MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: IVETE SANGALO

CD: “PODE ENTRAR”

Gravadora: UNIVERSAL

 

É realmente o que se pode chamar de balaio de gatos. Mas quer saber? Se o pretexto para vender milhares de cópias é levar alegria a esse povo brasileiro, que assim seja! O fato é que a baiana Ivete Sangalo parece ter herdado o toque de Midas: tudo o que ela toca se transforma em ouro…

Egressa da banda Eva, a cantora teve todo o apoio de marketing necessário quando lançou o seu primeiro disco solo recheado de praticuns e baticuns. No entanto – ironia do destino! – ele só engrenou mesmo nas execuções e nas vendas quando teve a calminha “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” (de Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle) incluída na trilha sonora da telenovela global “Uga Uga”. Daí em diante, foi um sucesso após o outro e Ivete, adepta de alardear sua vida (tanto a profissional como a pessoal) na mídia, viu-se transformada em um dos nomes mais comentados do nosso mundinho musical.

A verdade é que ela sabe muito bem como conquistar o seu público que, aliás, parece crescer a cada dia. Dona de uma excêntrica personalidade e extrovertida ao excesso, Ivete tem um real carisma e sabe animar as massas. Não bastasse sua beleza tipicamente brasileira, ainda possui uma voz potente, de boa extensão e timbre, a qual, quando bem trabalhada (como vem acontecendo nos últimos tempos) resulta bastante agradável.

Depois do estrondoso sucesso de seu álbum gravado ao vivo no Maracanã e de uma malfadada incursão pelo universo infantil ao lado de Saulo Fernandes, acaba de chegar às lojas, através da gravadora Universal, o CD “Pode Entrar”, cujo registro correlato em DVD (também já disponível) faz parte da programação do canal Multishow. Gravado no próprio estúdio que mandou construir em sua cobertura em Salvador (BA) e ao qual deu o nome de Bonitona, o novo trabalho surge recheado de convidados especiais – daí o título escolhido para o projeto.

E como boa anfitriã, Ivete faz questão de deixá-los à vontade e de elogiá-los à exaustão (deixando escapar sempre uma fatia que termina por amaciar o próprio ego). Não por acaso fazem parte do time presente desde a diva maior da nossa MPB, a conterrânea Maria Bethânia (responsável por um dos momentos mais agradáveis do trabalho, o ijexá/afoxé “Muito Obrigado Axé”, de Carlinhos Brown), até uma das bandas de forró eletrônico mais conhecidas nos dias de hoje, a Aviões do Forró (em “Sintonia e Desejo”, parceria de Ivete com Gigi, recheada de clichês, mas de forte apelo popularesco). Sobra espaço ainda para Lulu Santos (deslocado em “Brumário, dele próprio, canção originalmente bem bacana que, no novo registro, termina perdendo muito de sua força) e Marcelo Camelo (na sem-gracinha “Teus Olhos” que fez com que Ivete, para acompanhá-lo, tivesse que mergulhar num tom muito mais baixo que a sua região de costume). Além deles, duas participações afetivas também dão o ar da graça: o amigo de sempre Saulo Fernandes (insosso em “Vale Mais”, de Ivete e Ramon Cruz) e a imã Mônica San Galo (demonstrando talento na bonita “Completo”, de Ivete e Gigi).

Sem sombra de dúvida, o projeto será puxado pela já conhecida “Cadê Dalila” (presente de Brown), mas há outras canções com grandes chances radiofônicas, a exemplo de “Balakbak” (de Esquisito, Pururu, Binho Nunes e Sand Vital), “Eu Tô Vendo” (de Ivete, Gigi e Fabinho O’brian), “Na Base do Beijo” (de Alain Tavares e Rita Mendes) e “Não Me Faça Esperar” (de Fabinho O’brian e Gigi). E como não poderia de ser, dentre as dezessete canções que compõem o repertório, há as (já costumeiras) baladas românticas (quatro, no total). Delas, a mais bem acabada é “Quanto ao Tempo” (outra de Brown – presente nos vocais -, agora em parceria com Michael Sullivan, gravada recentemente também pelos Paralamas do Sucesso), mas “Agora Eu Já Sei” (de Ivete e Gigi) também mostra certo cacife, o que falta a “Meu Segredo” e “Meu Maior Presente” (ambas de Ramon Cruz). Completam o set list flertes com o rock (“Viver com Amor”, mais uma de Ramon Cruz) e com o zouk africano (“Oba Oba”, de Ivan Lawinscky, Ivan Brasil e Sinhô Maia).

