M U S I Q U A L I D A D E CD: “ROCK‘N’ROLL” Arremessado às paradas de sucesso, nos anos sessenta, com a explosão da Jovem Guarda, movimento que o tinha à frente juntamente com o parceiro Roberto Carlos e a cantora Wanderléa, Erasmo Carlos é um dos artistas que, até hoje, mais arrecada em direitos autorais, muito – é claro – pelas dezenas de canções assinadas em parceria com o Rei e que se tornaram hits eternos enraizados no inconsciente coletivo. Talvez ofuscado pelo carisma e fama de Roberto, o público em geral nunca deu a Erasmo, conhecido no meio artístico como Tremendão, o seu real valor, muito embora ele também tenha desenvolvido uma carreira própria que sempre se sustentou por si mesma. Cantor mediano que (não dá para esconder) vem sentindo o peso do passar dos anos na voz, Erasmo acaba de pôr no mercado, através do selo Coqueiro Verde (de sua propriedade) um muito bem-vindo CD intitulado “Rock’n’Roll”. Produzido pelo competente Liminha, o novo disco traz uma dúzia de canções inéditas (nenhuma criada ao lado de Roberto – frise-se), as quais, diferentemente do que sugere o título da obra, não são todas voltadas para o rock. No entanto, o espírito irrequieto desse gênero musical norteia de maneira inquestionável a inteireza desse trabalho. Dá gosto de ouvir as novas canções, através das quais se comprova que Erasmo, aos recém-completados 68 anos, continua inventivo, ousado e atual em doses certas e soube construir um álbum exemplar, no qual podem ser destacados vários ótimos momentos. Há boas parcerias com gente que faz a nossa música atual, a exemplo de Nando Reis e Chico Amaral, e também com Nelson Motta, sujeito com grande trânsito no meio musical. No entanto, é fato que os momentos mais inspirados terminam recaindo sobre algumas das canções que Erasmo assina sozinho. É por aí que surgem a contagiante “Cover”, na qual o artista assume com orgulho (e até de forma corajosa e bem-humorada) ser uma cópia de si mesmo, e “Jogo Sujo” que traz um arranjo com influências do blues e do country. Também “Encontro no Escuro” se destaca pela letra que registra uma inusitada passagem mental com Leonardo Da Vinci quando Erasmo afirma que o que considera mesmo é o seu lado compositor. É claro que há momentos menores, seja por termos meramente criativos (a balada “Chuva Ácida”), seja por bisar temas já exaustivamente visitados (“Celebridade”, parceria com Liminha e Patrícia Travassos). Nada, porém, que ofusque o resultado final bastante satisfatório, até porque faixas como “A Guitarra é uma Mulher” (com solo impecável de Billy Brandão), “Um Beijo É um Tiro” e “Noturno Carioca” soam acima da média. E não há como deixar de destacar também a bonita, soturna e (quase) autobiográfica “Vozes da Solidão” e especialmente a inspirada “Olhar de Mangá” em que Erasmo ressalta o poder de sedução que exala dos olhos das mulheres, homenageadas através de nomes que vão de Capitu a Messalina, passando por Marisa Monte, Marília Pera e Sharon Stone – um achado! Já os vocais de Pedro Dias e Luiz Lopes (da banda Filhos de Judith) são um charme à parte na maioria das canções. Ao contrário de Roberto (que infelizmente parece ter se acomodado em berço esplêndido), Erasmo Carlos mostra que sua verve criativa continua ativa. O novo CD é uma prova cabal disso, motivo pelo qual merece ser conhecido por quem gosta da boa música brasileira. CD: “MULTISHOW AO VIVO” Nos anos oitenta, não tinha quem não ouvisse falar, quase que diariamente, de Rita Lee. Suas canções eram cantadas em todas as esquinas e sucessos instantâneos como “Mania de Você”, “Baila Comigo” e “Doce Vampiro”, por exemplo, eram exaustivamente executados pelas rádios. Era o apogeu da carreira de uma cantora que escolheu o rock para expressar suas ideias. No início, integrou o lendário grupo Mutantes que chegou a fazer parte do mítico disco que marcou a Tropicália. Inquieta, Rita