheado de canções inéditas, soa como um resumo de toda uma carreira devotada à arte e de uma história de vida dedicada à música.

 

·               “Erasmo Carlos Convida Volume 2” é o esperado álbum do Tremendão que estará chegando às lojas ainda este mês (o volume primeiro foi o disco lançado por Erasmo em 1980 e que contava com as participações do parceiro Roberto Carlos, além de Maria Bethânia, Rita Lee, Caetano Veloso e Gal Costa, entre outros). O novo trabalho também vem cheio de convidados famosos, como é o caso de Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Chico Buarque, Lulu Santos, Milton Nascimento e Zeca Pagodinho. A curiosidade maior, porém, fica por conta da faixa “Vou Ficar Nu para Chamar sua Atenção”. É que a mesma foi vetada pelo Rei (no auge do TOC) quando a cantora Simone tencionou incluí-la no repertório de seu CD “Seda Pura” (de 2001). A canção ressurge agora em dueto de Erasmo com a mesma Simone. É, nada melhor que um dia após o outro…

 

·               O cantor e compositor tocantinense Norberto Noleto está lançando o CD intitulado “O Mágico”. Trata-se de uma produção independente composta por doze faixas, algumas delas assinadas em parceria com Zeca Baleiro que também faz uma participação especial. Outra artista convidada é Rita Ribeiro. Um álbum para ser entendido aos poucos…

 

· A cantora Adryana BB realizou recentemente show no Centro Cultural Carioca (no Rio de Janeiro), o qual foi devidamente registrado e dará origem ao DVD intitulado “Pernambatuque”. O projeto conta com as participações especiais de Alceu Valença, Márcio Lomiranda e Paulo Rafael.

 

·               O próximo projeto da série “Luau MTV” será voltado para um novo trabalho ao vivo de Nando Reis. A gravação (feita na praia Vermelha do Norte, em Ubatuba – SP) vai se transformar em CD e DVD e contará com as participações de Samuel Rosa (vocalista da banda Skank), de Negra Li e do guitarrista Andreas Kisser.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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