Enfim, mais um CD de Ivete que deverá vender muito, feito para fãs dos mais diversos gostos musicais…

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: ZÉLIA DUNCAN

CD: “PELO SABOR DO GESTO”

Gravadora: UNIVERSAL

 

Zélia Duncan é uma artista que não se acomoda. E mais: não tem medo de ousar e correr riscos. Depois de vários sucessos engatados em parceria com Christiaan Oyens (“Não Vá Ainda”, “Enquanto Durmo”, “Imorais”, “Nos Lençois Desse Reggae” e “Verbos Sujeitos” estão entre eles), ela poderia ter continuado na onda do pop folk. Mas não! Desde o CD “Sortimento” (lançado em 2001), que a cantora vem se reinventando. Já flertou com a MPB mais tradicional em “Eu Me Transformo em Outras” (de 2004), arriscou-se no multifacetado “Pré Pós Tudo Bossa Band” (em 2005) e mergulhou de cabeça em dois projetos alternativos: como vocalista (provisória) da banda Os Mutantes e dividindo o palco em vitorioso show com a cantora Simone.

Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Universal, o seu mais novo CD. Intitulado “Pelo Sabor do Gesto” e composto por quatorze faixas, o trabalho tem a produção dividida entre John Ulhoa (integrante da banda Pato Fu) e Beto Vilares que assumiram, respectivamente, a parte “mais pop” e a “mais brasileira” do álbum. Aliás, indagada se essa mistura não ficaria esquisita, muito sábia Zélia respondeu: “Espero que fique! Não penso na unidade, penso na quebra. A unidade é minha voz.”

Decerto que movida por esse salutar entendimento, a artista abriu o leque de possibilidades, o que não impediu que infelizmente, em alguns momentos, o disco venha a soar um pouco monocórdio. Letrista inspirada, Zélia apresenta várias parcerias inéditas criadas (quase todas) ao lado de gente com quem ela nunca havia trabalhado antes. As melhores são, sem sombra de dúvida, a bela e inspirada “Todos os Verbos” (com Marcelo Jeneci) e a criativa e descontraída “Esporte Fino Confortável” (com Chico César, o qual, aliás, surge em impagável participação especial), esta com letra que alude à amizade, mas foge do ranço meloso que caracteriza canções que abordam o tema. Outra convidada é Fernanda Takai, presente em “Boas Razões” (versão feita por Zélia para música francesa de autoria de Bonnes Raisons e Alex Beaupain). Essa canção e a faixa-título, (outra de autoria de Beaupain) fazem parte da trilha sonora do filme “Les Chansons d’Amour”, lançado em 2007.

Outras parcerias são as medianas “Sinto Encanto” (com Moska), “Tudo Sobre Você” (com o já citado Ulhoa) e “Se um Dia me Quiseres” (com Zeca Baleiro – nesta, extraordinariamente, é a melodia que pertence a Zélia). Resultado melhor tiveram as duas parcerias com o emergente Edu Tedeschi (“Nem Tudo” e “Aberto’) e a ótima criação feita com Dante Ozzetti (“Se Eu Fosse”).

Há ainda uma inédita que traz a grife de Itamar Assumpção, compositor recorrente na discografia de Zélia (a bem-humorada “Duas Namoradas”, parceria com Alice Ruiz), e três regravações: “Telhados de Paris” (de Nei Lisboa), “Os Dentes Brancos do Mundo” (de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) e “Ambição” (pérola pouco conhecida de Rita Lee, resgatada em sua letra original), esta um outro grande momento.

Como intérprete, Zélia vem se superando a cada trabalho. É do tipo que se entrega a cada canção que escolhe, deliciando-se com cada sílaba cantada. Dona de voz grave e potente, é afinada ao extremo e se encontra atualmente em grande forma vocal. Ela sabe o que quer e vai fundo. Na maioria das vezes, acerta e o faz com beleza e galhardia ímpares. Seu novo CD, embora não seja exatamente uma obra-prima, tem tudo para cair no gosto popular. E decerto a inclusão de alguma faixa em trilha sonora de telenovela global ajudará (e muito) para que isso se concretize… Mais um ponto pra ela!