não tardou em seguir carreira solo, começando a ser reconhecida como a ótima compositora que é através de criações como “Mamãe Natureza”, “Arrombou a Festa” e “Agora Só Falta Você”, entre outras. Foi, no entanto, quando encontrou o companheiro Roberto de Carvalho (músico que, à época, fazia parte da banda de Ney Matogrosso) que a artista teve a sua fase criativa mais fértil. As décadas seguintes consolidaram o talento de Rita, mas, envolta em problemas pessoais, nunca mais ela chegou, de fato, a gozar da unanimidade nacional de outrora. Depois de um projeto ao vivo lançado em 2004 e credenciado pela MTV (a emissora dos “descoladinhos”), talvez fosse mais interessante que Rita tivesse lançado um disco de inéditas. A verdade, no entanto, é que muitos poucos dos nossos ídolos da adolescência, hoje sexagenários, continuam a produzir com constância. De forma que, mais uma vez, Rita optou por um projeto revisionista, desta feita integrante da série “Multishow Ao Vivo”, o qual acaba de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, nos formatos CD e DVD. De uma breve análise desse produto, ficam claras pelo menos duas coisas: a primeira é que a obra da hoje chamada “titia do rock” resiste bravamente ao tempo e canções como “Flagra”, “Saúde” e “Mutante” ainda se mostram com força suficiente para arrebatar grandes plateias, inclusive a fatia que cabe a um público mais jovem. A segunda é que, de uns poucos anos para cá, a voz de Rita vem (infelizmente) se mostrando debilitada, de forma que fica difícil imaginar o resultado final do trabalho recém-lançado sem a ajuda luxuosa, nos vocais, das backings Débora Reis e Rita Kfouri. Aliás, a banda em si é muito boa. Nela, se destaca não apenas o eterno maridão Roberto como também o filho Beto Lee, um ótimo guitarrista que divide com Rita a autoria de “Se Manca”, disparada a melhor das duas canções inéditas apresentadas. A outra é a mediana “Insônia” (parceria com Roberto). O repertório escolhido pinça canções das várias fases da carreira de Rita: lá do comecinho aparece “Ovelha Negra” e da fase pós-estouro surgem “Erva Venenosa” e “Bwana” (agora, a mulher-objeto da letra ganha contornos políticos, transformando-se em “Obama”). Alguns dos melhores momentos ficam por conta do resgate de “Vingativa” (delicioso bolero de autoria de Wagner Ribeiro de Souza que fez parte do primeiro disco das Frenéticas) e da versão de “I Want to Hold Your Hand” (da dupla Lennon e McCartney que se transformou no escrachado baião “O Bode e a Cabra” pelas mãos de Renato Barros). E dois bons achados são a junção temática de “Cor de Rosa Choque” e “Todas as Mulheres do Mundo” e a homenagem à fase em que ela participou de festivais com a inserção de trechos de “Domingo no Parque”, “Panis Et Circensis”, “Batmacumba” e “Alegria, Alegria” numa apropriada releitura de “Baby” (de Caetano Veloso). Rita Lee já tem seu nome cravado na história da nossa música e merece, de fato, toda nossa reverência. Que venham, em breve, novas canções que nos façam deliciar com sua verve bem-humorada e criativa! Em tempo: “Mania de Você”, ausência no repertório oficial, é compensada pelo público que a canta no final. Emoção à flor da pele… N O V I D A D E S · Uma década após o lançamento de “Paladar”, sem (bom) CD de estreia, a cantora Daisy Cordeiro põe nas lojas, através da gravadora Lua Music, um novo trabalho: trata-se do álbum intitulado “Absoluto”, composto por doze faixas. Daisy é cantora de belo timbre, afinada e segura que, quando pega uma música bem acabada, consegue resultados fantásticos. Exemplo disso é a sua grande releitura para “Deixa Dílson, Vamos Nelson”, inspirado samba menos conhecido da lavra de Gonzaguinha. Os melhores momentos do disco ficam por conta de “Solar” (de Rafael Altério e Élio Camalle) e “Perdido no Meio das Ondas” (de Daniel Gonzaga). Merecem destaque também o