Nosso pé de maçaranduba

Com a questão ecológica na pauta, os aracajuanos passaram a discutir mais sobre o meio ambiente urbano e, especificamente, a arborização da cidade. O que todos (ou nem todos) querem é melhorar a qualidade de vida. Mas quando se discute isso, a impressão que fica é que Aracaju é uma cidade pouco arborizada. Não há um dado científico que comprove, mas ninguém ousa dizer que esta seja uma cidade arboral. E, pensando bem, se os manguezais não tivessem sido protegidos e passassem a reflorescer depois da Constituição Federal de 1988, pouco restaria de áreas verdes na cidade.

 

Há um tácito concurso nacional para se escolher qual a cidade mais arborizada do País. Quem é de Goiânia, Porto Alegre, Londrina, Maringá, Santos, Teresina, Manaus, Belém ou Salvador gosta de dizer que mora numa cidade bastante arborizada. Quem é de Curitiba a denomina como capital ecológica do Brasil. Os paraibanos vão mais longe e deram à gostosa João Pessoa o improvável título de cidade mais arborizada das Américas.

 

Consciente de suas limitações, o aracajuano não ousa a tanto. Sabe que por aqui ainda minguam umas mangueiras e cajueiros nas praças e avenidas. O que dirá de outras árvores tão ou mais nossas, que caíram em desuso e que dificilmente a maioria dos adolescentes de hoje saberia reconhecer.

 

Coloque-se um freqüentador de lan house diante de um pé de fruta-pão, de manjelão (ou jamelão, como queira), de jenipapo, de um oitizeiro, de um tamarineiro, de um abacateiro, de um sapotizeiro ou de uma jaqueira, que certamente terá dificuldade para saber que se trata de um ser muito mais importante do que uma simples figueira, esta que está na moda e se popularizou com o nome genérico de fícus (e que os shoppings adoram, de preferência bem podada). No máximo reconhecerá uma amendoeira ou goiabeira. E olhe lá, pois as goiabeiras também já começam a rarear, pelo menos na cidade.

 

Que dirá de um pé de maçaranduba! Quem viveu a infância e adolescência, anos 70 e 80, na região antes também reconhecida como Grageru, onde ficavam os sítios dos Curvelo e da Vila Militar, há de se lembrar de tudo isso, inclusive da frondosa maçarandubeira que havia naquela unidade do Exército. Difícil de ser vencida, por ser grande e de tronco longilíneo, o que a molecada podia fazer era torcer que caíssem as frutinhas vermelhas, doces e grudentas, pois que a árvore é cheia de látex.

 

Pertencente à família das sapotáceas, a mesma dos sapotis, as maçarandubas são árvores comuns da Mata Atlântica. Podendo alcançar mais de 40 metros, no entanto, até o porte majestoso as condenou na área urbana. Mas o atento jornalista Elton Coelho, que viveu aquela fase milagrosa de Aracaju, quando as casas tinham muros baixos e as janelas viviam abertas, enumera algumas maçarandubas ainda encontradas nos caminhos da cidade. Há uma, por exemplo, na avenida Heráclito Rollemberg, caminho do Aeroporto, próximo a um posto de gasolina. Há outra no fundo do Setransp, próximo à SMTT. No Castelo Branco, também no fundo de um posto de gasolina ainda há algumas, que agora estão sendo derrubadas para a construção de imóveis.

 

“Há tantos conjuntos e condomínios novos surgindo na cidade, bem que poderiam ser povoados com árvores frutíferas”, sugere o jornalista. Poucos prefeitos tiveram essa preocupação, coisa que não se pode negar a Almeida Lima, que plantou cajueiros e mangueiras nos canteiros das avenidas. São dessas árvores mestiças, híbridas, anãs, criadas pelo homem para logo produzir frutos, mas que pelo menos são árvores frutíferas. Jackson Barreto, quando prefeito, plantou coqueiros, principalmente na Tancredo Neves e na Heráclito Rollemberg. Antes, João Alves havia plantado algarobeiras e acácias.

 

Mas o que se propõe é a volta das fruteiras nativas e, de preferência, frondosas — sem querer desmerecer a nossa autêntica mangabeira. Num ano eleitoral, bem que a sugestão caberia no programa de algum candidato. Quem se habilita?

 

PLANO DIRETOR DE ARBORIZAÇÃO — Quando Aracaju ainda se debate para aprovar o seu Plano Diretor, outras capitais já avançaram na questão ambiental. Porto Alegre é a primeira capital do País a ter o Plano Diretor de Arborização Urbana, criado para proteger os fragmentos florestais, áreas verdes institucionais, unidades de conservação e áreas de preservação permanente, além das vias e praças públicas, quintais e jardins particulares.

 

A questão é mais séria do que pode parecer aos que acham que pensar o meio ambiente é pura frescura. O poder público municipal deve discutir o assunto de forma aberta e participativa, buscando soluções definitivas e voltadas à melhoria da qualidade de vida da população, uma vez que as árvores têm função fundamental para isso. A finalidade de arborização das vias públicas não é só estética. E encher a cidade de figueiras arbustivas não adianta. Dentre as inúmeras vantagens obtidas pela utilização de árvores de médio e grande porte nas cidades, destacadas pelos autores que conhecem do assunto, estão:

 

— Redução de temperatura pela cobertura de superfícies refletoras de calor — árvores de copa rala interceptam de 60% a 80% da radiação direta incidente e as de copa espessa, até 98% da radiação direta;

 

— Sombreamento e conservação do asfalto — cada metro quadrado de asfalto coberto por copas reduz os gastos públicos com manutenção em R$15,47/ano;

 

— Redução da velocidade das enxurradas pela retenção e liberação aos poucos da água das chuvas — algumas espécies de grande porte podem reter até 60% da água nas duas primeiras horas de uma chuva, liberando-a aos poucos;

 

— Ruas bem arborizadas podem reter até 70% da poeira em suspensão. Uma única fila de árvores pode reduzir essas partículas em 25%.

 

A conclusão é esta: arborizar é fundamental na melhoria da qualidade vida da cidade e o plantio de árvores é muito mais vantajoso do que o de arbustos. Se plantarmos as nossas velhas fruteiras, então…

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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