 

 

N O V I D A D E S

 

 

·                     Luiza Possi acaba de lançar “Bons Ventos Sempre Chegam”, seu novo CD produzido por ela e Max Viana. Não é tão bom quanto o seu disco anterior de estúdio (“Escuta”), o qual de fato marcou uma mudança na forma como a cantora vinha até então orientando sua carreira. O álbum se caracteriza pela delicadeza (refletida tanto nos arranjos concisos como na forma suave de interpretar) e traz, dentre as treze faixas do repertório, seis canções assinadas pela própria artista (cinco delas em parceria com Dudu Falcão). Dessas, as mais legais são “Minha Mãe”, “Paisagem” e “Eu Espero”. Luiza ganhou inéditas de Lula Queiroga, de Moska e de Samuel Rosa com Chico Amaral, todas elas medianas. Um ótimo momento fica por conta da regravação da bela “Cantar” (de Godofredo Guedes).

 

·                     Além de Mallu Magalhães, outra adolescente começa a despontar no mercado fonográfico nacional: trata-se da cantora Twiggy. Ela tem dezessete anos e está lançando o seu primeiro disco de rock. Do repertório se depreende uma tentativa de equilibrar inéditas com regravações. Há dose dupla tanto de Rita Lee (“Pense e Dance” e “Ovelha Negra”) como de Erasmo Carlos (“Olho do Furacão” e “Escorregadia”).

 

·                     América Brasil – O DVD”, já nas lojas, foi registrado em janeiro deste ano, quando da apresentação de Seu Jorge na casa Citibank Hall, em São Paulo (SP), e traz como destaque a canção “Pessoal, Particular”, inédita parceria do artista com Peu Meurray e Leonardo Reis. Há, ainda, a participação do cantor e compositor irlandês Damien Rice na canção “The Blower’s Daughter” (que se tornou hit no Brasil, em 2005, numa versão em português intitulada “É Isso Aí” e gravada com Ana Carolina para o CD e DVD “Ana & Jorge”).

 

·                     O DVD do show “Dentro do Mar Tem Rio” que condensou os repertórios dos discos “Mar de Sophia” e “Pirata”, lançados por Maria Bethânia em 2006, acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino. São 56 músicas e vários textos distribuídos em 36 faixas.

 

·                     Também acaba de chegar às lojas o segundo CD do septeto Galocantô intitulado “Lirismo do Rio”. Do repertório de quinze músicas, dez são da lavra do próprio grupo. As regravações são “Nosso Nome: Resistência” (de Sereno e Nei Lopes), “Arte do Povo (de Paulo Franco, Anderson Baiaco e Mingo), “Baile de Saci (Toninho Geraes e Toninho Nascimento), “O Som do Samba (Trio Calafrio) e “Meu Balaio, Meus Balaios (de Wilson Moreira).

 

·                     Tentando dar um upgrade em sua carreira, Wanessa Camargo está lançando o CD intitulado “Meu Momento” que conta com a insuspeita presença de Rita Lee na faixa “Coisas da Vida”, balada de autoria da roqueira. A canção “Fly” (com a participação do rapper norte-americano Ja Rule) já toca exaustivamente nas rádios.

 

·                     Após dez anos de recesso, o Trio Esperança (formado pelas irmãs Evinha, Marisa e Regina) promete para breve o lançamento de um novo disco. Gravado em Paris, o trabalho deverá chegar ao Brasil ainda este ano.

 

·                     O produtor Thiago Marques Luiz põe em breve nas lojas o CD duplo em homenagem ao centenário de Ataulfo Alves. Dentre os artistas presentes estão Virgínia Rosa, Elza Soares, Verônica Ferriani, Beth Carvalho, Lecy Brandão, Maria Alcina, Wilson Simoninha, Luiz Melodia, Silvia Machete, Rômulo Fróes, Anelis Assumpção, Roberta Sá, Ná Ozzetti, Fabiana Cozza e Edu Krieger.

 

·                     Daniela Mercury avisa que estará lançando no comecinho de agosto o seu novo e esperado CD. No repertório, além das regravações de “Tico-Tico no Fubá”, choro de Zequinha de Abreu, e “O que É que a Baiana Tem?”, samba de Dorival Caymmi, ambas popularizadas por Carmen Miranda, estarão músicas inéditas e autorais, a exemplo do reggae “Sol do Sul” (composto pela baiana em parceria com seu filho, Gabriel Póvoas) e do tema afro-pop “Oyá por Nós” (criado com Margareth Menezes).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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