Todo ano era assim. Passava semanas criticando esses natais importados em tudo, desde o Papai Noel, com aquela roupagem de frio, a neve caindo, a árvore imitando o pinheiro das neves, e nós, aqui, Já no começo de dezembro, as coisas começavam a se agitar dentro de casa, mulher e as crianças, iam de lá pra cá, fazendo listas, não esqueça os panetones! e o peru? qual o brinquedo para o menorzinho? Dúvidas cruéis. Olhava tudo calado, mas depois resolvia entrar na confusão “para botar ordem nas coisas porque vocês todos são uns incompetentes” e ia atrás das caixas guardando a árvore e enfeites, com luminárias, e armava a árvore na sala, com todo cuidado, colocava os brinquedos no chão, amarrava as bolas coloridas, o Noel de papelão, distribuía carões pra todo lado, exigia que o vinho fosse “daquela marca”! Foi ao shopping com a filha enfrentando uma multidão, para as últimas compras. Na véspera de Natal se vestia de branco e gostava de distribuir os presentes, emocionando-se com os sorrisos das crianças, ao abrir os pacotes. De noite comia peru e farofa e brindava gritando boas festas e feliz ano novo, abraçando a todos. Depois abraçava a mulher, com os olhos cheios de lágrimas e botava a mão no coração: “é…f…” A mulher tapava-lhe a boca com um beijo.
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