arranjo de vozes e percussão corporal na faixa-título (outra de Altério, agora em parceria com Kaká) e a insuspeita versão eletrônica para “Trilhos Urbanos” (de Caetano Veloso). · O show que Elza Soares vem realizando, no qual divide o palco com o Farofa Carioca (intitulado “Os Compulsivos e a Perigosa”), poderá se transformar em CD e DVD gravados ao vivo. O repertório reúne algumas canções do segundo CD do grupo (“Tubo de Ensaio”), homenagens a Carmen Miranda e releituras de conhecidas canções interpretadas originalmente por Bezerra da Silva e Jorge Ben Jor. · O show “Tecnomacumba”, projeto de Rita Ribeiro que já resultou em (ótimo) CD, será gravado ao vivo no começo de julho para se transformar em DVD e contará com a participação mais que especial de Maria Bethânia. Muito massa! · Depois de um longo período afastado do mercado fonográfico, Carlos Walker volta à cena com o CD “Fio da Canção” no qual interpreta doze temas compostos em parceria com Lúcio Gregori arranjados pelo maestro Laércio de Freitas. Entre sambas, sambas-canções, choros e boleros, o álbum encontra o seu melhor momento em “Valsa da Onda que Volta”, que conta com a participação de Ná Ozzetti. Outros destaques são: “Depois da Tempestade”, “Mora na Questão” e “Joaninha Boa de Bossa”. · Já se encontra à venda o DVD “Legião Urbana e Paralamas Juntos” que contém imagens do encontro das duas bandas durante programa veiculado pela Rede Globo em 1988. A Legião executa sucessos como, por exemplo, “Será”, “Tédio” e “Que País É Este?”, enquanto os Paralamas tocam, dentre outras, as canções “Meu Erro”, “Dois Elefantes” e “Depois que o Ilê Passar”. As bandas se encontram em números como “Nada por Mim” (balada de Paula Toller e Herbert Vianna, gravada originalmente por Marina Lima) e o medley que reúne “Ainda É Cedo” com “Jumpin’ Jack Flash”, hit dos Rolling Stones. Um CD-bônus com o áudio do programa vem junto. · Superbem recebido pela crítica especializada, chegou recentemente às lojas o primeiro CD solo do cantor e compositor Rodrigo Campos, ex-integrante do grupo Urbanda. Intitulado “São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe”, o trabalho é composto por quatorze faixas, todas assinadas pelo próprio artista. A cantora Luísa Maita empresta sua voz delicada a quatro canções. Dentre os melhores momentos estão “Mangue e Fogo”, “Isac” e “Rua Três”. · Chegará em agosto às lojas o quarto CD da cantora Pitty que terá (novamente) a produção assinada por Rafael Ramos. · O trio carioca BossaCucaNova, composto pelo DJ Marcelinho da Lua, pelo baixista Márcio Menescal e pelo pianista Alexandre Moreira, acabou de lançar CD e DVD ao vivo que registram show realizado em outubro de 2007 no Canecão (RJ), o qual contou com as participações de Carlos Lyra, Wilson Simoninha, Ed Motta, Roberto Menescal e Marcos Valle. O produto em vídeo traz ainda o documentário “Na Base da Bossa – 50 Anos de Excelência”, dirigido por Jodele Larcher, que apresenta depoimentos, entre outros, de João Donato, Leny Andrade, Oscar Castro Neves e Wanda Sá. · Gravado no mês passado no Teatro Municipal de Nova Lima, cidade próxima de Belo Horizonte (MG), o primeiro DVD solo de Fernanda Takai (também vocalista da banda Pato Fu) chegará em breve ao mercado. O repertório foi centrado no seu CD “Onde Brilhem os Olhos Seus”, através do qual mergulhou no universo musical de Nara Leão, mas a cantora se permitiu algumas estripulias, como as inclusões das canções “Você Já me Esqueceu” (de Fred Jorge, gravada por Roberto Carlos em seu álbum de 1972) e “Cinco Discos” (parceria dela com o maridão John Ulhoa, originalmente registrada por Pedro Mariano em 2002). RUBENS LISBOA é compositor e cantorCantor: ERASMO CARLOS
Selo: COQUEIRO VERDE
Cantora: RITA LEE
Gravadora: BISCOITO FINO
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
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